Essa reforma política é uma graça. Querem transferir para o bolso do contribuinte o gasto dos políticos nas campanhas eleitorais. Sete reais por eleitor e estamos conversados. Muito bom. Muito cômodo. A pequena verba de 873 milhões vai sair do bolso do povo idiota. Segundo os próprios é para não haver mais corrupção e ninguém roubar do governo. Para que não haja “compromisso” com os financiadores após a eleição. Segundo ainda a maldita proposta, não poderá haver um centavo a mais. Nem de pessoa jurídica, nem de pessoa física. A verba vai ser distribuída entre os partidos e estes prestarão conta de cada centavo a Justiça Eleitoral.
Doravante o povo vai votar no partido, não é mais no candidato. O partido apresentará uma lista de candidatos obedecendo ao critério de percentual de votos obtidos na ultima eleição. Em outras palavras voltarão para as câmaras os mesmos que compraram votos, que receberam dinheiro dos empreiteiros, que receberam mensalão, que enganaram com o market político e finalmente que usaram todo o tipo de picaretagem para ter a “expressiva votação”.
Em outras palavras, só sairão do poder quando morrerem. Isso é um golpe! Isso se chama cartel político. Eles se juntam, fazem a lei, decidem quem deve ficar, e o preço nós pagamos. Se o eleitor não gostar de nenhum partido? Se o eleitor gostar do partido, mas não gostar dos candidatos? Se o eleitor gostar do candidato, mas não confiar no partido? Para renovar vamos esperar que eles morram. Pior, vamos continuar vendo na televisão acusados de roubar falando em ética. Indiciados em processo criminal como ministro. Acusados de corrupção falando em honra. Processados por peculato, lavagem de dinheiro e outras bandalheiras com dedo em riste, acusando os “colegas” e lavando a sua “honra” no horário nobre de televisão. Onde é que nós estamos “companheiro”? Isso é Brasil novo? O que é que os donos do poder estão pensando? Por acaso acham que essa sujeira toda que ai está pode ser modificada por uma lei fajuta ressuscitada numa hora em que todos políticos brasileiros estão comprometidos com a safadeza? Querem abafar os escândalos com uma lei?
Qual de nós contribuintes vai acreditar que não haverá financiamento “extra” como antes e que haverá fiscalização confiável desse derrame de dinheiro. O que mais existe neste país é lei. Temos uma constituição com 246 artigos, 11.128 leis ordinárias, 118 leis complementares, 13 leis delegadas, 2.481 decretos-lei até 1988, 20 códigos, 5.476 decretos, fora resoluções do Banco Central, Receita Federal, Previdência Social, Secretarias de Fazenda Estaduais, Municipais e outros órgãos fiscalizadores que fazem parte da maracutaia da “governabilidade”. Até hoje nenhuma impediu a corrupção, os escândalos e nem colocou na cadeia seus principais expoentes da malandragem. Esses amontoados de leis e códigos foram feitos por quem? Pelos mesmos! O legislativo! Esse pessoal que se reúne eventualmente em Brasília de terça a quinta, tem duas férias por ano, recebe entre salários e vantagens oitenta mil reais por mês, mais passagens aéreas, telefone, automóvel com motorista e outras mordomias como mensalão, auxilio paletó, auxilio engraxate, viagens de representação para o exterior com diárias de trezentos dólares, e muito mais que a nossa inteligência não é capaz de conceber.
Como podemos confiar em um governo que se diz honesto, que coloca no Ministério de maior verba do país, onde só se rouba de bilhão para cima, um meliante que está com sendo processado por inúmeras falcatruas quando foi governador? Que tipo de aliança para governabilidade é essa que se paga mesada de quatrocentos mil reais para um partido continuar na base aliada? Quais os tipos de “acordos” de lideranças para chutar para frente investigações conseguidas na justiça e agora os dois lados não querem mais?
O país não precisa de mais leis. Todas elas condenam e punem com rigor toda essa malandragem que ai está. Definem o certo e o errado. O que pode e o que não pode. O que é crime e sua respectiva pena. Não adianta, elas são jogadas embaixo do tapete junto com a sujeira dos políticos que a fizeram, modificaram, complementaram, revogaram e ressuscitaram. Não adianta. Lei não acaba com corrupto, não devolve o nosso dinheiro de volta, nem pune quem deve ser punido. O ladrão de gravata só para de roubar quando a fonte seca. Para secar a fonte, precisa que o eleito o executivo seja eleito com maioria. No Brasil com essa corja de mutantes nunca haverá essa possibilidade enquanto o regime for presidencialista. Aliás, nossa constituição era parlamentarista, foi emendada, riscada, remendada e caricaturada. Precisa ser rasgada, queimada e começar tudo de novo.
Com o parlamentarismo, mesmo repleto de bandidos a historia é outra.Ou formam o gabinete pelo bem ou vamos para eleições gerais. Quero ver qual o deputado ou senador que vai querer uma eleição a cada um ou dois anos como já houve na Itália. Quero ver se não se forma uma aliança sem mensalão, sem mesada, sem venda de cargos e outras canalhices que fazem o cotidiano político do país. Sabe por que? Não vai existir tanto dinheiro para se roubar nem vão se aproveitar tão bem da memória curta do eleitor. O espaço entre as eleições será proporcional aos desentendimentos da cachorrada. Temerosos em arriscar a mordomia numa nova eleição e ter que meter a mão no próprio bolso, farão qualquer negócio para aprenderem a concordar sem o régio pagamento habitual.