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Artigos-->Tres poemas lisboetas de Jose Helder de Souza -- 01/05/2000 - 17:35 (Jose Helder de Souza) |
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NO RESTELO, O TEJO E O TEJO
Eu não sou eu nem sou o outro;
Sou qualquer coisa de intermédio
Pilar da ponte de tédio
Que vai de mim para o outro.
Mário de Sá Carneiro
Sentado numa pedra lisboeta , no Restelo,
Contemplo, vejo o que não viram
Camões e o sapiente velho:
naves, navetas e navios,a motor, a vela e a remo,
a navegar sob a ponte lancada - alta e longa -
faz pouco tempo , sobre a secularidade
e permanência do lento e nacarino Rio Tejo.
Cá, neste lado do rio, eu sou eu mesmo.
Se cruzo a ponte que o olho de Camões não viu,
serei ainda eu e não um outro, sem entermédio algum
entre minha angústia e meu nojo.
No ir e vir sobre o rio a carregar meu tédio,
vou acabar me consumindo. eu morto, pilar de mim mesmo,
ficará o tejo perenal a correr por sob a ponte,
diante do restelo e da pedra em que me sento,
o rio a fluir sereno embalando barcos e destinos,
como agora o vejo, como então o viu Camões,
como correrá depois, muito depois
de me ir morto e enjoado para o meu sepulcro.
Lisboa, numa tarde de abril, 1986 |
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