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Artigos-->Ética a Nicômaco 060302 -- 26/01/2005 - 14:57 (Rodrigo Moreira Martins) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Rodrigo M. Martins



Prof. Dr. Joaquim José de Moraes Neto

Sem. De Ética Filosófico-teológica



Ética a Nicômaco



Introdução





Temos alguns passos a dar em relação aos escritos sobre ética de Aristóteles. Pretendemos apreender o conceito e a vivência que este autor empreendeu ao sistematizar seu pensamento sobre o Bem Supremo e sua imobilidade. Ao mesmo tempo, o estagirita não deixou de fora a questão do movimento. A virtude e a justiça perpassam todo o processo que é seguido no texto. Como ele nos forneceu essas informações, isso será assunto para as próximas páginas.

Claro, não pretendemos realizar aqui um tratado ou comentário extenso e profundo sobre a obra deste grande pensador. Entretanto, apresentaremos as diretrizes para uma reflexão que se aproxima de nossa realidade e, com isso, construiremos mais algumas etapas de nosso desenvolvimento intelectual na área da filosofia e da ética.





LIVRO I



O Problema do Bem



A ética que Aristóteles apresenta é teleológica, busca no seu fim o bem. Esse bem é explicado como um agir durante a vida, sucessão de acertos através da virtude que no movimento justo que levam à substancia, categoria muito diferente da essência, que é apresentada como aquilo que é.

O bem que está em potencia no sujeito é justamente a realização da vida virtuosa, justa. Esta evolução é apresentada na forma de ato e potencia, que explica o principio de movimento que há no mundo. São princípios de Heráclito e Parmênides, onde o primeiro aponta para o movimento, e o segundo para aquilo que é imóvel. Aristóteles funde esses dois pensamentos para explicar o movimento e apresenta o Ato e a Potência, contudo, permanece na linha de Parmênides, pois apresenta o Motor Imóvel como sendo a essência de todo o bem.

Esse caminho que faz o homem chegar ao fim é a virtude. E é somente através da virtude que encontraremos a felicidade, que está presente na essência, que está potencialmente presente em todos.

Só conseguimos “escapar” do acidente (sucessão de erros), quando deliberamos racionalmente objetivando o bem final, a felicidade, ou seja, o objetivo do homem, que para Aristóteles compreende a busca constante do bem, do belo e do justo. A substância é diferente do acidente na medida em que este último se afasta cada vez mais da essência que é o próprio Deus, que é o próprio bem, ou o motor imóvel, aquilo que é.

O bem é totalmente conduzido pela razão, que busca na físis seu campo de atuação, colocando as emoções num outro tipo de campo. A busca do bem, com uma deliberação refletida, produz pelo meio da tecné e da práxis, uma aproximação do telos. Esta busca visa atingir a felicidade que se apresenta em potência na vida.

Para Aristóteles o discurso racional transforma os posicionamentos dos sujeitos, levando-os a uma conduta ética virtuosa, que busca com mais probabilidade de acerto a felicidade. Apresenta ao sujeito a autonomia de se saber presente no mundo enquanto substancia que busca a felicidade através da virtude. É a ética que tem como seu fim o bem, apresentado em substancia quando provém do movimento em ato e potência; e em essência quando procede diretamente do ser que é imóvel.

O bem leva a uma prática da virtude que vai gerar bons cidadãos, por isso a necessidade de um ensino pautado numa ética que benecifie toda a pólis.



O que é:



Felicidade?

- é a busca racional do bem, do belo e do justo; só podendo ser encontrada através da virtude que aponta para o telos/fim, que se apresenta na essência: Deus;

- é a busca pela essência da vida;





Justiça?

- esta noção está ligada ao belo;

- é o justo meio orientado pela razão que busca o bem da polis;



Virtude?

- é o caminho que vai fazer chegar ao fim;



Fim?

- noção ligada ao concreto apontando para o belo, bem e justo;





LIVRO V





Assunto Principal: Justiça/Injustiça



Propostas: 1) com que espécies de ações se relacionam; 2) que espécie de meio-termo é a justiça; 3) entre que extremos o ato justo é intermediário (cap. 1).



Definição: a) Justiça:



O justo é aquilo que detém o meio entre dois termos que se afastam ou se distanciam da proporção: porque a noção de proporcionalidade compreende a idéia de termo médio; e a justiça pressupõe a idéia de proporcionalidade.



Disposição de caráter que torna as pessoas propensas a fazer o que é justo, levando-as a agir justamente e desejar o que é justo;



b) Injustiça: disposição que as leva a agir injustamente e desejar o que é injusto (cap. 1).



Características:



a) Justiça: entre todas as virtudes, é o “bem de um outro” (cap. 1);

b) Diferença entre justiça e virtude: aquilo que, em relação ao nosso próximo, é justiça, como uma determinada disposição de caráter e em si mesmo, é virtude (cap. 1).



Proposta 1: Com que espécies de ações se relacionam:

1ª espécie: é a que se manifesta nas distribuições, que são divididas entre aqueles que têm parte na constituição;

2ª espécie: é aquela que desempenha um papel corretivo nas transações entre indivíduos (cap. 2).



Proposta 2: Que espécie de meio-termo é a justiça?



A justiça é meio-termo quando se relaciona com uma quantia ou quantidade intermediária, enquanto a injustiça se relaciona com os extremos. É aquilo em virtude do qual se diz que o homem justo pratica, por escolha própria, o que é justo, e que distribui, seja entre si mesmo e um outro, seja entre dois outros, não de maneira a dar mais do que convém a si mesmo e menos ao seu próximo, mas de maneira a dar o que é igual de acordo com a proporção; e da mesma forma quando se trata de distribuir entre duas outras pessoas (cap. 5).



Proposta 3: Entre que extremos o ato justo é intermediário?



É intermediário na medida em que é proporcional. Trata-se de uma proporção geométrica, onde o todo está para o todo assim como cada parte está para a parte correspondente (cap. 3).





LIVRO VI



“Não é possível ser bom, na acepção estrita do termo, sem sabedoria prática, nem possuir tal sabedoria sem virtude moral”. (Cap. VI, 13.30)



A ESSÊNCIA E A PRÁTICA – Sabedoria Filosófica E Sabedoria Prática –



No Livro VI, Aristóteles discute: a essência (das coisas que são por natureza) e a prática. Com uma espécie de correspondência a Alma do ser humano relaciona-se com estas coisas, tanto de princípio (essência) quanto práticas (produção e ação), com categorias especificas.



Ex.: Conhecimento Científico (essência) e sabedoria prática (política) – divergem por suas naturezas distintas.



Na visão de Aristóteles a Alma possui duas partes: Racional e Irracional. Dentro destas há: sensação, razão e desejo. A primeira não é princípio de ação, portanto de menor importância. Naquilo que a Alma, através de sua racionalidade exerce sua capacidade contemplativa, o resultado é a produção (que na sua essência é variável).



É interessante notar a diferenciação que ele faz de abstração e essência. Em 8,15 diz ser os objetos matemáticos da abstração, já os objetos da filosofia são de essência e portanto não podem ser conhecidos pela abstração, mas pela experiência.



Na relação de discernir as coisas o ser humano tem a capacidade “reta de discriminação do eqüitativo”. Capacidade inata que desenvolve pela experiência, pela sabedoria prática em busca das coisas boas, justas, nobres; que tornam um homem feliz. Isto só é possível por haver a sabedoria de essência (filosofia).





Graficamente:

VIRTUDE MORAL (essência) > SABEDORIA PRÁTICA > BEM





CONCLUSÃO





Após caminharmos pelas inferências do grande mestre, nos apoiamos na finalidade de nossa vivência na pólis: o bem.

A escolha da caminhada virtuosa apresenta a justiça nas situações como sua conseqüência, ou melhor, como ato de uma potência que já estava presente no ser substancial. Essa justiça que é alcançada por uma ética buscada no meio termo, no equilíbrio, faz com que se atinja o bem. A vida é beneficiada por essas atitudes corretas, por essa maneira de pensar com a razão buscando a felicidade, pois só com a razão se pode atingi-la.

A sabedoria prática provém da virtude moral que a moveu em direção ao bem: uma ética que atinge o animal político que é o ser humano, apresentando através deste o seu discurso racional, a saída para a conduta justa e, conseqüentemente, a felicidade tão almejada por aqueles que estão em meio às massas, se debatendo em meio à uma escuridão com os olhos vendados.

O belo, o justo e o bem arrancam do cidadão a incapacidade de andar inconsciente. Quando em contato com a essência em potência dentro de si mesmo, é inevitável uma transformação eqüitativa na vida daquele que a experimenta, fazendo assim um processo geométrico para que se atinja toda a polis, ou o meio de vivência do cidadão.

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