Não há muita lógica, ou nenhuma lógica no fato de condenarmos excessivamente os criminosos – desde ladrões de galinhas aos ladrões de bancos e os atuais hackers – quando os exemplos maiores estão dentro da República. E quando dizemos República, estamos nos referindo aos três poderes. Como podemos condenar pessoas que roubam para sobreviver, ou mesmo melhorar o seu padrão de vida, quando uma quantidade enorme de indivíduos rouba flagrantemente dentro dos suntuosos palácios da República, pelo simples fato de fazerem parte do poder. Quem são essas autoridades que podem se tornar bandidas, sem que a lei os alcance? Sim, porque investigações, CPIs e outros mecanismos de apurações acabam sempre chegando a lugar nenhum. Eles, os políticos de mau caráter, continuam por lá, roubando-nos através de ativa corrupção, flagrada até pelas câmaras da televisão. É, pelo visto, um contra-senso condenar com severos castigos aquele que rouba para sobreviver cá embaixo e agitar bandeirinhas verde-amarelo aos ladrões do tesouro da República. Todos eles sem nenhuma punição exemplar. Sim, porque as punições para os políticos corruptos e ladrões sempre foram brandas, como se castigasse apenas com um olhar meio severo as crianças mimadas. E assim eles permanecem naquele status de roubar, receber propinas, ativando e desativando corrupções por séculos neste país de ninguém. E as investigações quase sempre param no meio do caminho. Enquanto isso, aquela mulher que roubou um remédio numa drogaria em São Paulo, com a finalidade de aliviar a febre de seu filho pequeno é presa, leva uns cascudos da polícia e quase foi linchada pela população, que não aprecia ladrões de pequenos furtos, mas, adora a ponto de venerá-los, cedendo seu voto sempre e sempre aos políticos corruptos e ladrões do erário público. Ou seja, se somos ladrões de galinha o povo fica com raiva. Porém, se roubamos grandes fortunas no governo, aí o povo aplaude. Como aplaude? Votando novamente nos mesmos políticos corruptos. Temos exemplos à-beça desse comportamento anômalo do povo brasileiro. A condenação dos atos insólitos praticados pelos políticos é apenas da boca para fora.
Tal comportamento vai deixando os bons políticos desanimados. Não voltam a disputar eleições e vão caindo num ostracismo que desarticula o caminho do bom senso político, porque evidentemente vão ficando apenas os maus. Estes recebem o apoio da malta de eleitores interesseiros em cargos com bons salários e usam a corrupção como um meio de manter essa gente de baixa condição moral, com relação aos anseios de um destino melhor para o país. O furto, a pilhagem e a corrupção fazem parte dessa gente, alem de ganhar sem nenhum constrangimento, altos salários por um trabalho quase sempre fictício. Dados recentes mostram que nos Estados Unidos o presidente da República tem em sua folha de pagamento apenas 2.000 pessoas e sempre procuram diminuir este número, tendo em vista a fiscalização do povo. No Brasil o número de pessoas pagas para permanecerem ao redor apenas da presidência, chega a 20.000. Este número, entretanto pode ser bem maior, posto que cada eleito que assume a presidência, naturalmente vai esconder muita gente em gabinetes e empregos espalhados pelo país todo.
Diante desse comportamento imoral, além das roubalheiras sem precedentes e cada vez aumentando mais, como se aos políticos fossem dado o direito de se apropriarem indebitamente do dinheiro público, nós cidadãos, vacinados contra esse vírus imoral, que empesteia os poderes da República, temos o direito de interpretar nossas instituições como quase ou totalmente falidas. Simplesmente não funcionam, ou funcionam muito mal, devendo ser urgentemente repensadas, renovadas e melhoradas a níveis mais dignos, copiando principalmente ou dos Estados Unidos, ou da Inglaterra, países onde as punições são absolutamente uma certeza e não uma utopia. Isto se realmente quisermos tornar sério o nosso país e não uma festa permanente de ladrões em toda parte. Tanto que já se iniciam as manifestações de outros países – a começar pela Argentina – quando a imprensa de lá noticia em letras garrafais, que “somente o mensalão disciplina os congressistas”. Lembrando a nosoutros que foi após a interrupção das propinas, que os deputados se revoltaram contra o executivo.
E falando deste poder, o presidente Lula parece ter derramado suas lágrimas de crocodilo ao ser informado do “mensalão”. O discurso dele na abertura do “IV Fórum Mundial Contra a Corrupção” foi apenas uma vitrine para os países do mundo. Não era um discurso brasileiro. Parecia mais o Bush falando. Se ele é o guardião das instituições por que demorou tanto para falar? Ou mesmo para as providências urgentes que não acontecem! Como ele é a cópia fiel de Fernando Henrique Cardoso, nada acontece a não ser a comemoração de uma economia festejada apenas pelos ricos, que são os maiores beneficiados da riqueza brasileira.
Com tanta imoralidade no poder desta carcomida República brasileira ficamos agora e doravante apostando em saber, não quem é mais honesto, mas sim, quem é mais desonesto, posto que os políticos sequer se importam em demonstrar ou não suas gulas pelo dinheiro do povo. Ou a República abraça definitivamente o bom senso de uma moral institucionalizada, ou vamos nos tornar apenas numa “República de corrupções e piratarias institucionalizadas”, semelhante àquelas que infestavam os mares das Caraíbas em séculos passados.