Advogado (rábula), jornalista, escritor, poeta e, sobretudo era visionário, não daqueles que põem suas visões e ambições nas coisas materiais, mas dos puros, que desejam viver a vida no que tem de ser bem vivida, com toda dignidade, liberdade e amor. Homem dos que não olham para baixo, visam sempre as estrelas: Seu último poema, um soneto publicado logo depois da morte por um seu familiar, no “Diário do Povo” de 1º de abril (releve-se a data), dá uma prova incontestável do que digo. Tem o título de MENSAGEM NOTURNA. E é oferecido a Inezita. Transcrevo-o a seguir:
“Ouve, o’ noite de estrelas cintilantes / e rica de saudades, noite quente, / escuta o verso tão sentido, ardente, / d’amor infindo para dois amantes. // Recebe, o’ noite d’astros fulgurantes, / o viajor que vem d’andança ingente, / a palmilhar a via traduzente / d’amor infindo para dois amantes. // Guia-lhe os passos por entre a paisagem, / Ilumina-lhe, o’ noite, esta viagem / Com tuas luzes claras e brilhantes: // E que ele, andando pelo campo etéreo / veja as mil nuvens de negror cinéreo, / com amor infindo para dois amantes!”
Olímpio Vaz da Costa Neto, assim é seu nome todo, nasceu no dia 28 de maio de 1925 e faleceu agora, final de março do corrente ano, não deixando nenhum livro publicado ao que se sabe. Mas participou da “Antologia Poética Piauiense” de J. Miguel de Matos, e da “Antologia de Sonetos Piauienses”, de Félix Aires, respectivamente de 1973 e 1974, com sonetos e poemas diversos, além de ter escrito alguns livros que deixou inéditos, entre os quais “Pigoitas Bravias” (romance), saga de cassacos de alguma parte do Brasil onde esteve e trabalhou, sofreu e observou. Tomei conhecimento dessa sua atividade sua em 1967, quando eu, Hardi Filho e Herculano Moraes levávamos avante o movimento chamado “CLIP”, renovador das letras piauienses, nos anos sessenta e começo dos setenta. Naquela época, por uma questão que hoje já não interessa mais, estava preso no Quartel da Polícia Militar do Piauí e lá fizemos uma entrevista que figurou no nosso jornal “O CLIP”. Por esta e por causa de sua postura em favor da liberdade de expressão e da sua expressão poética e jornalística, consideramo-lo do nosso movimento “clipiano”, embora, na verdade não tenha dele participado oficialmente. Ou seja, assinando o nosso Estatuto.
Uma poesia sua citei. Outras, os leitores já sabem onde encontrar. O espaço não é próprio para a crítica literária, nem a estou fazendo. Prefiro passear pelo seu modo de ser e aparecer na sociedade dos homens. Quem não o viu andando pelas ruas de Teresina, sempre de cabeça erguida, normalmente de terno, barba e fumando seu cachimbo? Chegava a parecer uma daquelas personalidades clássicas das letras e da cultura, um Eça (ou um, dos seus personagens), um Ramalho Ortigão ou outro nobre de Portugal ou do nosso Império, dado o seu porte cavalheiresco impecável.
Poeta ou filósofo? Mesmo que o ainda não tivesse visto perguntaria. E se se respondesse uma coisa ou outra, não erraria. Olhar de visionário, de quem enxerga de longe as coisas maiores e mais elevadas e procura aquilo que acha que é o fim do homem: a glória infinita junto de Deus, que é todo Amor, todo Beleza. Na minha visão, era assim Olímpio Vaz da Costa Neto. Para nós terrestres, o desejo de que descanse em paz, pois era isto que buscava na vida.
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*Francisco Miguel de Moura, escritor, poeta, publica neste jornal às sextas-feiras.