993300>Além de Aschelminto e Njaim, desde que participo na Usina, assim de repente, desconheço se o desaparecimento físico da vida terá atingido mais Usineiros. Entre tantos, é natural que um ou outro se tenha infelizmente finado sem que se tenha aqui dado por isso. Há três anos e pico a esta parte, noto que alguns dos nomes, sobretudo entre os usuários mais idosos, deixaram de aparecer com seus escritos. Para não incorrer em desagradável preconceito, sequer me atrevo a referir ou a citar infaustas eventualidades.

Por exemplo, no meu caso, se meu passamento ocorresse, o Rui Ramos Maia ou o António Azevedo Maia - de Mindelo - decerto do facto dariam imediata notícia. Eles conhecem muitíssimo bem meu desígnio e propensão existencial. Ambos estão ao corrente da minha vida de fio a pavio, embora sejam muito mais jovens. Sabem sobretudo que o meu instinto aventureiro é de ir franca e livremente avante sem preconcebida malícia. Também, no presente momento, estão esclarecidos sobre o meu estado de espírito no que à morte concerne: estou-me de facto nas tintas para a inevitabilidade que em horizonte próximo se me depara. Talvez ao dealbar da próxima década eu parta definitivamente desta maravilha-horrorosa que é a vida.
Então, junto do meu coval, agrada-me pensar agora que apreciaria ter meus amigos, de vez enquando, não com flores ou velas, mas sim em aprazível convívio, entre umas bem plenas taças de bom e saboroso tinto, bem como umas bem entoadas cantigas. Será este inabitual desiderato possível?... Ah... Pois é, enquanto existerem Ruis, Rogérios & Cª., é mesmo muito provável que numa dada madrugada haja uma bem gisada invasão do cemitério de Mindelo. Creio que até os outros meus companheiros de eternidade se sentiriam bem melhor com uma festinha, ouvindo, pra terminar, um dos meus amigos recitar:
AMAR?!...
Amar... É ser pensamento
Doutro corpo à mesma hora...
Sentir-lhe a alma por dentro
Sentir-lhe a alma por fora...
Amar... É sentir agora
Todos os pontos vitais
De um corpo que foi embora
E não volta nunca mais...
Amar... É sentir os ais
E os golpes da mesma dor
Num corpo longe de mais
Que nos sufoca de amor...
Amar... É muito pior
Após a dor consumada
Porque amar... Sem ser amor
Não é nada... Não é nada !...
993300>Som = John Barry "Smile"
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