CURANDEIRISMO
O curandeiro na verdade não cura nada.
Ou a pessoa se sente curada pela auto-sugestão (perigoso, pois se tira a dor, mas não a doença), ou a pessoa é "curada" de uma doença psicossomática que voltará mais tarde, pois atacou o efeito e não a causa (causas psicológicas). O necessário nestes casos é um tratamento psicológico/psiquiátrico.
Os curandeiros são inumeráveis. Em todas as épocas e civilizações tem-se sofrido com os curandeiros. Cai-se facilmente em um círculo vicioso: superstição, curandeirismo; e onde mais superstição, mais curandeirismo.
O mito dos poderes especiais dos curandeiros constitui uma herança universal de superstição, um arquétipo dia Jung, por atavismo. Está como que infiltrado na humanidade.
Encontram-se inscrições nas cavernas do homem primitivo referindo-se à arte mágica de curar. Vários hieróglifos egípcios aludem ao curandeiro mágico. Nos livros históricos do povo judeu, tanto do velho como do novo testamento, referem-se casos de "profissionais" do curandeirismo.
O recorde mundial em números de curandeiros, em números de clientes e em prestígio, lamentavelmente pertence ao Brasil.
O Brasil sempre foi uma terra fecunda para o curandeirismo. Entrou na história do País, Antonio “Conselheiro”, sem dúvida, um paranóico, que arrastou ingentes multidões atrás de si, principalmente pelos "poderes de cura" que se lhe atribuíam. Parte do País, fanatizada, chegou à convulsão social. O exército teve que intervir violentamente, terminando por matar Antonio “Conselheiro” e muito dos seus seguidores.
Magnetismo – Formaram-se ambientes absolutamente extravagantes e alienantes. Vamos citar a época do Mesmerismo: O ambiente de Paris era propício. Em Paris ainda se acreditava na teoria de Paracelso, segundo a qual, o corpo humano teria as características de um verdadeiro imã, sendo o pólo norte constituído pelos pés e o pólo sul pelos órgãos sexuais.
Durante dois séculos e meio, a partir de Paracelso, se empregava o imã com mirabolantes êxitos na "cura" de secreções oculares, do nariz ou dos ouvidos, em casos de fístulas e corrimentos; servindo o inofensivo imã, inclusive para repor hérnias e reparar fraturas, "curar" icterícias, remover anasarcas, etc.
O padre Maximiliano Hell, jesuíta e professor de astronomia acreditava no magnetismo universal, que ele dirigia por meio de imãs, "curando" toda classe de doenças.
Magnetismo animal – Influenciado pelos êxitos e teorias do Padre Hell, o Dr. Franz Anton Mesmer infestou a França e toda Europa, da crença em maravilhosos poderes curativos de um misterioso magnetismo animal.
Mesmer publicava sua tese doutoral em medicina sobre o magnetismo em 1766.
O abade Lenoble construiu imãs de grande poder que se vendiam amplamente em Paris, onde eram encontrados sob formas apropriados para pulsos, tórax, assim como pulseiras e cruzes magnéticas. Mesmer defenderia depois que não era preciso o imã metálico, bastaria à imposição das mãos sobre o doente para que este recebesse os fluídos magnéticos. O magnetismo animal poderia passar das mãos às árvores, varinhas, cubetas, a qualquer instrumento para transportar os fluídos magnéticos dos mesmeristas: dos curandeiros aos pacientes sugestionados.
Mesmer propagava que ele próprio era quem melhor manejava o magnetismo animal. Não podendo tratar individualmente a tão numerosa clientela, passou a "curar" por grupos, usando o seu famoso "baquet", uma espécie de tina de carvalho contendo limalha de ferro, vidro moído e outras substâncias. Também distribuía garrafas cheias de água magnetizada pela imposição das suas mãos.
As sessões mesméricas – Da tampa da tina, ou melhor, do gargalo de garrafas magnetizadas que estavam na tina saíam varinhas que os próprios doentes aplicavam nos lugares do seu sofrimento. A tina estava colocada no centro de uma grande sala, obscurecida por espessas cortinas.
Durante a sessão terapêutica se escutava música de piano ou harmônica com a qual se distribuíam melhor os eflúvios magnéticos, segundo se afirmava. Os doentes, dispostos em fila concêntrica em torno da tina, eram mantidos por meio de uma corda que lhes passava ao redor do corpo. Os pacientes ficavam de mãos dadas, segurando ao mesmo tempo as varinhas magnetizadas. Cada sessão comportava 130 pessoas, separados homens e mulheres em compartimentos contíguos. Havia várias sessões por dia.
Uns pacientes queixavam-se de calor, transpiravam, apresentavam alterações dos batimentos cardíacos e da respiração, imitando os estertores dos moribundos. Outros sentiam suas pálpebras pesadas. Fechavam os olhos e podiam cair em transe profundo. Primeiro, alguma pessoa mais sugestionável ou mais histérica, depois cada vez mais pessoas contagiadas apresentavam convulsões, não raro, violentas, acompanhadas de gritos, soluços, acessos de choro ou riso; soltando-se da "corrente", rodopiavam ou atiravam-se para trás a contorcer-se em convulsões espasmódicas, etc.
No meio dessa multidão agitada, Mesmer, vestido de seda lilás e auxiliado pelos seus assistentes, passeava pela sala, orientando, dirigindo... Fixando os olhos sobre os doentes, transmitia-lhes fluídos magnéticos que dizia escapar das pontas de seus dedos. Os pacientes sentiam dor ou prazer...
A verdadeira explicação – São inumeráveis e de variadíssimos tipos as "curas" realizadas pelo poder do psiquismo, surgido pela fé no charlatanesco e inexistente magnetismo das garrafas e da tina. Mesmer, embora muito combatido por vários cientistas e no fim, desacreditado, desterrado e abandonado, chegara a ter enorme prestígio entre o povo, a alta sociedade e inclusive, ante determinados médicos e perante o governo.
É claro que nada sentia quem não se sugestionava. Assim, pesquisadores sérios como Lavoisier, Bailly, Benjamim Franklin, etc. nada sentiram.
A teoria (e os efeitos) de passes e fluídos, com maiores ou menores modificações, ainda hoje é muito usada, principalmente no Brasil, por determinados curandeiros e ambientes supersticiosos.
Religião e Superstição – As superstições são idéias incorporadas do meio ambiente. Emocionalmente estão vinculadas à potente e primitiva tendência, instintiva ou ancestral, de reagir com pavor a tudo aquilo que possa Ter alguma relação com forças sobrenaturais. Tal tendência, claramente manifestada na criança e no homem primitivo, continua latente no adulto civilizado, estando prestes a aflorar em circunstâncias críticas, mesmo em pessoas de elevado nível cultural, se não são maduras e objetivas. Por outro lado, a superstição se associa ao temor relacionado com importantes necessidades e desejos, como o temor pela saúde, etc.
Estas idéias supervalorizadas de superstição tiranizam a inteligência e a vontade de milhões de pessoas, facilitando (dentro das próprias superstições de cada indivíduo) enormemente a indução hipnótica, a sugestão e o conseqüente afloramento do psiquismo inconsciente e subjetivo.
Freud, no seu materialismo apriorístico, sai pela tangente dizendo que o religioso constitui uma neurose obsessiva universal. Segundo a moderna Escola de Psicologia Profunda, com Victor Frankel e Igor Caruso, nunca se deve menosprezar a tendência humana ao transcendental, ao religioso, porque se exporia a personalidade humana a graves desequilíbrios. A religiosidade é um fator precípuo no equilíbrio humano. Na medida em que os conceitos religiosos de uma pessoa não são suficientemente adultos e objetivos, arraigados e vitais, são substituídos imediatamente pela superstição.
É por isso que a imensa maioria das superstições tem aspectos pseudo-religiosos; é um substituto desviado e perigoso da religiosidade. E pelo mesmo motivo de estarem substituindo algo que pertence à essência do homem, as superstições, na mesma medida que em cada pessoa substitua a religião, são emotivas, fanatizantes e alienantes.
É por isso que a quase totalidade dos curandeiros e seus propagandistas criam ao redor, um ambiente pseudo-religioso, evidentemente de diversíssimas modalidades e tendências.
Doenças imaginárias – É sumamente importante se ter em conta que, de acordo com pesquisas sérias, 36% das pessoas que procuram hospitais, clínicas ou consultórios médicos são portadores de "doenças" meramente imaginárias. Não digo psicógenas ou funcionais, senão meramente imaginárias. De 422 pessoas que nos últimos tempos apresentaram-se à procura de tratamento em um centro de cancerologia, apenas oito estavam afetadas de câncer. Uma grande porcentagem, porém, vivia angustiada e a sua depressão lhes fez imaginar que eram vítimas do câncer.
Evidentemente, que o médico em caso de doenças meramente imaginárias não encontra causas, nem sintomas físicos ou psíquicos, capazes de fornecer um quadro de doença. A doença simplesmente não existe; é imaginada pelo paciente. Que fazer em um caso destes? O médico dirá: "honestamente, você não tem nada" ou "é a sua imaginação que lhe faz sentir doente". Ora, o paciente sofre e para ele é inadmissível que não exista doença nenhuma. O paciente não conhece o poder de convencimento da imaginação.
A Histeria – Progredindo no nosso caminho, após havermos falado das doenças meramente imaginárias, devemos referir-nos às doenças histéricas.
Podemos definir a doença histérica como "doença por representação" ou "representação de uma doença". Imagina-se doente e faz "encenações" com seu corpo.
Tal doença se caracteriza precisamente porque aparece ou desaparece, de acordo com os desejos conscientes ou inconscientes do paciente. Daí o nome de "pitiatismo" proposto pelo Dr. Babinski para designar a histeria.
A doença histérica surge porque o paciente se acredita doente e, em conseqüência, sente-se doente. Nada do que faz, no fundo, está longe de uma simulação, que se leva a cabo com grande domínio de si mesmo. Diríamos que toda a vontade está concentrada em fingir a doença, não restando vontade para mais nada.
Entretanto, o histérico é sincero e sofre realmente. O seu anseio, por exemplo, de despertar admiração e compaixão ou de se auto-realizar, ou qualquer outro motivo psicológico (é erro muito difundido, mas certamente simplista e falso, reduzir o motivo da histeria ao desejo de proteção) empurra-o mais ou menos conscientemente, mais ou menos irresponsavelmente, a imitar a doença, ou o transe espírita ou a possessão demoníaca ou estigmas, ou êxtases, ou atitudes imaginadas (pois a histeria não se refere unicamente a doenças).
São possíveis todas as gradações desde a simulação plenamente consciente, até a mais inconsciente. O histérico é essencialmente, ao menos em relação à sua "especialidade" histérica, um auto-hipnotizável. Entre as pessoas com a mesma "especialidade", o contágio psíquico é praticamente inevitável.
A doença ou sintomas que imaginam, realizam-se. Esta participação orgânica ou funcional como parte integrante do pensamento consciente ou inconsciente, chama-se idioplasia, isto é, a idéia plasmada no organismo.
Doenças e Moda – As doenças histéricas estão de acordo, muitas vezes, com a sintomatologia da doença real, que se pretende imitar, como também poderão ser de sintomatologia completamente diferente, ou apresentar "sintomas" de uma enfermidade realmente existente. Neste caso, os sintomas serão os que a imaginação popular lhes tenha atribuído. Pelo mesmo motivo, as doenças ou sintomatologia histérica dependem da moda.
No fim do século passado, quando se começava a estudar a histeria, ainda estavam na moda os "stigmata diaboli", ou marcas da possessão demoníaca, como últimos estertores da mentalidade medieval da bruxaria. Ainda se acreditava que o demônio marcava suas vítimas com zonas de anestesia e que provocava crises convulsivas com arco de círculo. Milhares de pacientes apresentavam essa sintomatologia.
No famoso hospital de Salpetriere, o Dr. Charcot e seus colaboradores consideravam os "stigmata diaboli" e as convulsões como características de "grande histeria".
Depois de demorados estudos e experiências, o Dr. Berheim não titubeou em afirmar que se tratava de uma histeria cultivada: o médico encontrava no paciente aqueles mesmos sintomas que esperava encontrar. Só com isso, provocava-os no histérico. Hoje, na maioria dos países, tem-se perdido o conceito de possessão diabólica em grandes áreas da população. E de fato, desapareceram desses países as outrora tão abundantes "possessões diabólicas". Nesses países, a idioplasia manifesta-se em doenças de acordo coma "moda": paralisias, espasmos, atrofias musculares, tiques, tremores, coreas, afonia, tosse disneica, crises asmáticas, náuseas, vômitos e em geral, as mais diversas doenças do aparelho digestivo; dores precordiais e taquicardias, asfixias, suores, urticária, edemas, erupções, estigmas, etc.
No Brasil, a "possessão demoníaca" tem sido substituída pela "possessão de espíritos e entidades" (mas também aumentam a possessão demoníaca em certas seitas). Estão na moda os transes convulsivos, gritos, rodopiar sobre um só pé, olhos esbugalhados, tremedeira, insultos, falar imitando entidades ou espíritos, fumar cachimbo, beber pinga, etc.; terminando todo o teatro com um “deixar-se cair no chão, no mais completo relax” (evidentemente que se abusou do esforço, também o histérico precisa descansar).
Curandeiros diplomados – Compreender-se-á que devem ser catalogados entre os curandeiros, também aqueles portadores de título universitário de medicina que, estando imbuídos de idéias supersticiosas, na prática esquecem seus conhecimentos médicos para agirem como vulgares e irresponsáveis. Lamentavelmente, em um país como o Brasil, inundado de superstição, são muitos os médicos que na realidade "queimaram" seu diploma e devem ser considerados e processados legalmente como curandeiros.
A doença da "cura" – Mas, na realidade, mesmo quando "curam" (por sugestão, uma doença também sugestionada), os curandeiros e seus propagandistas merecem o apelativo de "criminosos inconscientes". O descontrole da imaginação e a histeria são causados em grandíssima parte pelo ambiente em que se mexem essas pessoas psiquicamente débeis. Os supersticiosos, vivendo um mundo de fantasia, perdem toda autodeterminação e senso crítico. Ademais, destituídos de senso objetivo, deixam-se levar pela sua imaginação; e a emotividade e a sugestionabilidade lhes fazem imitar as doenças. Doente imaginário ou histérico, "curado" do que realmente não padecia ou simplesmente fingia (inconscientemente), aprofunda-se ainda mais nas redes da imaginação e fingimento, sendo posteriormente ainda com mais facilidade, vítima de doenças imaginárias e histéricas...
É um círculo vicioso, verdadeira doença do ambiente em que vivem milhões de pessoas. Responsáveis principais são os curandeiros (e seus propagandistas) que na sua ignorância ainda se vangloriam de seus êxitos terapêuticos.
Na cura psíquica, o médico bem formado saberá servir-se dos recursos psicológicos adequados, na justa medida, sem incursões no perigoso campo da imaginação e da histeria alienante.
Normal e histérico – Notemos que não há propriamente falando, pessoas histéricas, mas atitudes, fatos, sintomas, doenças histéricas. A pessoa mais normal por outros aspectos, pode ser vítima (ou agente) de uma doença histérica. O ambiente em que se vivem, as idéias que se abraça principalmente se é emotiva, são de suma importância. O supersticioso é, ou pode ser em outros aspectos, a pessoa mais normal do mundo, mas acredita no feitiço. Nesse aspecto é um candidato à histeria. Nesse tema (feitiço), o supersticioso não reage com senso crítico, objetivo. Mais ou menos conscientemente simula estar "enfeitiçado" e com seu corpo fabula (fantasia) toda a sintomatologia que ele acha própria do enfeitiçado.
O simples perguntar pelos sintomas, será capaz de ocasioná-los.
Doenças orgânicas de origem psíquica – É claro e demonstrado que uma doença que parece orgânica, mas que na realidade é de origem psíquica (psicógena), pode curar-se psiquicamente. Se o problema emocional causador da doença é sublimado, contornado, superado, desviado, transferido, etc.; podem desaparecer as reações orgânicas específicas que originou.
Perante uma doença psicógena, o curandeiro pode Ter um êxito que, embora na análise global seja pernicioso, na aparência externa e na análise simplista é considerado sensacional.
Paralíticos andam – Um paralítico de ambas as pernas. Não se encontrava causa orgânica que justificasse a paralisia. Durante um mês se lhe inculcou a idéia de que em determinado dia, no momento em que o relógio diante dele badalasse as três da tarde, ele se levantaria.
Mas, horas antes ao momento designado, o homem esperava. Seu olhar estava fixo no relógio e o seu corpo era sacudido por ligeiros estremecimentos. De repente, o som do relógio! O paralítico levantou-se e começou a caminhar pela habitação.
Suas pernas, atrofiadas por uma paralisia de quatro anos, não o mantiveram mais do que uns instantes, porém, foi o suficiente para ele compreender que podia caminhar e, pouco tempo depois, fortalecidos seus músculos pelo exercício de hábeis massagens, as pernas recuperaram o vigor normal.
Em determinadas ocasiões é suficiente uma simulação de incêndio em uma sala de hospital e um "salve-se quem puder" proferido pelos médicos e enfermeiros correndo precipitadamente; para devolver o movimento a muitos paralíticos, bruscamente impelidos pela idéia de correr também eles, a fim de livrar-se do perigo.
Tem-se visto exemplos parecidos nos bombardeios. Pessoas paralisadas ou com enormes dificuldades de caminhar, desceram tão rapidamente aos refúgios, que elas mesmas se surpreenderam ao ver-se lá.
Hoje, a ciência médica especializada reconhece amplamente que inumeráveis doenças aparentemente orgânicas, podem ser muitas vezes de origem psíquica.
Lista interminável – É impossível fazer a lista completa das doenças que são ou podem ser psicossomáticas, isto é, de origem psíquica com conseqüências orgânicas. A lista seria quase interminável.
Além das úlceras, são frequentemente psicógenos os vômitos, falsas peritonites e sintomas de apendicite, colites, insuficiência hepática, falta de apetite (anorexia), ar no estômago (aerofagia ou aerogastria), distensão do abdome por gases produzidos nos intestino (meteorismo), constipação com espasmo ano-retal, etc.
Temos apresentado exemplos e experiências com referência às verrugas, eczemas, urticária e, inclusive, tumores nos seios. Convém ainda incluir toda classe de edemas ou tumefações, vermelhidões, inclusive escamosas (psoríase), furunculose, estigmas, etc.
Falsas causas orgânicas – Embora o exame somático e as análises clínicas frequentemente não mostrem a menor alteração nos órgãos (sua integridade pode ser absoluta), o que faz confusão no diagnóstico e tratamento, muitas vezes, os exames de laboratório confirmam os sintomas orgânicos das doenças que citamos (e de outras muitas que poderíamos citar). Revelam, por exemplo, certas anomalias da tensão arterial, secreções gástricas, assim como índices de desequilíbrio neurovegetativo e glandular, etc.; e que na realidade são também expressão de desajustes psíquicos. Não causas, mas efeito.
A hipertensão arterial, por exemplo, encontra-se frequentemente entre as pessoas fechadas sobre si mesmas. Com emoções refreadas (mesmo que ás vezes escape em estado de cólera), disfarçando seus sentimentos. O conflito latente entre os sentimentos reais e o papel que se desempenha cria um estado de tensão permanente que provoca uma secreção excessiva de adrenalina. Esta, por sua vez, provoca, por intermédio do sistema nervoso simpático, uma constrição dos músculos lisos das paredes arteriais, gerando-se a hiper-tensão.
Os mesmos efeitos, causas diferentes – Muitas outras explicações referentes ao modo pelas quais as emoções ou o psiquismo em geral "se disfarçam" como doenças orgânicas, têm sido esclarecidas pelas pesquisas do Dr. Selye e seus continuadores.
O Dr. Selye comprovou que o organismo tem uma maneira fixa de reagir a muitos estímulos diversos, e não de maneira específica. O stress tanto pode ser provocado por intoxicações, infecções, golpes, fadiga, etc., como por qualquer motivo psicológico. De muitas maneiras se desequilibra o funcionamento normal do sistema endócrino. Estimula-se, de maneira ainda insuficientemente conhecida, a glândula hipófise; consequentemente se hipertrofiam e segregam excessivamente o córtex supra-renal, diminuindo paralelamente a atividade químico-linfática. A conseqüência é que o estômago não digere os alimentos que contém proteínas e diminui muito o aproveitamento dos alimentos ricos em açúcares; libera-se o fósforo e potássio intracelular. O paciente logo se sente débil, desanimado, esgotado.
Por outro lado, a falta de proteínas diminui a produção de anticorpos, levando o paciente a padecer reações alérgicas, formação de tumores inflamatórios, infecções de toda classe, perda de peso, etc.
É evidente que além das doenças antes citadas, psicossomáticas, isto é, de origem psíquica, mas com repercussão orgânica, devemos citar outras muitas doenças, frequentemente ainda com maior porcentagem psíquica: insônia ou pesadelos, sonambulismo, temores e fobias de toda espécie, estados morbosos, amnésia, enxaqueca; hábitos nervosos como tiques, crispações ou roer as unhas (onicofagia); fumar, comer ou beber excessivamente, irascibilidade, cleptomania e outros tipos de tendência anti-sociais.
Falsamente orgânicas, a maioria das doenças – O Dr. Allen Stoller afirmou recentemente que ao menos 50% dos doentes que procuram médicos não apresentam motivo orgânico capaz de explicar as perturbações de que se queixam. O Dr. Dale Groom indica a mesma porcentagem. Tal porcentagem com respeito ao número de doentes.
Com respeito ao número de doenças, os especialistas afirmam que 85% das doenças que até agora foram consideradas orgânicas, são na realidade, resultado direto do impacto sobre o corpo, de um pensamento carregado de afetividade (ou psicógenas, de modo geral). Tal afirmação pareceria fantástica se não estivesse fundamentada por dados clínicos irrefutáveis.
Não iremos discutir aqui o significado que se deve dar às doenças de origem psíquica: será meramente conseqüência do funcionamento cerebral e seu influxo no funcionamento das vísceras? Será, como pretendem os psicossomáticos da escola norte-americana, mera histeria, devendo-se aplicar à maior parte das doenças, o que conhecemos sobre histeria; ou as doenças são os modos de expressar-se do histérico, "a linguagem do corpo"? Ou, os doentes psicossomáticos serão, em maior ou menor grau, neuróticos, traduzindo-se no seu organismo seus complexos, seus conflitos, suas repressões, ou, simplesmente se trata só de pessoas que fatigaram excessivamente seu cérebro?
O fato é que existe um grandíssimo número de doentes e de doenças por influência do psiquismo sobre o organismo. E É SEMPRE GRAVE FOMENTAR O DESCONTROLE E INFLUXO DO PSIQUISMO, COMO FAZEM OS CURANDEIROS.
Texto publicado na Revista de Parapsicologia, números 3 e 5.
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Por Oscar González-Quevedo, S.J. – Professor, Doutor e Padre,
Diretor/Presidente do CLAP – Centro Latino-Americano de Parapsicologia,
“um dos centros parapsicológicos de maior prestígio a nível mundial”.
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Transcrito por Luiz Roberto Turatti,
do “BOLETIM DE PARAPSICOLOGIA N.º 4”,
elaborado por Carlos Orlando,
da OEP – Organização de Estudos Parapsicológicos.
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