No meu pequeno país de lés a lés, o passamento de João Paulo II, bem como suas adjacentes consequências, concita naturalmente, sob despreocupada serenidade, todas as atenções, embora se constate que o cidadão comum considera a morte do Papa como algo de alívio-divino para o sofrimento que doloriu seus derradeiros dias.
Através dos diversos orgãos da comunicação social, também há quem aproveite para protagonizar a estafada frase-luva para todos os mortos, no presuntivo anedótico de que se emite sapiente e erudita revelação. Ainda não li escrito ou ouvi dito que Karol Wojtyla, à luz da realidade terrena por onde perpassou, foi sem dúvida o mais exemplar dos humanos nos últimos 85 anos. Ouvi, quase, através da televisão, a um transeunte a quem o reporter estendeu o microfone: "A Igreja não merece a humilde grandiosidade do homem que acaba de morrer". Apre... Gostei.
Sim, quem bem avaliar e estiver ao corrente do heróico esforço que João Paulo II desenvolveu para pacificar raças e credos, não terá dificuldade em verificar que, muito mais do que religioso, o falecido Papa foi sobretudo e deveras um dos mais geniais cérebros políticos que serviu a humanidade com a possível eficácia ao seu alcance.
Que pena pois é que, dentre os mais de duzentos Chefes de Estado que amanhã estarão no seu funeral, não haja pelo menos uma dúzia deles com a envergadura humana do cidadão polaco Karol Joseph Wojtyla.
Até já... Inesquecível Irmão-de-todos.
António Torre da Guia
O Lusineiro |