Quando eu fui catequista (eu falei catequista, acredite se quiser), isto é, lecionava o catecismo católico a turmas de aluno às quais eu ensinava as primeiras letras, estava escrito no livrinho que estas eram as três virtudes teologais. Eu nem sabia o que era o adjetivo teologal, formado do substantivo teologia. Hoje sei o significado de teologia pela origem grega: – teo é Deus e logos = o princípio da inteligibilidade, a razão. Portanto, Teologia é o “estudo das qualidades referentes ao conhecimento da divindade, de seus atributos e relações com o mundo e com os homens” (“Novo Dicionário Aurélio”).
Por esta trilha, conclui-se que virtudes teologais são aquelas que mais nos colocam em contato com a divindade: fé, esperança, caridade.
Confesso que tenho fé apenas em Deus, “que é santo velho”, e em Jesus Cristo, seu filho e nosso santo irmão, mas bem que gostaria de ser mais crente e viver tranqüilo. Mas, que fazer? Parece-me que é uma coisa íntima da qual não consigo afastar-me. Já, esperança, tenho muita. Quem vive sem esperança? Esperança de que o mundo melhore, o Brasil melhore, de que eu e os outros melhoremos. É este o sentimento mais difundido na humanidade.
Mas, caridade, hem?! Poucos a sentem e fazem. Dar esmolas? Não é disto que falo. Muitas vezes dar esmola é uma maneira de libertar-se de um importuno. Nesse sentido, caridade não melhora o mundo, nunca. Mas se pode ser caridoso ajudando o próximo a viver melhor, a aprender com a palavra e, depois, aí sim, com a ajudada material. Caridade com os doentes. Tenho um sentimento de piedade muito grande, mas estou impedido de ter caridade com os doentes, não sei ajudá-los em nada, nem posso, porque sou um doente. Mas, os tantos sãos que devem isto ao próximo? Socorrê-los nas doenças. Há ainda outros tipos de caridade que não posso esquecer, embora já tenha referido mais acima, porém de leve. É a da palavra. Todos os dias devemos dizer a nós e aos outras palavras boas, evitar xingamentos, impropérios, respostas a tudo quanto é ofensa. Ser pacientes, perdoar. Assim estamos sendo caridosos conosco e com os outros, e quando lançarmos elogio a uma pessoa, que seja pleno, de coração, nada de fingimento. Mentira desse tipo nos faz mal e ao mundo também. Caridade: – saber ouvir. Há pessoas que acham que conversar é apenas dizer e dizer, falar e falar de si e por si, e quando o outro quer interferir ou comunicar algo, sair pela tangente, mostrar-se apressado, fazer-lhe “ouvido de mercador”, dando um tchau para desaparecer.
O egoísmo tomou conta do mundo e das pessoas. Nada que não seja do seu interesse mediato ou, mais precisamente, imediato, lhe merece um mínimo de atenção.
Assim a humanidade caminha para um caos inimaginável. Numa catástrofe uns socorrem outros, é normal, mas isto não configura caridade propriamente dita. É porque todos estão em perigo. Conta como medo, pavor.
Caro leitor, pareço muito conselheiro, muito moralista nesta crônica? E o que diz a voz do povo?
– “Se conselho fosse bom não se dava, vendia”– sabedoria popular. Estão vendo e ouvindo como tenho razão?
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*Francisco Miguel de Moura, escritor brasileiro, mora em Teresina.