Duas matérias da revista VEJA de 20.4.2005, me chamaram a atenção nesta semana porque tratam justamente daquilo que persegue o homem moderno, deixando-o cada vez mais infeliz. A escritora Lia Luft elaborou uma reflexão sobre o assunto e aponta os mitos da mãe-mártir, do bom velhinho, do homem fortão, da esposa perfeita, da mulher boazinha (“minha mulher é uma santa”), da juventude como uma glória. A atriz Jane Fonda, em entrevista, acrescenta a esses mitos o que ela chama de fraudes da modernidade como a da perfeição e a do sucesso – os que todos indistintamente temos de perseguir e alcançar.
Por que ser sempre perfeito se a perfeição é apenas um ideal e assim sendo, como assim é, jamais passará de um ideal, e o sucesso é tão difícil de se conseguir e mais pesado ainda de se carregar? A perfeição e o sucesso tornam-se um inferno para quem os almeja ou alcança.
Será que os mitos da Antiguidade tiveram o peso que imaginamos, a julgar pelas obras clássicas ainda hoje sobreviventes?
Ou então a vida do homem, em algum tempo, chegou à felicidade completa, a da Idade do Ouro, por exemplo? É outro mito como os apontados aqui.
Com muita leitura, reflexão e com humildade, não deixando que desejos demais se acentuem, tirando um pouco da sabedoria de Buda, de Cristo e outros exemplos para a humanidade. E amando... Amar sem exigir, especialmente o descabível.
Mas a ocasião é propícia para que sejam feridos menores, os práticos ou assim ditos. Por exemplo: O de que uma foto vale mil palavras, é o mito da imagem em movimento criado pela televisão em seu próprio benefício. A imagem soberana. Já expliquei antes, nestas páginas, o que é imagem. Quem acompanha minhas crônicas lembrará. A imagem que a leitura e a escrita trazem, nos conduz, muito mais a forte, profunda e duradoura compreensão do ser, não se compare a outra qualquer que se possa querer ou imaginar. É mais extensa porque mais interna. Não grita, mas é.
Por último, enfrentemos os menos sérios mitos da era da televisão: “O brasileiro é muito bonzinho” ou agora “o melhor do Brasil são os brasileiros”.“O macho é o sexo mais forte”, um horror cientificamente. Sabe-se hoje que o homem vem da mulher, Eva gerou Adão e não o contrário. Deus é masculino e feminino e muito mais. Deus não é uma figura, uma imagem, muita menos a semelhança do homem. Se não, como ficariam os demais seres da criação?
E ainda: “Brasil, país do futuro, do futebol, do carnaval, et caterva”. Quantos neste país nunca dançaram o Carnaval, não torceram ainda por times de futebol? E quantos países hoje não são melhores que o Brasil na música, no futebol?
São mitos à beça.
É preciso estar atentos, não nos deixarmos levar por eles. A crítica, o bom senso, enfim, a sabedoria têm que funcionar, não apenas a sabedoria popular e a culta, mas todas.
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*Francisco Miguel de Moura, escritor, mora em Teresina.