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Artigos-->A POESIA SINTÉTICA DE ADÉLIA MARIA WOELLNER -- 19/08/2005 - 16:41 (Clarice Braatz Schmidt Neukirchen) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


A POESIA SINTÉTICA DE ADÉLIA MARIA WOELLNER



Clarice Braatz SCHMIDT (Pibic/CNPq/Unioeste)



ABSTRACT: This article present Adélia Maria Woellner’s poetry. She is a Brasilian poet, while realizes a poetic “doing”, looks for the synthesis of her production. The recurrent themes into the Woellner’s lyric are: the time; the contemplation; the permanency; the loneliness; the memory; the transitority among others. She chooses synthetic form poems such as tercets, quartets, haikais (Japanese poetry), and others.



KEYWORDS: Adélia Maria Woellner; poetry; contemplation; synthesis.



1. Haikai: contemplação, reflexão e concisão



Na visão ocidental o haikai costuma ser um misto de exotismo e subjetivismo. No entanto, esta visão é deturpada, não correspondendo à verdadeira essência do haikai. A poesia japonesa é riquíssima em onomatopéias, aliterações, jogos de palavras, que são, conforme observa Octavio Paz, “combinações insólitas de sons e significados” (PAZ, 1996: 157). O haikai pode ser considerado o maior exemplo de síntese absoluta e apresentação direta, sendo que sua linguagem condensada e vigorosa pode ser considerada sua maior riqueza.

Para os poetas japoneses, a criação de poemas sempre foi um verdadeiro jogo poético. Primeiramente, praticava-se o tanka ou waka, constituído por duas estrofes, possuindo a primeira três versos de sete, cinco e sete sílabas e a segunda estrofe composta por dois versos de sete sílabas. Este tipo de poema, geralmente, era escrito por dois poetas: o primeiro escrevia as três primeiras linhas, e outro as duas últimas. Uma série de poemas versando sobre o mesmo tema denomina-se renga, sendo que ao primeiro poema dá-se o nome de hokku. Posteriormente, surgiu uma nova forma de poema, de gênero leve, cômico e epigramático, o qual chamou-se renga haikai. O poema desprendido do renga haikai denominou-se haiku, composto de haikai e hokku. Esta forma poética apresenta dezessete sílabas e três versos (sete/cinco/sete sílabas). O haiku é carregado de um humor seco, não sentimental e jogos de palavras. Conforme salienta Octavio Paz, o haiku é uma “arte não intelectual, sempre concreta e antiliterária, [...] é uma palavra cápsula carregada de poesia, capaz de fazer saltar a realidade aparente” (PAZ, 1996: 163). E ainda: “o pequeno haiku é um mundo de ressonâncias, ecos e correspondências” (Idem: 164).

Na poesia japonesa não estão presentes recursos como a rima e a versificação com acentos. Os haikais, geralmente, não levam título. A contagem métrica também é diferenciada, sendo que no verso japonês todas as unidades silábicas são computadas, tornando o verso “plano”. Como já mencionamos anteriormente, é muito rica em figuras de linguagem. Segundo Haroldo de Campos, a análise de haikais oferece em sua estrutura gráfico-semântica "a existência de processos de compor e técnicas de expressão, [...] que só encontram paralelo em pesquisas das mais avançadas da literatura ocidental contemporânea" (CAMPOS, 1977: 56). Podemos dizer que o haikai nada mais é que "a manifestação de análoga forma mentis’, desenvolvida em combinações mais elaboradas, se bem que sujeitas, sempre, à mais extensa economia dos meios" (Idem: 57). Para Bashô, os elementos básicos relacionados pelo haikai são a permanência, transformação e expressão momentânea. Outra característica do haikai é ter como tema constante a natureza e as estações do ano.

Um dos elementos intrínsecos à poesia japonesa é o elemento visual. Não podemos, no entanto, confundir esta característica com a metáfora visual, ou seja, a fanopéia, antes algo mais essencial, que "radica na própria natureza Kanji, o ideograma chinês que os japoneses importaram para sua escrita na Segunda metade do século III de nossa era" (CAMPOS, 1977: 63). O Kanji evolui de uma fase pictográfica para uma noção totalmente sintética e estilizada, sendo em si próprio uma metáfora gráfica, mais complexa e abstratas que os sistemas de escrita ocidentais, podendo representar não somente objetos do mundo real, mas também emoções, sentimentos, ou seja, entidades abstratas. Assim como as civilizações antigas, os chineses utilizaram-se do processo metafórico para passar do visível ao invisível, utilizando-se de imagens materiais, para sugerir imagens imateriais. Segundo Haroldo de Campos, para os ocidentais "o poeta é a única pessoa para quem os tesouros acumulados das palavras da raça são reais e ativos. A linguagem poética vibra sempre com camadas sucessivas de harmônicos e afinidades naturais, mas no chinês a visibilidade da metáfora tende a elevar esta qualidade à sua mais alta potência" (1977: 64). Talvez a mais notável qualidade da poesia chinesa seja a riqueza de analogias gráficas, que como harmônicos visuais "torna possível a escolha de palavras nas quais um único harmônico dominante colore todos os planos semânticos" (Idem: 65).

A tarefa do haikai é captar o mundo interior em um instante qualquer de contemplação e, através da reflexão, transformá-lo em matéria visível. Assim, “a prática do haiku foi (é) uma escola da concentração” (PAZ, 1996: 182).



2. Haikai e poesia moderna



O haikai influenciou movimentos de renovação poética moderna, como por exemplo, os da língua inglesa, francesa, espanhola e latino americana. Segundo Earl Roy Miner, nos poemas de Erza Pound, um dos promotores do imagismo inglês, pode ser identificada uma analogia com a estrutura básica de superposição de elementos do haikai. Já na poesia espanhola, conforme assevera Paz, a maior influência do haikai deveu-se ao seu modelo de concentração verbal, sua construção simples e pluralidade de reflexos e alusões. João Alexandre Barbosa, em sua obra As ilusões da modernidade, afirma que:



o poema moderno, em seus momentos mais eficazes, tende a estabelecer, pelo menos, dois níveis de leitura convergentes: aquele que aponta para uma nomeação da realidade em seus limites de intangibilidade, operando por refrações múltiplas de significado, e aquele que, ultrapassando tais limites, refaz o périplo da própria nomeação, obrigando a linguagem a exibir as marcas de sua trajetória. Por um lado, o leitor busca a compreensão; por outro, a compreensão está na busca que é o início de uma viagem. [...]. Neste sentido, o espaço do poema é necessariamente um tempo. Espaço e tempo da linguagem: o poema, em que o leitor atua como um viajante para quem os signos não são mais apenas signos, sinais, de alguma outra coisa para fora de uma topologia cujos limites cartográficos estão dados na página que os acolhe como um espaço privilegiado (BARBOSA, 1986: 139).



Assim acontece também no haikai, que, no dizer de Paz, “não só é poesia escrita [...] como é também poesia vivida, experiência poética recriada” (1996: 165). No fazer poético de Bashô, por exemplo, nem tudo esta dito no poema. Há apenas o suficiente para levar o leitor à uma viagem. Paz observa que a poesia de Bashô nos convida à uma aventura: “a de nos perdermos no cotidiano para encontrar o maravilhoso. Viagem imóvel, ao fim da qual nos encontramos com nós mesmos: o maravilhoso é nossa verdade humana” (Idem: 166).

João Alexandre Barbosa aponta algumas das relações entre poesia e modernidade, como a posição do poeta em relação ao tempo, espaço e linguagem, vinculando consciência e história. Segundo Barbosa, “para o poeta moderno, a consciência histórica, sendo basicamente social e de classe, é também cultural” (BARBOSA, 1986: 15). Esta história do poema moderno não é uma história dos momentos da poesia, mas sim a história do movimento interno de passagem de um poema para outro, ou seja, “a história que se internalizou, sendo mais e não menos vinculada à experiência concreta da realidade, é aquela que as formas possíveis do poema vão permitindo ler por entre as execuções tangíveis da linguagem (em crise) da poesia.” (Idem: ibidem). Na poesia japonesa, segundo Octavio Paz, não há simbolismo. A noite, por exemplo, é noite e mais nada; mas, ao mesmo tempo, é algo mais que, “rebelde à definição, recusa-se a ser nomeado” (PAZ, 1996: 166). Isso não significa uma face oculta da realidade, antes aquilo que não está em face alguma. Paz observa ainda que, “o haiku é uma crítica da realidade: em toda a realidade há algo mais do que chamamos realidade; simultaneamente, é uma crítica da linguagem. [...] Crítica à nossa pretensão de identificar o significar e o dizer” (Idem: ibidem). Para Paz, a poesia é uma visão instantânea de “outro tempo”, sendo que a subversão do sentido presente na poesia produz uma reversão do tempo. Assim sendo, “o instante do haiku é incomensurável” (Idem: 167). Conforme salienta Barbosa, “é a própria maneira de questionar a linguagem da poesia que configura o tempo do poema. [...] Neste sentido, o tempo do poema não existe a não ser como espaço de relações: entre o poeta e a linguagem, o poema acena para a intemporalidade” (1986: 16).

No haikai, assim como na poesia moderna, a ocorrência de rima é desnecessária. Não somente a estrutura do haikai nos apresenta sinais de modernidade, mas também seu léxico. Nesta breve forma poemática japonesa não há preocupação com o decorativo e o artificioso, mas com a função viva das palavras. Segundo Paz, o humor e a imagem, dois elementos centrais da poesia moderna, também são marcas da poesia japonesa.

Para Haroldo de Campos, também a poesia brevíssima de Giuseppe Ungaretti pode ser considerada uma recorrência à concisão da arte oriental, não-discursiva e não-linear, onde o envolvimento é criado não por conexões, mas por meio de intervalos. Na poesia ungarettiana ocorre um “poetar que se volta sobre si mesmo e continuamente, através de sua própria isomórfica brevidade, questiona-se sobre a situação-limite com que se confronta o fazer poesia em nosso tempo” (CAMPOS, 1977: 87). Giuseppe Ungaretti defende o fragmento como “única forma possível de poesia no universo fraturado que vivemos, onde, às conseqüências do progresso tecnológico, corresponde uma crise sem precedentes da linguagem” (apud CAMPOS, 1977: 87). Francisco Flora, no entanto, em Poética e Poesia di Giacomo Leopardi, censura a chamada “teoria atômica da brevidade” da poesia moderna, onde, segundo ele, há uma “escassez de sensibilidade interna” (Idem: 89).

Apesar do haikai ser uma forma poética que teve seu inicio a centenas de anos no Japão, nesta forma poética estão presentes processos de compor e técnicas de expressão que encontram paralelos apenas nas mais avançadas pesquisas da literatura ocidental contemporânea.



3. Contemplação e concisão na lírica de Adélia Maria Woellner



O fazer poético da poeta curitibana Adélia Maria Woellner é um exemplo de contemplação e compreensão do universo, o qual sintetiza de forma clara em seus poemas. A poesia de Woellner é repleta de encantamento, sugestões e leveza, revelando inquietações que fazem parte de todos os seres humanos. Segundo João Manuel Simões, somente os poetas autênticos são capazes de criar poesia. Adélia é um desses poetas. Conforme observa Simões, “Adélia desvenda a alma. Desnuda o coração. Explicita emoções e sentimentos. Confessionais por excelência, nunca ficcionais, seus poemas têm a matriz numa espécie de lirismo agridoce, prenhe de melancolia, desencanto, amargura suave” (SIMÕES, 1993: 39).

A poesia de Adélia Maria é um misto de contemplação, sensibilidade e imaginação. Conforme observa René Ariel Dotti, os versos de Adélia falam da “liberdade individual e dos caminhos elevados ao infinito que somente a alquimia entre a palavra e a imaginação poderia produzir” (In: Woellner, 1997: 06). Em seu livro Infinito em mim, Woellner mostra claramente esta integração entre realidade, contemplação e imaginação. No poema “Infinito em mim”, podemos perceber a mistura entre liberdade criacional e universo imaginário:



Em tudo,

na semente,

a expressão do todo.



No poema,

resulto ser

criador e criado,

quando me permito

fundir-me com o universo

e perceber

o infinito em mim...

(WOELLNER, 1997: 07)



Neste poema ocorre a reflexão da poeta acerca de sua condição enquanto parte de seu texto. Enquanto parte do universo, a poeta percebe o infinito em si mesma, percebendo-se como poeta, criando assim o poema e sendo criado por ele. Poeta e poema fundem-se e se completam. No poema “Infinita Liberdade”, também há a reflexão sobre a relação com o infinito:



E, de repente,

eu não tenho comportas,

nem grilhões,

nem algemas,

nem pesos,

nem mordaças,

nem viseiras.

Sou livre como o infinito,

porque sou o próprio infinito

em mim.

E sou o próprio infinito

dentro dos meus espaços,

porque vivo intensamente.

E meus espaços são ilimitados

porque eu sou ilimitada

na minha possibilidade

de ter sensações.

(WOELLNER, 1990: 44)



No texto, nota-se que o eu lírico não apenas considera-se parte do infinito, mas o próprio infinito. Descobrindo o infinito em si mesma, o eu lírico torna-se capaz de romper com todas as barreiras, tornando seus espaços ilimitados, da mesma forma que sua capacidade de ter sensações torna-se ilimitada.

No poema “Completude”, o eu lírico novamente se reconhece como parte do universo, sendo que é o elo que completa o círculo da criação. O poema pode ser entendido, assim, como o espaço onde o poeta encontra seu próprio ser e, assim, pode criar.



No momento divino

de encontro

com meu verdadeiro Ser,

sou semelhança

e me aproximo

do Criador.



Minhas mãos acolhem

e seguram

as pontas da curva mágica.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Apenas fecho o círculo.

(WOELLNER, 1997: 23)



Adélia não apenas aborda temas interiores em seus poemas, mas apresenta, através deles, imagens leves e despojadas de instantes cotidianos. Conforme observa Paulo Becker, em seus estudos sobre Mario Quintana, o poeta é um paisagista, que através da associação de imagens concretas e elementos sensoriais, apresenta novas cores à imagens cotidianas. No poema “Entrega”, podemos observar esta junção de elementos concretos e sensoriais criando uma visão colorida do real:



Na quentura sonolenta

da areia,

as águas se entregaram,

molemente,

e até o vento dormiu.

(WOELLNER, 1997: 41)



Os adjetivos empregados para representar as características dos elementos concretos, ou seja, a quentura sonolenta da areia, as águas que se entregam molemente, emprestam ao poema o aspecto sensível das coisas. Dessa forma, segundo Giacomo Leopardi, a poesia é um exercício próprio da empatia, semelhanças e proximidade. Ele afirma que o poeta consegue passar de maneira nova e original experiências cotidianas, conseguindo assim arrancar o homem do tédio do contemporâneo (apud BOSI, 1977). No poema “Imagem”, o eu lírico declara:



Este céu azul

nada mais é

do que a cor do espaço

refletindo

a alma da Terra.

(WOELLNER, 1997: 52)



Woellner apresenta sua visão intimista do azul do céu, apresentando um novo colorido às imagens cotidianas e aparentemente banais. Conforme observou Helena kolody, Adélia Maria “pinta, com palavras, telas cheias de movimento e colorido. [...] A vida palpita nas metáforas e nas imagens. Têm nervo e sangue, seus versos. Tudo é vida, em seu livro” (KOLODY, 1990: 03). Aliás, não podemos deixar de observar as raízes kolodianas na poesia woellneriana, principalmente nos seus poemas mais sintéticos e contidos.

Adélia Maria consegue passar em seus breves poemas intimistas, mas de motivos universais, grande carga de sentimento, emocionando o leitor e levando-o a um clima de encantamento, tal como ocorre no poema “Mistérios”:



É na própria fortaleza

que se esconde

a fragilidade.

(WOELLNER, 1997: 64)



o texto apresenta de maneira leve e despojada o paradoxo força/fragilidade, deixando nas entrelinhas a complexidade do interior dos seres humanos. Da mesma forma, no poema “Liberdade”, a poeta consegue passar para o leitor de maneira sutil o resultado de uma reflexão pessoal:



Ser livre

é ser leve,

despojado do peso

de todos os apegos.

(WOELLNER, 1997: 57)



No poema, a poeta traz à tona o reflexo de um espelho interior de todos os homens, ou seja, a realidade de que o homem somente é livre quando não se deixa escravizar por seu próprio egoísmo. Segundo Octavio Paz, ao ler um poema o leitor é levado pelo poeta a “repetir, a recriar seu poema, a nomear aquilo que nomeia; e ao fazê-lo, revela-nos o que somos.[...] O poema é uma obra sempre inacabada, sempre disposta a ser completada e vivida por um leitor novo” (PAZ, 1996: 57). Conforme observa João Alexandre Barbosa:



entre a linguagem da poesia e o leitor, o poeta se instaura como o operador de enigmas, fazendo reverter a linguagem do poema a seu domínio próprio: aquele onde o dizer produz a reflexividade. [...]. Neste sentido, começar o poema eqüivale a repensar a sua viabilidade através da armação de novos enigmas cuja solução o leitor há de procurar não somente na personalidade do poeta mas naquilo que - indício de um trajeto de leituras - aponta para a saturação dos usos da linguagem (BARBOSA, 1986: 14).



Também em seu poema “Selvagem”, Woellner utiliza-se de imagens concretas para transmitir ao leitor idéias abstratas:



Minha emoção

é um cavalo rebelde,

de pelos ruivos

e olhar de jabuticabas maduras

que não quer ser domado.

(WOELLNER, 1997: 94)



A poeta deixa clara a indomabilidade, beleza e força de suas emoções através da comparação com um cavalo selvagem de pêlos ruivos e olhos negros. Ela joga com elementos concretos e abstratos formando novas e inesperadas matizes.

A emoção contida nos versos apresentados nada mais é que sua forma de expressão e, tal como observa Dufrenne, “a emoção mesma, longe de ser uma agitação interior é a descoberta de uma fisionomia do mundo” (1969: 164). Por sua vez, José Guilherme Merquior salienta que, “com a palavra e com as formas, o homem cristaliza o seu viver e chega a dominá-lo” (1996: 240).

Em seus poemas, Woellner propõe imagens muito variadas, fazendo com que sua poesia fale através dessas imagens. Sua posição de contemplação frente ao mundo e anseios humanos dá autenticidade aos seus versos. Seus poemas vibram em belas imagens, graças à materialidade dos signos e combinações de palavras utilizadas pela poeta. Segundo Alfredo Bosi, “a palavra criativa busca, de fato, alcançar o coração da figura no relâmpago do instante” (1977: 36). A poesia woellneriana é a contemplação do instante privilegiado, bem como a reflexão, compreensão e interiorização deste instante.



RESUMO: Este artigo apresenta a poesia de Adélia Maria Woellner, poeta brasileira que realiza um fazer poético enquanto busca da síntese, projetada nas formas escolhidas e no enxugamento dos textos. Os temas recorrentes em sua lírica são: o tempo; a contemplação; a permanência; a solidão; a memória; a transitoriedade, entre outros. Os poemas sintéticos, tais como o terceto, quarteto, haikais (poesia japonesa), são formas privilegiadas pela poeta.



PALAVRAS-CHAVE: Adélia Maria Woellner; lírica; contemplação; síntese.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS



ALMEIDA, Guilherme de. Haicais completos. São Paulo: Aliança cultural Brasil-Japão, 1996.

BARBOSA, João Alexandre. As ilusões da modernidade. São Paulo: Perspectiva, 1986.

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BOSI, Alfredo. O ser e o tempo da poesia. São Paulo: Cultrix, 1977.

CAMPOS, Haroldo de. A arte no horizonte do provável. São Paulo: Perspectiva, 1977.

CARA, Salete de Almeida. A poesia lírica. São Paulo: Ática, 1989.

DUFRENNE, Mikel. O poético. Porto Alegre: Globo, 1969.

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HAMBURGER, Käte. A lógica da criação literária. São Paulo: Perspectiva, 1986.

KOLODY, Helena. Apresentação. In: WOELLNER, Adélia Maria. Avesso meu. Joinville: Ipê, 1990.

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SIMÕES, João Manuel. “A poetisa e o cineasta”. Gazeta do Povo, Curitiba, 26 de out. 1985, p. 39.

SOARES, Marly Catarina. Momentos de luminosidade na poesia de Helena kolody. UNILETRAS: Universidade

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Meireles. Porto Alegre, 1997. Dissertação (Mestrado em Literatura Brasileira) - Instituto de Letras,

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STAIGER, Emil. Conceitos fundamentais da poética. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997.

WOELLNER, Adélia Maria. Infinito em mim. Curitiba, 1997.

_____. Avesso meu. Joinville, SC: Ipê, 1990.



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