Em julho do ano passado, durante os jogos da Copa do Mundo, passei uns dias em Juazeiro, batendo perna.
Numa tarde chuvosa fui visitar o prefeito Joseph Bandeira, que não conhecia, e levamos um papo muito agradável.
O prefeito, simpático, foi especialmente amável comigo, excessivo mesmo em suas atenções.
Durante nossa entrevista eu lhe disse que Juazeiro tinha tudo para se transformar em mais um destino turístico da Bahia, a começar pela alegria, inteligência e hospitalidade de seu povo, e anotei uma série de outras atrações que poderiam ser exploradas.
De volta à Bahia, cheguei a mandar-lhe uma carta com algumas sugestões objetivas a propósito do projeto turístico.
Hoje, retomo o assunto com o objetivo de atrair para a idéia empresários da região, ou mesmo de outros lugares, que pensem grande e queiram investir para ganhar dinheiro.
Quero começar pela constatação de que, entre os ecossistemas brasileiros – selva amazônica, mata atlântica, cerrado, pantanal, pampa e caatinga – o nosso sertão é o menos aproveitado de todos e o único que não se organizou para a exploração turística.
Enquanto o sertão, suas gentes, sua cultura, histórias, seu folclore, sua música, costumes, suas tradições, as lendas são uma fonte de inspiração recorrente para a literatura, o cinema, o teatro, a música e até a dança, essa mesma caatinga, que é objeto de grande curiosidade e atração de brasileiros e estrangeiros não desperta o interesse da indústria do turismo.
É verdade que a rede hoteleira de Juazeiro-Petrolina é razoável, mas ela se destina principalmente à hospedagem de homens de negócio e pessoas ligadas a organizações correlatas.
Sei que somente o Exército mantém na região um curso de sobrevivência na caatinga para preparação de seus soldados.
De fato, enquanto turistas e estudiosos encontram boa infra-estrutura de serviços e hotelaria em todos os centros de regiões morfoclimáticas especiais inclusive, em alguns casos, com hotelaria de luxo, não há uma só pousada localizada dentro da caatinga, a exemplo do que se vê em fazendas do Pantanal e em copas de árvores ou batelões da Amazônia.
O turismo em Juazeiro, portanto, deve começar pela disponibilização de uma pousada construída próxima à cidade, na caatinga, junto a umbuzeiros, umburanas, faveleiros, xiquexiques, mandacarus e toda espécie de vegetação xerófila com suas cactáceas espinhentas, que são a característica de nossa árida e pouco explorada região.
A dez, doze quilômetros do centro da cidade é possível implantar uma pequena pousada com eletricidade e água, ar condicionado e piscina, que possa oferecer a turistas e pesquisadores instalações modestas, mas limpas, boa alimentação e programas especiais como caminhadas em trilhas para conhecer a fauna e flora, explorar grutas, locas e morros, para passeios a cavalo, a charrete ou em lombo de jegue e para catação de umbus, favelas, juás e ouricurís, nas épocas da colheita.
Esse tipo de experiência não exclui a possibilidade de o visitante também desfrutar de outros programas que se constituem atrações tão interessantes como essa.
A indústria turística da região deve contemplar a mais completa utilização de recursos do São Francisco, com passeios a bordo de antigo vapor do rio, excursões de lancha ou de barco, banhos nas ilhas, pescarias e principalmente uma passagem pela eclusa.
Alguém precisa explorar essas atividades de modo profissional.
Outra atração a ser oferecida aos turistas é a visita monitorada a projetos agrícolas da área, já tão divulgados no país, o que pode ser conseguido mediante articulação e convênio com os empresários da irrigação.
Uma cidade como a nossa, com grande tradição cultural e rica culinária, tem que explorar adequadamente esse patrimônio.
Infelizmente, as opções oferecidas nessas áreas são poucas e pobres e nem mesmo a cozinha sertaneja está bem representada.
Nesse sentido, além de restaurantes a peso, baratos, que proliferam pelo país, é preciso criar alternativas que valorizem os pratos da região – ensopados de bode e carneiro, galinha ao molho pardo, meninico, buchada, maxixada ao molho de nata, bode assado, paçoca, carne de sol, queijo de coalho e de cabra e tantas outras iguarias maravilhosas – sem deixar de lado, naturalmente, as tradicionais receitas à base de peixes, sobretudo o surubim e a piranha, e a comida árabe, privilégio dos conterrâneos cujos ancestrais vieram da Síria e do Líbano, e se entrelaçaram com as nossas famílias e são tão catingueiros quanto nós.
Além desse conjunto de iniciativas, que haverão de ensejar o aparecimento de outros serviços e atividades, todos que resultarão no aumento do emprego e da riqueza na região, a Prefeitura poderia estudar a criação de ações de impacto que colocassem nossa cidade no calendário anual de eventos, esportivos ou culturais, e na imprensa nacional.
Prova de natação para travessia do rio e um festival de música, como ocorre na Bahia de Todos os Santos e em Campos do Jordão, respectivamente, são exemplos que podem servir à promoção de nossa cidade.
Não se pode deixar de considerar que Petrolina, do outro lado do rio, faz parte do nosso roteiro turístico.
Hoje, as duas cidades são complementares uma da outra e juntas, com seu meio milhão de habitantes, formam o mais importante centro comercial, industrial e de serviços dos estados de Bahia e Pernambuco.
Esse projeto de turismo ecológico e de aventuras deveria merecer uma avaliação cuidadosa dos poderes públicos e da iniciativa privada, pois ele é absolutamente exeqüível.
Cabe ao empresariado fazer sua parte assumindo os riscos dos investimentos e da operação, enquanto o Governo do Estado e a Prefeitura devem estimular e apoiar as iniciativas do setor privado, disponibilizar a infra-estrutura necessária, sobretudo de energia, água e estradas, captar patrocínios e parcerias para suas iniciativas e participar do programa de divulgação.
E, para quem tem fé, pedir a ajuda de Nossa Senhora das Grotas!