Adriano Moreira e José Hermano Saraiva, respectivamente com 83 e 86 anos de idade, mas ainda com excelente saúde, vigor e lucidez, constituem em 2005 uma enorme parte do muito pouco que resta de dignidade em Portugal. O que pensarão e em que conta se terão um ao outro? Que opinião assaz verdadeira - não enlouqueceram ainda para a divulgar - terão da actualidade política do país a quem se deram e devotaram integralmente? Ao considerá-los e sempre que neles penso, perpassa-me uma indizível emoção, espécie de inquebrantável e silencioso grito que me comove até às lágrimas.
Como gostaria de vê-los na televisão, lado a lado, a equacionarem sem peias "este-como-vai-indo-nossa-vida-em-português". Como apreciaria ouvir-lhes concisamente a opinião sobre António de Oliveira Salazar, o ilustre banido pelo povo que tanto amou e tão inteligentemente defendeu enquanto foi vivo. Antes que soçobrem e a injustiça histórica continue a castigar e a deprimir os portugueses. Daí, talvez surgisse deveras um renovado e impulsionante alento.
ADRIANO MOREIRA, professor, político, jurista e sociólogo, nasceu em Grijó de Vale Benfeito, Macedo de Cavaleiros, em 15 de Setembro de1922. Licenciado pelas Faculdades de Direito de Lisboa e de Madrid, concitou as atenções do mundo jurídico. quando, em 1946, apresentou a petição de habeas corpus, e, pouco depois, produziu teses sobre o Direito Corporativo. Foi professor na antiga Escola Superior Colonial em 1948, membro da Câmara Corporativa e da Junta Nacional de Educação, participante da delegação portuguesa na Organização das Nações Unidades. Director do Instituto Superior onde se formara, Salazar chamou-o, em 1960, ao lugar de Subsecretário de Estado da Administração Ultramarina. No ano seguinte, foi nomeado Ministro do Ultramar. Regressado ao ensino, preside em 1964 à Sociedade de Geografia de Lisboa. A seguir aos conflitos político-sociais de 1974 manteve uma atitude de lealdade e de prudência. Demitido da função pública em 1975, exilou-se no Brasil, onde foi professor contratado da Universidade Católica do Rio de Janeiro, ali fundando o Instituto de Relações Internacionais. Constituído em "reserva" nacional para muitos portugueses, voltou à política activa como Presidente do C.D.S. - Centro Democrático Social - que salvou de uma profunda crise institucional e económica, sendo eleito deputado por todas as legislaturas à Assembleia da República até 1995, da qual foi Vice-Presidente. Além de diversíssimas condecorações, é doutor honoris causa pelas Universidades de Baía, Brasília, Manaus, Rio de Janeiro e S. Paulo.
JOSÉ HERMANO SARAIVA, historiador e jurista, nascido em Leiria a 3 de Outubro de 1919. Licenciou-se em Direito em 1940, e em Histórico-Filosóficas em 1946 na Universidade de Lisboa.. Exerceu advocacia e magistério nos ensinos secundário e superior, tendo sido ainda professor no Instituto Superior de Ciências Sociais e Política Ultramarina e também na Faculdade de Letras de Lisboa. Foi ministro da Educação Nacional de 1968 a 1970 e embaixador de Portugal no Brasil de 1972 a 1974. É actualmente secretário-geral da Academia das Ciências de Lisboa. Granjeou grande audiência com programas televisivos de divulgação histórica, ao revelar grandes qualidades didácticas e invulgar poder de exímia comunicabilidade.