A última vez que estivemos juntos foi no Museu Eugênio Teixeira Leal, ao Pelourinho, há alguns meses atrás.
Ele fora ouvir a palestra de Vivaldo Costa Lima sobre "Um candomblé no Centro Histórico", e conversamos muito durante o coquetel.
Lembro-me de tê-lo convidado, com entusiasmo, para também fazer uma palestra em nosso auditório, relembrando sua atuação como superintendente do Departamento de Turismo da Prefeitura do Salvador.
Ele nos devia esse depoimento.
Senti que ele ficou seduzido pela idéia, mas recusou de pronto: a voz não lhe permitia esse papel que, ademais, não lhe agradava nem um pouco.
Mas prometeu pensar no assunto.
Agora, viajando de Corumbá para Campo Grande, a bordo de um avião da Varig, retornando de um belo passeio pelo pantanal matogrossense, leio no "Estado de São Paulo" a notícia de sua morte inesperada.
Naturalmente que o necrológio do jornal destaca apenas sua atividade literária de contista - o melhor da Bahia, com certeza!
Mas, para mim, a impressão mais intensa que fica de Vasconcelos Maia é a do idealista e homem de ação, pioneiro no aproveitamento racional e econômico do turismo em nossa terra.
Pois, foi em conseqüência de sua gestão à frente do Departamento de Turismo da Prefeitura que eu o conheci e o tomei por amigo, faz quase 30 anos.
Quando ele assumiu essa função, nos fins dos anos 50, eu também galgava um novo posto no banco: fui convidado a instalar e dirigir a Assessoria de Comunicações e Relações Públicas, uma iniciativa do presidente Miguel Calmon.
Naquele tempo, Vasconcelos lançou-se de corpo e alma à empreitada de "vender" a "Boa Terra" às agências de turismo e de sensibilizar os empresários e a população para a necessidade de investirem na criação de uma infra-estrutura capaz de dotar a Bahia das mínimas condições para atender ao fluxo de visitantes.
Para tanto usou de todos os meios mas, sobretudo, recorreu às colunas que possuía em jornais de Salvador, através das quais divulgava seus planos, conselhos, conceitos e iniciativas.
Lembro-me de que uma de suas idéias práticas consistiu em convencer donos de modestos hotéis e pensões em introduzir melhoramentos essenciais para sua adaptação e modernização, de modo a transformá-los em pousadas confortáveis.
Levou seu plano ao banco, que se dispôs a financiar os proprietários, que lhe apresentassem projetos viáveis.
De outra feita, convenceu-me a adquirir exemplares do excelente livro de Darwin Brandão, "Cidade do Salvador, caminhos do encantamento", para que o distribuíssemos como brinde a clientes e amigos do banco em São Paulo e no Rio de Janeiro, iniciativa que a nossa diretoria aprovou.
Foi, aliás, graças a Vasconcelos Maia que vim a tornar-me amigo de Lênio Braga e do próprio Darwin Brandão, infelizmente desaparecidos tão cedo, como ele mesmo.
Isso, sem falar na ligação fraterna e duradoura que até hoje me une a Alfredo Villa-Flor, àquela época chefe das Relações Públicas da Petrobrás e grande amigo e colaborador de Vasconcelos.
Outra iniciativa nossa, que atendeu a seus projetos, consistiu na compra de milhares de separatas de uma reportagem da "Revista Quatro Rodas" dedicada à cidade do Salvador e à estrada Rio-Bahia, a primeira grande divulgação nacional de nossas atrações turísticas.
É uma pena e uma injustiça, que pouco se reconheça o trabalho verdadeiramente importante e pioneiro que esse modesto e arredio baiano, mais conhecido por sua atividade literária, realizou em prol de sua terra.
Não seria o caso de a nossa Prefeitura, através da Superintendência de Turismo, patrocinar uma pesquisa sobre Vasconcelos Maia, resgatando seu papel na história do turismo da Bahia?