Houve um tempo em que meu irmão fazia festas quando eu chegava na casa de minha mãe, onde ele morava e ainda mora de favor. Me recebia sorrindo e me oferecia do bom e do melhor. Na verdade, me oferecia aquilo que a sua insensibilidade grosseira lhe permitia considerar como sendo do bom e do melhor... Chegou até a matar bois para saudar o irmão pródigo que eu era.
O coitado sempre gaguejava em busca das palavras apropriadas para elogiar minhas loucuras. Para ele eu era o maior escritor do mundo. Ele dizia que só os gênios compreendiam minha literatura.
Ele me tratava como se eu fosse um Deus!
Mas a razão disso tudo não era um grande amor fraterno, como você pode estar pensando, mas sim o meu enorme saldo bancário e a possibilidade de eu lhe fazer um empréstimo. Ele ficava fascinado com o brilho dos meus carros novos. Seu interesse por mim era apenas comercial. Naquele tempo, há cinco anos mais ou menos, ele vibrava com a minha inconseqüência - essa mesma que hoje ele diz que é o meu maior defeito.
Entretanto, no fundo, meu maior defeito é ter um irmão como ele. Um irmão que só vai me respeitar de novo quando eu trocar o Vectra por um Audi. Ou quando eu voltar a morar numa cobertura com piscina, onde ele possa levar outra vez os filhos em férias.
Meu maior defeito é ter um irmão que só vê cifrões e não tem amor. E que em lugar do coração tem uma caixa registradora.