A catástrofe da Ásia mexe com nossos nervos e nossas emoções. Esta é sem dúvida uma boa hora para refletir sobre o que somos e o que não somos. A verdade é que somos tudo e não somos nada. Somos tudo perante o Criador de todas as coisas e não somos nada neste planetinha vagabundo, miúdo, como uma enorme rocha redonda, cheio dágua e com metais e rochas derretidas em seu interior. Nossa vida aqui é uma escola. Nem sempre somos bons alunos. Parece que a maioria não o é, uma vez que gostamos das farras, das fantasias, da bagunça, da pilhagem, do roubo, das guerras, do sensualismo, etc. etc. Se o sensualismo, por exemplo, é condenado até pelo Novo Testamento, nós, cristãos, aqui no Brasil, conseguimos torná-lo quase uma lei factível a todos. A ordem geral é o sensualismo. Existem até doutores, médicos especializados em darem receitas de uma boa relação sexual, com sexo oral, anal, orelhal e tudo mais. O detalhe é que somos o povo mais cristianizado do mundo. E pelo que estudamos no Evangelho não foi isso que Jesus Cristo ensinou. Chegamos a pensar que aquela Tsumani aconteceu no lugar errado.
Com relação a isso houve uma grita geral. Nas costas do Brasil não vai acontecer tal calamidade! A tsumani é coisa lá da Ásia! Locutores citaram até o nome de Deus: graças a Deus isso não acontece no Brasil! Lembrou-nos e muito o caso do café. Há uns quarenta ou cinqüenta anos atrás, falava-se de boca cheia que o café era bom para os nervos. Nossa mãe acreditou e quase morreu do coração. Nosso pai já foi faz tempo e bebia café adoidado. Ele morreu com 55 anos. Ora, o café não faz mal na hora que toma, nem na época que se toma. Porém, lá na frente vai aparecendo as seqüelas. Atualmente se faz uma propaganda exagerada do café. Sem dúvida os cafeicultores gostariam de retornar ao belos e bons tempos da grana escorrendo como água da fonte para seus enormes bolsos. A tsumani pode acontecer em qualquer lugar do mundo. Até no Brasil. Afinal as placas tectônicas estão em toda parte e o planeta se mexe tal e qual uma senhora incomodada. A vez do Brasil com certeza vai chegar.
Caso não aconteça em nosso país e tomara que nunca aconteça, não devemos esquecer de que o mar avança de qualquer maneira em toda nossa costa. De maneira mais acentuada nas praias nordestinas por serem niveladas ao mar. Outro dia vimos e ouvimos pela televisão um homem, pescador brasileiro de Pernambuco, apontando para o mar:
-Minha casa ficava lá no meio do mar, há pelo menos quarenta anos.
O mar está vindo devagarinho, ou em borbotões buscar o que é seu de direito, já que tudo estava debaixo dágua há milhões de anos. Este planeta nunca deveria se chamar Terra e sim Água. Todo e qualquer animal, mesmo nós, viemos da água. Tanto que o feto do animal humano de vinte dias e em formação possui no pescoço, como lembrança da vida aquática de nossos antepassados, quatro reentrâncias branquiais, as chamadas brânquias: aparelho respiratório dos peixes, composto de lâminas análogas aos dentes de um pente, as quais se dá também o nome de guelras. O tubarão tem essas brânquias bem expostas. Talvez a natureza, quando da formação do feto humano, prepara-o da maneira que o fazia há milhões de anos. Dá para perceber que a programação anterior prossegue até certa altura do crescimento do feto. Posteriormente volta à memória os dias atuais e as guelras se fecham para sempre, à medida que o feto cresce. Daí cresce o nariz e nossas mentiras. Mas, que o mar avança sobre a terra é ponto pacífico, uma vez que o planeta está se aquecendo e as calotas polares se derretendo. Conseqüência dos atos humanos sobre a crosta.
A tsumani na Ásia não é fato isolado. Em qualquer lugar do globo pode ocorrer a tragédia que abalou o planeta literalmente, tanto que conseguiu tirar alguns metros da órbita normal a nossa esfera espacial. E daqui pra frente? Ora, o futuro a Deus pertence. Porém, pelo que podemos deduzir não teremos um futuro tão brilhante como era de se esperar, carnalmente falando, posto que espiritualmente já são outros quinhentos.
Jeovah de Moura Nunes
poeta, escritor e jornalista.
(esta matéria foi publicada no jornal "Comércio do Jahu, no dia 14 de janeiro de 2005)
