O grande circo caribenho foi embora de Rio dos Véus numa manhã chuvosa de janeiro, chuva contínua que encharca e irrita. Numa marcha lenta quase fúnebre foi deixando a cidade com suas intermináveis carruagens, somente voltariam a Rio dos Véus na próxima temporada. Muitos riovelenses se sentiram aliviados, pois havia histórias que os circos de um modo geral costumavam raptar pessoas – principalmente crianças. Outros se faziam convalescentes, tudo agora retornaria ao marasmo de sempre.
Natanel, que era goleiro do Cajazeiras Futebol Clube e que um dia seria papai numa cobrança de penais, achou o velho anel de casamento no dia seguinte, bem
no charco deixado pelo circo. Fez-se amargurado por demais. Caiu de joelhos no chão e muito chorou. Mal sabia que um dia iria casar-se de novo.
Numa jaula cheia de chimpanzés estava Eleonora. Só tinha o vestido no corpo. Descalça, sem banho, sem eira, nem beira, era uma desolação só. A recatada e fiel esposa da rua dos italianos fugira para sempre por causa do homem que cuspia fogo, que por sinal, segundo dizem, era “fogo”. Tornou-se uma eficiente engolidora de facas e nunca mais apanhou do ex-marido, Natanael, goleiro do Cajazeiras Futebol Clube.