Enquanto um fato positivo explodia na Câmara dos Deputados com a eleição para a presidência do deputado pernambucano pelo PP Severino Cavalcanti, por 300 votos contra 195 dos governistas, e que deve ter dado um sinal vermelho ao presidente Lula, de que ele não é tão popular nos meios políticos do próprio PT, aqui em nosso quintal jauense a água era e continua sendo o motivo maior de revolta da população. Com uma majoração extravagante, desarrazoada, que não respeitou em nada os índices inflacionários, o prefeito João Sanzovo Neto resolveu através de decreto aumentar o custo para a população da água em até mais de 100%. Uma medida que a priori não trouxe reações imediatas, tendo em vista as festas natalinas, apesar das notícias fornecidas por este jornal e pela rádio Piratininga.
Porém, quando as contas de água começaram a aparecer nos corredores e portões de nossas casas a reação foi de susto, para depois vir a revolta. Todos nós respeitamos nossa moeda e torcemos para que a inflação não retorne. E fazemos isto com muito sacrifício, sujeitando-se até a um desemprego que nos crucifica diariamente, ou a um emprego, cujo salário seja ínfimo. Os comerciantes em geral respeitam os preços justos e procuram até fazer promoções, levando muitas vezes à queda da inflação conforme índices oficiais aferidos rotineiramente. No entanto, os governos, em níveis federal, estadual e municipal vivem alheios a essa regra. Não têm vocação para sacrifícios, apesar de pedirem eternamente que nos sacrifiquemos. Parecem ciosos de que eles podem e devem sempre desobedecer às leis da economia. São os únicos e exclusivos responsáveis pelos índices inflacionários de certa maneira ativos e prontos para se elevarem. O governo de Jaú levou esse comportamento ao extremo. Será que por ser proprietário de uma rede de supermercados imagina o prefeito, que pode subir, sem consultar a Câmara Municipal, os valores de um produto como a água, essencial à população? Não acreditamos nisto, porque em sendo assim nenhum proprietário de supermercado poderá ser prefeito futuramente, no entender do povo, o qual marca a ferro e a fogo a administração de determinadas pessoas, que querem levar o nome de político, quando não sabem fazer a boa política. E a boa política hoje é respeitar decididamente as regras do jogo econômico, que está sendo jogado agora, evitando assim o mal maior que é senão, o retorno da inflação. Se os governos de todos os níveis não respeitarem – como não vêm sendo respeitado – não pode em momento algum solicitar que os comerciantes e produtores respeitem a regra de uma economia saudável, que foi a do Real. Basta medir o quanto as empresas estatais e todos os órgãos do governo que presta serviços à população têm majorado os seus preços.
A entrada da OAB na questão da água trouxe um alento e uma esperança maior de que o prefeito terá que retroceder, claro que em respeito ao que a Justiça pronunciará. Mas, a conclusão de que os motivos alegados pela Prefeitura são “políticos e não atendem aos anseios da população” pela OAB é a chave de toda essa panacéia municipal. Se a medida não atende aos anseios da população, atende ao cubo os anseios do prefeito, ou da política do prefeito. Ora, com tanta facilidade em resolver questões financeiras apenas aumentando os preços de determinados serviços e produtos, qualquer leigo governa. É sentar-se e assinar um decreto resolvendo a questão, semelhante ao comportamento do Lula em assinar Medidas Provisórias, como assinou recentemente a MP-232, “uma afronta à sociedade” no dizer de Isac Jorge Filho, numa matéria de 12.02.05, aqui no Comércio.
Foi em boa hora que a OAB abraçou essa causa popular, objetivando a restauração da justiça, que tanto pode estar com o prefeito, como no seio do povo. Isto é, somos contra o decreto do prefeito, mas nem por isto deixamos de compreender e aceitar que a imparcialidade dos tribunais deve prevalecer. Caso contrário estaríamos negando a própria democracia. Que o prefeito tenha a chance de defender essa teoria esdrúxula do aumento da água, assim como nós, consumidores, temos o direito de reclamar e exigir que a água não sofra o aumento absurdo. Com a palavra a Justiça. Quando? Não sabemos.
Jeovah de Moura Nunes
poeta, escritor e jornalista
(artigo enviado ao jornal "Comércio do Jahu" e não foi publicado)