Somos campeões em mortes por arma de fogo, segundo relatório da UNESCO, que circulou recentemente em Brasília, referente ao período de 1979 a 2003. O relatório constata ainda que nos últimos 10 anos matou-se mais pessoas no Brasil do que as que morreram em 26 conflitos armados entre países, incluídos Israel, Palestina e Iraque (Guerra do Golfo). É de estarrecer que 325.551 pessoas, nesse período, tenham morrido por tiros (armas de fogo), sendo essa a terceira causa mortis, só inferior à de doenças do coração e as cérebro-vasculares. Esses números se referem a homicídios, suicídios e acidentes e as duas últimas categorias são inexpressivas em relação à primeira. Urge, portanto, que os deputados e senadores tirem o nariz da corrupção deles próprios nas comissões parlamentares de inquérito em curso e pensem no que devem fazer para melhorar um pouquinho a vida do brasileiro comum. O projeto de decreto legislativo que autoriza o referendo popular para proibir a comercialização de armas de fogo em toda o nosso território é o segundo passo, também muito importante para o desarmamento material e espiritual, como bem acredita seu autor, o Senador Renan Calheiros. O primeiro passo foi a campanha do recolhimento das armas, apelando para a boa vontade e o bom senso dos seus possuidores. Bem sabemos que a indústria de armamento e o seu comércio, tanto aqui quanto alhures, são os principais culpados pela inflação de armas de fogo em toda parte. É difícil mas necessário que indústria e comércio fiquem restritos a nossas reais necessidades, que são as de segurança pública pelas Polícias e a de defesa do território nacional, pelas Forças Armadas (incluindo aí, a luta contra a entrada de drogas em nosso Brasil).
O projeto de referendo deve ser aprovado logo, a fim de que a consulta aos brasileiros seja ainda este ano e possamos votar favoravelmente a esse desarmamento. Os espíritos elevados abraçam essa luta e trabalharão para que tenhamos “ o sim” ao desarmamento no referendo do povo, coitado, o único prejudicado porque indefeso.
O senador Aloízio Mercadante disse que “na campanha do desarmamento 364 mil armas foram devolvidas, isso mostra que o país está atento”. Precisamos também do voto favorável dos que não mais possuem armas, pois aqueles que as possuíam, na sua grande maioria, já delas se desfizeram, e daqueles que, por um razão ou outra, não as entregaram. Não podemos ficar passivos ante tanta carnificina, às mais das vezes de inocentes, nada diferente das guerras convencionais. A proibição da posse e uso de armas é uma guerra inicial contra a violência, as drogas, a corrupção, o comérico ilegal, a lavagem de dinheiro e a sonegação fiscal, além de ser também uma guerra positiva pela educação, pelo crescimento do emprego (honesto e útil) e pela saúde e felicidade do povo brasileiro. A droga é um câncer que, se não for urgentemente combatido (e extirpado) da vida das comunidades brasileiras, levará esta nação ao caos. Aliás, já vivemos o caos por causa dessa guerra entre facções, entre traficantes e polícia, entre drogados e pais de famílias sacrificados.
Todos engajados, não é tão difícil melhorar a longo prazo, desde que cada um faça a sua parte e exija que os que estão investidos de poder público façam o resto, além de se darem respeito. Precisamos de exemplos que venham de baixo, mas também dos de cima.
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*Francisco Miguel de Moura é escritor brasileiro, mora em Teresina, e-mail: franciscomigueldemoura@superig.com.br