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Artigos-->Eternamente teatro -- 28/03/2005 - 14:45 (Paulo Milhomens) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos




“Os trabalhos redobrados, e todos de uma vez, enfim, multiplicados seriam como singela e humilde oferta perante as homenagens de que se acha coberta esta mansão. Ademais: Às honrarias de antes, outras tantas estão recentes e brilhantes. De modo que aqui somos nós, na realidade, ermitões a orar por vossa majestade.”



Macbeth, cena VI, ato primeiro.





Existe demanda natural para produção artística no Brasil? Como somos vistos afinal? Nada que nos levem a sério, artistas não são palhaços ( a não ser que o espetáculo permita ), e palhaços não são vistos como artistas. Recentemente a Fundação Nacional de Artes ( FUNARTE ), colocou em praxe um projeto do Governo Federal entitulado “Caravana Funarte – circulação Brasil Central”, agregando os Estados da região Norte e Centro-Oeste, com o intento de promover o intercâmbio e circulação de espetáculos pelo interior desses Estados. Essa iniciativa, que tem origem na Lei Rounet – através da Lei de Incentivo à Cultura nacional, ainda é muito tímida frente aos reais anseios dos artistas deste país. Isso é um fato. Vamos analisar a cadeia evolutiva: saímos dos cursos de iniciação teatral como baratas tontas. Não sabemos o que vamos fazer, para onde vamos. Como produzir? Como manter um grupo teatral unido – já que o trabalho deste tipo é a única forma de se desenvolver enquanto ator – e gerar a pesquisa necessária? Como se manter no mercado? E a produção? É muito cara? Claro que é! Não basta procurar um produtor e dizer que possui uma idéia brilhante, precisa-se ler muito para escrever muito. Não se trata de vícios de uma arte pela arte, incapaz de sustentar-se e gerar renda. Independente do gênero artístico, produzir é a pedra no sapato dos jovens artistas ( como eu por exemplo! ) que buscam um lugar ao sol. Estive participando de uma reunião na Prefeitura de Palmas, com o núcleo de Artes Cênicas para discutir projetos emergenciais de fomento a grupos de dança e teatro. Já começaram mal. Uma pessoa de outra área assumiu a câmara neste setor, e claro, não tenho nada contra sua competência no cargo, mas o indivíduo não entende nada de produção teatral. Fazer política brazuca para gringo ver já está fora de moda, e iniciativas paternalistas só prejudicam o processo de desenvolvimento dos projetos em nosso país.



Porque refiro-me a Macbeth ? Não se trata de literatices, onde está o duelo? Macbeth ( o general escocês ) representa na sua conspiração, uma nova estrutura social. Não é o caso de Macduff, simbolizando os valores feudais. Macbeth é a burguesia que emerge na Europa no início da era moderna. As relações de poder entre o velho e o novo são vicerais e nada provam além do materialismo dialético de classes muito natural às mentalidades históricas. Nossos dirigentes administrativos ainda pensam como se estivessem em outro período. O exemplo que usei para a peça de Shakespeare é uma interpretação de Augusto Boal. O mercantilismo é o fim da arte? Mas infelizmente, no contexto brasileiro, as relações de desigualdade são mais evidentes e, consequentemente, piores na produção artística. Depois que participei daquela reunião, percebi que o novo governo petista palmense não está muito interessado em arte. Arte no Brasil nunca foi prioridade. Esse conceito é arcaico, está mudando, mas é desesperador. Olhem só esta situação: a caravana Funarte trouxe ao Tocantins a Cia. Teatral Mosaico, de Cuiabá ( MT ), para algumas apresentações no SESC local. Um trabalho belíssimo, três espetáculos de qualidade no repertório. Assisto a “Muito barulho por nada”, numa roupagem bem brasileira, e depois converso com Sandro Lucosa, diretor da cia. Mas não é só isso: atua, dirige, escreve, produz, e isso mesmo, guia o carro que transporta os atores pelo Brasil. Um artista polivalente, quanto mais versátil melhor. Até que ponto Lucosa fará tudo? Produzir, atuar e dirigir resolve o problema? Você acaba trabalhando tanto e não vê os resultados da sua arte como gostaria. Sem contar ainda que no Brasil o reconhecimento dessa profissão é estudo de causa. Nós atores sabemos o quanto é difícil viajar com nossos espetáculos e oferecê-los com solidez, conquistar a simpatia do público, que na sua maioria não vai a teatros ( ou melhor, casa de espetáculos ). Até mesmo na rua. Peças adaptáveis a espaços diversos, com verbas específicas de fomento dependem da demanda – sim, na rua, no bosque, na igreja, as pessoas também não percebem a riqueza desse ofício. Mas é uma arte desgraçada de boa, uma vez nessa roubada, você não consegue mais sair. Já tentei, mas não dá. Se tivéssemos uma estrutura econômica e social mais planejada, nosso teatro seria imprescindível. Porque ele já e maravilhoso, nossos atores são bons, fazem de tudo. Talvez por isso seja tão complicado desenvolver uma carreira. Infelizmente, no país colossal, existem poucos grupos e cias fixas desenvolvendo pesquisas. Trabalhos como os do Lume, de Campinas, Cia. Teatral Etc. e Tal, do Rio de Janeiro, Teatral Grupo de Risco, de Campo Grande e Teatro Mosaico de Cuiabá são como agulhas no palheiro. Se olhamos outros contextos, como a Europa e os EUA, a realidade é outra. Atores brasileiros profissionais que trabalham nessas regiões estão bem. Há alguns dias atrás, li uma reportagem sobre dois bailarinos brasileiros residentes em Londres. Lá, uma cia de dança de porte médio paga 14.800,00 libras, salário baixo para os padrões britânicos. Ser artista no Brasil é ser confundido com tanta coisa indesejada que trato essa situação como uma boa comédia. No Reino Unido nossos bailarinos são reis, pois despertam interesse por sua diversidade cultural. Aqui no Brasil, qual o interesse que despertamos nos empresários? Mesmo com uma lei federal de fomento às artes, os mecenas estão desconfiados. Deduzir o imposto de renda em projetos culturais não esclarece ao investidor a importância dessa política social. Há um processo mais importante por traz de tudo isso, coisa que sentimos na pele quando vamos fazer a captação dos recursos. Temos outra fagulha, geralmente os empresários perguntam: “Existe alguma lei onde eu possa me apoiar?”. Se na sua cidade ou estado ainda não existem leis regionais de incentivo, prepare-se para uma luta ainda maior. Sim, as grandes empresas privadas e mistas lançam seus editais, como os da Brasil Telecom e Petrobrás, sabem fazer mídia com seus recursos, mas tirá-los do cofre é uma caça ao tesouro. Dependendo da visão que estabelecemos, não é tão eficiente do ângulo econômico. O governo joga suas responsabilidades para a iniciativa privada, justamente por que todo o dinheiro investido nestes projetos baseia-se na coleta de impostos. Pagamos uma das taxas mais altas de impostos do planeta, e no entanto, apenas 1% do PIB nacional é destinado ao setor cultural. Se o dado que ofereço estiver errado, alguém me corrija. Esse quantitativo é distribuído nas regiões brasileiras por caráter de prioridade estratégica, ou seja, o eixo Rio-São Paulo ainda abarca uma gama maior de projetos estreados em todos os gêneros, isso cria mecanismos de exclusão entre as produções culturais, e o Brasil torna-se desconhecido de todos mais uma vez. Espetáculos que estrearem em Belém, Recife ou Manaus, sairão de suas localidades a duras penas. Isso também é um fato.



Lucosa está exausto. Precisa levantar cedo para pegar a estrada. Agradeçe os elogios, esforça-se para ficar, mas sabe que não vai dar. Os outros atores sorriem, mas aparentam um desgaste típico de longas temporadas. Fico triste porque gostaria que ficassem mais tempo. Desejo-lhes toda sorte que houver nesta vida. E aí termino com seu refrão que é logotipo: veja o teatro!



















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