Se hoje há poucos que se aventuram pelas linhas de um texto, tudo leva a crer que amanhã não será diferente, porque o hábito da leitura deve iniciar-se na mais tenra idade, quando a associação entre o máximo de prazer com o máximo de ócio ainda não incorporou valores na personalidade da criança. Mas o grande problema está no ciclo vicioso que aí reside. Ora, se a grande maioria da população educa seus filhos para que sejam iguais a eles, então por uma questão de lógica, deduz-se que serão uma futura grande maioria de não-leitores. Pessoas envolvidas em variados seguimentos da sociedade que certamente terão algo em comum: um time de futebol, ou escola de samba do coração.
Não há nada de errado e muito menos depreciativo que exista um times ou escolas de samba encantando brasileiros. É necessário o calor de um sentimento ufano-nativista para que se firme a identidade de um povo, algo que lhe confira liberdade e cidadania. O caso é que muito se perde no caminho para essa vida ideal. E a coisa por aqui acaba ficando mais ou menos como na França do fim do séc. XVIII, quando a plebe assistia à burguesia, que eles apoiaram, subir sozinha ao poder e governar segundo interesses próprios e, só depois de muito tempo os plebeus percebem que sua situação continua a mesma, o que mudou foi apenas o tirano ( tirano ou alguém que possuía conhecimentos, reações humanas? De qualquer forma era alguém sem escrúpulos que sabia manejar a grande massa, pensando por eles).
O certo é que um pensamento pequeno burguês e os espólios do trabalho operário contribuíam para um governo unilateral, distante dos ideais de Liberdade, Fraternidade e Igualdade. Mas não havia neste cenário vozes, o bastante, para reclamar a promessa esquecida. E os manifestos de escritores e intelectuais tomaram um papel secundário nas mentes ocupadas com o trabalho e resignadas por distrações, que se arrastam até os dias de hoje.
Ainda que os espetáculos a que o povo tem direito e aceita como sendo sua grande redenção, seja de fato, mas é necessário que se faça no seio da família (no momento em que a personalidade da criança está sendo formada e o adulto é para ela um espelho, sua fonte de inspiração), uma orientação voltada para a leitura, com o fim de criar o hábito, assim como oportunidade de contato com idéias e conceitos que venham interagir com seu universo.
Mas aí vem o calcanhar de Aquiles da questão: como haverá uma orientação voltada para leitura em um meio onde o analfabetismo, o semi-analfabetismo e a má formação escolar dos pais dividem o bolo. Não há aqui a pedante pretensão de solucionar o problema, mas sim uma proposta de reflexão que possa minimizar as diferenças entre programas oficiais e comunitários que se utilizam mais do folclore e dos esportes com o fim de promover a cidadania do que atividades que visam a desenvolver o intelecto e a formação crítica. Por isso torna-se muito mais fácil distrair-se com espetáculos, que muito pode acrescentar é uma alegria repentina, do que utilizar o raciocínio sobre as linhas de um texto, ou preocupar-se com problemas do governo.
Então ao tratar de temas distintos como a distração e a leitura, há de se distinguir o papel entre aquela e esta, e Dar a César o que é de César, pois ambos possuem funções de essencial valor na sociedade e o pecado vem sendo cometido em negligenciar o meio de se adquirir autonomia consciente para exercer os direitos assegurados na constituição, e permitir que o tempo passe sem que se saiba de onde veio, como vai, e para aonde está indo esta gente tão ilustre, tão cheia de idéias com suas fábricas e leis, enquanto se assiste a uma boa partida no campo ao som dos batuques.