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Artigos-->O MURO -- 18/08/2005 - 09:12 (Jeovah de Moura Nunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos






O MURO







Não o percebemos. Mas, estamos sempre construindo um muro em nossas vidas. Compramos um terreno e a primeira coisa a fazer é cercá-lo como se fosse uma tradicional obrigação em nossos interesses. Cercar um terreno é visivelmente anunciar ao mundo, com palavras mudas: “isto é meu, façam o favor de não tocar no que é meu!”.



Construímos nossas casas e fechamos todas as saídas e entradas com grades de ferro. Colocamos alarmes e ficamos atentos ao menor barulho em noites de insônia. Estamos constantemente imaginando um meio de melhorar nossa segurança. Temos vivido assim há milhões de anos. Os castelos da Idade Média dão um atestado de nossas preocupações em zelar pelo patrimônio, que pensamos possuir e ao final de tudo notamos que nada possuímos no planeta. Claro que esta conclusão chega sempre atrasada. Às vezes nem chega. Mesmo num leito de morte estamos agarrados aos nossos pertences, como se fizesse parte de nosso corpo. Como se aquilo resolvesse alguma coisa em nossa vida desde o nascimento até a morte.



Morte. Ninguém pensa nela. E quando pensa, sempre o faz de maneira incorreta. Não leva a sério as palavras repletas de profundidade dos filósofos do passado. A morte também se transformou num muro inquestionável em nossas vidas. Não aceitamos esse muro imposto pelo alto. E de nada adianta não aceitar. Nós o teremos mais dias menos dias. O muro da morte não é sequer estudado com mais afinco pela moderna ciência, empinada em seus orgulhos de deuses gregos repletos de soluções. Soluções para tudo menos para morte.



Enfim, a humanidade com toda sua empáfia filosófica nem quer ouvir falar em morte, quando diariamente convive com ela. O homem constrói um muro imaginário em volta da palavra morte, e não ousa pronunciá-la nos momentos que mais necessita estar em sintonia com essa banalidade, a qual nada mais é do que uma transposição de mundos vibratórios. Este mundo é pesado, ar carregado de moléculas, sendo mais rarefeito na medida em que subimos na atmosfera. Outro mundo ainda sendo descoberto é o mundo submarino. Foi na água e da água que todos nós viemos e vivemos por muito tempo. Evoluímos para a terra firme e agora estamos empenhados em sair do planeta. Porém, a morte que é a única e verdadeira saída. Ela continua sem ser pesquisada no interesse de saber mais o que nos aguarda. Os cientistas têm receio de estudar a morte com mais interesse, porque envolve questões chamadas de religiosas e isto é um fardo pesado em cada um de nós. Pesado porque tem sido ao longo de milhares de anos os motivos maiores de nossas desavenças no planeta. Guerras e mais guerras foram deflagradas em razão das religiões, quando estas vieram para pacificar e apontar um caminho para o entendimento da morte.



Os cientistas também querem preservar seus nomes e seus interesses. Isto é, eles também construíram seus muros de vaidade. E então não querem cair no ridículo, porque informar, depois de muitas pesquisas que a morte não existe acaba com a carreira endinheirada de muitos estudiosos.



Muitos batem no peito e dizem:



-Não acredito na vida depois da morte porque ninguém veio de lá para me informar.



Ora, pois, pois, nos Estados Unidos, país evoluído na medicina é comum pessoas retornarem da morte e explicarem extasiadas o que viram, as pessoas com quem conversaram e outras tantas informações. Normalmente, as narrações são padronizadas: um túnel. Uma luz muito forte. Pessoas. Quase sempre parentes, que informam não ter chegado a hora da transição daquela pessoa. E por isso ela necessita aceitar a volta. Quase sempre as pessoas que passam por essa experiência, chamada cientificamente de “Experiência de Quase Morte” – EQM, transformam sua vida radicalmente. Passam a viver melhor e aceitam todo e qualquer destino que lhe venha mudar mais ainda suas vidas. A maioria procura praticar mais a caridade. E respeitam as opiniões alheias de que não existe vida depois da morte. E olha que são aproximadamente dez milhões de pessoas que retornaram da morte para dizer que a vida continua. E dizem todas elas as mesmas coisas, em lugares diferentes daquele país.



Mas, sempre vai existir alguém que duvida dessas coisas. Não sabem que existem nos bons hospitais americanos, verdadeiras máquinas ressuscitadoras de pessoas doentes, vítimas de paradas cardíacas. Esquecem que a diferença entre Brasil e EUA é a mesma que de uma aldeia indígena para uma megalópole como São Paulo. Tanto é verdade que milhares de brasileiros arriscam-se diariamente na travessia da fronteira México – Estados Unidos. Por que? Porque sabem que lá, embora a vida seja difícil como em toda parte, existem leis que funcionam, existe respeito pela liberdade do ser humano, existe o respeito pelos direitos humanos. Enfim, a democracia republicana funciona. E quem é jovem deseja essas coisas para seus descendentes. Diferente deste país chamado Brasil, onde estamos mais para a dança tribal das eras passadas, do que para um país realmente sério e desenvolvido.



Jeovah de Moura Nunes

Poeta, escritor e jornalista



(extraído do livro “Espíritos” – em preparação)





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