Nós costumamos aqui no Brasil a julgarmos mal as pessoas. Talvez pela excessiva inveja da população majoritária, que é pobre, somada aquela que é abaixo da linha da pobreza. Inveja da população minoritária no poder, que parece ter a missão de salvar os pobres num filme chamado “os salvadores que nunca salvaram nada”. Desde o tempo da escravidão que existem “salvadores dos pobres”, mas que sequer salvaram alguém do chicote, ou da porrada daqueles que sempre foram pagos para espancarem e torturarem a bel prazer. Se a classe dominante usufrui uma nababesca vida, a classe dominada não usufrui vida nenhuma, a não ser o eterno ramerrão de miseráveis, pobres, ou de uma classe supostamente média, que corre permanentemente o risco de cair na pobreza, tendo em vista a fonte de renda quase sempre um fantasma em suas vidas. Hoje pode estar bem, amanhã não se sabe. Por isto mesmo a classe média leva uma vida de gozos, de farras intermináveis, seguindo a antiga filosofia do “vamos gozar a vida hoje porque amanhã é incerto”.
Para nós, brasileiros, a vida sempre será incerta. Mais ainda quem vive bem, uma vez que estes estão cientes da enorme diferença entre as classes, que pode ocasionar da noite para o dia algo inimaginável. Se não há, por exemplo, a possibilidade de uma revolta generalizada entre as classes, já existe concretamente uma luta de classes sem tréguas, através do que chamamos inocentemente de “criminalidade”, quando a riqueza de muita gente pode ter sido também conquistada através da prática criminosa invisível porque mafiosa.
A prova cabal está aí presente em nosso dia-a-dia. Os políticos criminosos locupletam-se no poder e jamais serão punidos, se é que direito político cassado é punição exemplar. Nós achamos ser isto umas férias. Facções políticas farão de tudo para trazerem de volta à cena política os mesmos políticos ladrões de sempre, visto que a política é o meio ambiente dos corruptos brasileiros.
Muita gente condena o deputado Roberto Jefferson. Imagino que antes de condenarem este deputado, deveriam considerar sua grande utilidade e sua grande coragem em denunciar o oceano de lama em Brasília, praticado essencialmente pelo Partido dos Trabalhadores, sob a tutela de seus caciques. As pessoas que se apressam em condenar o denunciante deve ter algum interesse no continuísmo da roubalheira. Lá nos EUA, quem denuncia está ajudando a República e terá suas penas revistas e até diminuídas. Aqui no Brasil quando mais ladrão o sujeito é, mais respeito ele terá da população. A condenação de quem acusa, mesmo que este acusador esteja envolvido, é a suprema ignorância da sociedade, posto que dará incentivos aos envolvidos arrependidos de não denunciarem, embora tenham o desejo de denunciarem, por amor quem sabe, à Pátria.
Recentemente vi um sujeito forçar a entrada num clube social. O porteiro impediu-lhe a entrada. O sujeito argumentou que era um velho cadeeiro e que poderia prejudicar a vida do porteiro. Os sócios do clube que passavam pela portaria aconselharam o porteiro a permitir a entrada do tal sujeito, embora não fosse sócio.
-Conheço o moço aí! – disse um dos sócios à boca pequena – ele é um bandido e pode lhe pegar numa “quebrada”, ou mandar alguém lhe pegar numa noite qualquer.
Resultado: o porteiro permitiu a entrada do safado. E este não é um comportamento isolado. Em todo o país a população honesta tem medo da bandidagem e com razão. E agora vai ficar pior, uma vez que a única maneira de nos defender vai ser retirada em definitivo de todos nós: a arma de fogo.
O referendo, embora seja algo lícito, tem a maioria da poderosa mídia a favor do desarmamento. E o povo cai de quatro para os conselhos e opiniões da mídia. Ou seja: se a mídia mandar o povo comer capim, haverá com certeza belos manjares de capim em toda parte. Pizza de capim, boi-na-brasa com capim, arroz e feijão com capim. Para não dizer outra coisa. Enfim, o povo obedece cegamente à televisão como se fosse uma autoridade e esta já decidiu pela retirada de nosso direito de defesa, que é senão, o direito nosso de querer ou não portar uma arma.
Se a polícia fosse totalmente eficiente; completamente onipresente e onisciente e chegasse antes do criminoso em nossas casas, então aí sim a arma poderia ser abolida. Aliás, a população neste caso olharia para a arma como uma inutilidade. Mas, a polícia não funciona. Às vezes funciona mais a favor do bandido. Temos uma polícia ineficiente, incapaz de defender a população, hoje totalmente indefesa. E isto em nível de Brasil inteiro. A retirada das armas é o supremo sacrifício de uma população, que ficará à mercê da bandidagem e também dos governos, os quais poderão da noite para o dia, sob argumentos os mais esdrúxulos possíveis, instalarem uma ditadura assassina com toda tranqüilidade, a exemplo de 1964. Vejo o desarmamento da população brasileira como uma preparação para tripudiarem sobre todos nós, posto que estarem indefesos a exemplo do que fizeram com os judeus na Alemanha, na Polônia e em toda Europa, os fascistas e os nazistas.
As pessoas que acorreram às delegacias nas primeiras solicitações da mídia e das autoridades, para entregarem as armas, não o foram no intuito de se livrarem das armas e sim em razão da miséria que hoje vivemos. Qualquer dinheirinho que entra é bem-vindo, nem que com isto fiquemos à mercê dos criminosos. Tirando as armas da população os bandidos terão um campo de ação melhorada, porque somente eles estarão de posse das armas. Armas, diga-se, melhores do que as das autoridades policiais. A polícia também estará armada. Só que a polícia tem medo de morrer, a bandidagem não tem medo. Os criminosos sabem que a vida para eles não vale nada. Quem leva vantagem neste caso?
O referendo é assim uma violação ao nosso direito de se defender. Não seria uma violação se a mídia permanecesse isenta de opinião. Mas, não é assim. Ela esta presente há tempos fazendo sua propaganda enganosa contra as armas. Torna assim repleto de parcialidade esse referendo. Só depois que todos estiverem desarmados é que chegaremos a verdade de que nem todos terão suas armas retiradas. Os ricos e poderosos, ou a classe dominante continuarão armados. Ou seja, a força da grana não será atingida pelo desarmamento que o referendo propõe. Somente os ricos poderão se defender, enquanto os pobres vão morrer que nem moscas.