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Artigos-->Lições de Linguística-Língua escrita e Língua falada... -- 23/03/2005 - 15:54 (elvira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Quanto a mim, a língua escrita é aquela que é trabalhada, concebida de forma coesa e organizada, de modo a que o receptor consiga apreender a mensagem que à priori o emissor pretende transmitir. Digo à priori, pois na língua escrita, apesar de subjacente o receptor, há sempre a possibilidade de este se multiplicar, o que diversificará a estética da recepção, podendo, se eventualmente se fizer o feed-back, surgirem ideias também elas diversificadas sobre o assunto escrito.

Nela incluem-se textos dos três géneros: narrativo, dramático e poético, prevendo-se também o que apelido de sub-géneros, mas também textos não literários de carácter utilitário, (notícias, slogans, crónicas, diários, cartas...). A Língua escrita é intencional e pode ser mais ou menos subjectiva, temperada da mundividência do emissor. Ela é rigorosa de acordo com o fim a que se destina. Movimenta-se dentro de contextos. Os esquemas mentais pré-existem, pelo que a articulação entre os signos linguísticos tornam o texto mais ou menos rico. Pressupõe um labor, pode-se escrever, reescrever, alterar, suprimir, apagar, trocar, melhorar.Mesmo depois deste processo todo, podemos apelidá-la, como o refere Humberto Eco, de "preguiçosa", pois o receptor é que a vai trabalhar mais ao menos bem,reflectindo sobre a sua mensagem, acrescentando algo também. Habitualmente deve obedecer a uma norma para ser melhor entendida. Nesta incluo a frase”língua casa do ser”pois por mais esforço que o escrevente faça, implícita ou explicitamente, a sua essência e experiência condicionam a língua escrita. Esta é mais estática e mais exigente em termos de Morfologia, Sintaxe e Semântica. É sintética, pois o tempo do discurso não é igual ao tempo da acção, excepto no texto dramático onde se dá primazia ao diálogo, observando-se a equivalência de tempos.

Na língua escrita observam-se mais analepses, prolepses, elipses, resumos, paráfrases, o que a torna mais sintética também.

Em suma, o que não se deve descurar é a capacidade de adequar a língua escrita à situação de comunicação, pelo que se deve ter um grau de desenvolvimento cognitivo que permita ao sujeito prever situações ausentes e ainda ter um desenvolvimento da automatização do processo escrito, evitando o apelidado ruído ou o bloquear do processamento da informação. Neste contexto permito-me observar que é importante que o Receptor conheça o estilo do Emissor ou escolha o Emissor de acordo com a sua capacidade de processar informação.

Para além dos dois grandes níveis de língua que lhe estão subjacentes: Língua erudita e língua coloquial, os registos de língua são tão divergentes (registos jornalísticos, jurídicos, científicos, literários, epistolares) quanto as necessidades que o Homem tem de comunicar.

Finalmente posso acrescentar que a língua escrita só é aprendida depois que dominamos a língua falada. E ela não é uma simples transcrição do que falamos; está mais subordinada às normas gramaticais. Portanto requer mais atenção e conhecimento de quem fala. Além disso, a língua escrita é um registo, permanece ao longo do tempo, não tem o carácter efémero da língua falada.







A língua falada é a língua do imediato, económica, não sendo tão rica em termos de coesão, cedendo às pressas do quotidiano emergente. Nesta, o tempo do discurso é igual ao tempo da acção. Não é tão rigorosa, prevendo no entanto, a adequação do Emissor à tipologia do receptor para evitar o ruído no processamento da informação. Acompanha-a o tom, poder enfático, indicadores sintomáticos do tipo de frase que se constrói, quase similar ao pensamento. Ora um cérebro bem sedimentado, porque enriquecido, pode emitir frases melhores e tornar o discurso mais ou menos aprazível e compreensível. A língua falada é mais relaxada no sentido em que o Emissor pode abreviar lexemas, suprimindo as sílabas iniciais (tá, no lugar de está) ou utilizar expressões código sintéticas reconhecidas pelo receptor (ok no lugar de sim, por exemplo). A língua falada é dinâmica, funcional, actual, inovadora e provocadora (uso de calão, gíria). Ela também pode ser de imediato decodificada, se questionada pelo receptor, permitindo a este último esmiuçar a sua metalinguagem(prevendo a sua intenção...) de modo a não criar bloqueios. O pragmatismo linguístico acompanha a língua falada. Usa-se essencialmente o discurso directo ou o indirecto livre quando o sujeito da enunciação conta a outro sujeito determinado episódio, por exemplo. Por vezes, pelo artifício da língua, ironia, cinismo (interligação com a Psicolinguística) podemos condicionar o tipo de mensagem de modo a que o receptor não consiga muito bem decodificar a mensagem. Assim esta torna-se dúbia, obrigando à reflexão do receptor, o qual tenta captar a sua intenção. A língua falada parece mais objectiva, se clara e transparente, munindo-se da prototipicidade dos referentes, porém, ela torna-se subjectiva quando condicionada pela intenção do seu Emissor que poderá dirigir-se a determinados receptores ou fazer uso dela para extravasar a gratuitidade do discurso. Neste tipo de língua recorre-se bastante aos registos específicos, mediante o grupo a quem se dirige (calão e gíria -gíria dos ladrões, polícias, jornalistas …etc).A língua falada pode ser trivial, coloquial, erudita até, sempre de acordo com o objectivo a que se propõe, mas antecedida pelo processamento da informação imediata. A língua falada é mais natural, aprendemos a falar imitando o que ouvimos.

Há pelo menos dois níveis de língua falada: a culta ou padrão e a coloquial ou popular. A linguagem coloquial também aparece nas gírias, na linguagem familiar, na linguagem vulgar e nos regionalismos e nos dialectos.

Diferenças (proeminentes) existentes entre a língua escrita e a língua falada:

A Língua escrita:

• Palavra gráfica

• É mais objectiva.

• É possível esquecer o interlocutor.

• É mais sintética.

• A redundância é um recurso estilístico

• Comunicação unilateral.

• Ganha em permanência.

• Mais correcção na elaboração das frases.

• Evita a improvisação.

• Uso de letras, sinais de pontuação.

• É mais precisa e elaborada.

• Ausência de “cacoetes” linguísticos e vulgarismos.

• O contexto extralinguístico tem menos influência.



A Língua falada:

• Palavra sonora;

• Requer a presença dos interlocutores;

• Ganha em vivacidade;

• É espontânea e imediata;

• Uso de clichés, de frases feitas;

• É repetitiva e redundante;

• O contexto extralingüístico é importante (sociedade, família)

• A expressividade permite prescindir de certas regras;

• A informação é permeada de subjectividade e influenciada pela presença do interlocutor;

• Recorre especialmente a signos acústicos e extralinguísticos e a gestos (Voz, expressão, ritmo, som…realidade)

Actualmente, verifica-se que cada vez mais há textos onde há uma transcrição fidedigna da língua falada, tornando-os mais vivos e até verosímeis, diria, no sentido em que plasticizam a realidade concreta do quotidiano, onde o receptor se reconhece. Neste tipo de textos podemos verificar as diferenças regionais, ou os dialectos, isto é a riqueza linguística que diariamente é falada, partilhada, comunicada, a qual se circunscrevia a determinada área e acabava por “morrer” por ali. A transmissão desta diversidade, através do texto, torna a língua mais rica, é a referência da sua vivacidade e dinamismo. Apesar dos puristas da língua ainda defenderem a norma para o bem e saúde da mesma. Nesta defesa encerra um senão, na minha humilde opinião, o facto da língua não evoluir, não crescer naturalmente como qualquer falante ou escrevente, tudo em prol dos tempos que vivemos, logo, da simplificação. A Língua assim torna-se outra, não deixando de ser a mesma. Corroborando esta minha afirmação, ainda há dias recebi um comentário de um também escritor da Usina, sob o pseudónimo Chamado de Assós, a propósito de um texto que lá coloquei”Que grande lição, Voyeur!” que diz” Muito bom o seu Voyeur. Que extraordinário que nossas línguas, de mesma raiz tanto difiram no matiz. Como é gratificante aprender e apreender novidades linguarejares que, por acaso, são tão velhas quanto a Sé de Braga”( cidade onde vivo,o monumento a que se refere data do século XII).Deixo-vos com o comentário do meu professor de Gramática cognitiva, Professor Doutor Mário Vilela, autor de a “Gramática de Valências”O povo é que faz a língua”. Assim a uniformidade da língua torna-se impossível...

Elvira:)



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