993300>De olhos fechados, estou vendo uma enorme enfermaria, pejada de doentes com as mais diversas mazelas. Dentre eles, prestes a finarem-se de exaustão, sobressaiem dois: um chora e outro ri, ambos cadavéricos, debitando vocabulações ininteligíveis. A caminho, para ouvir em confissão definitiva a derradeira verdade, vai um juiz, conduzido pelo seu motorista a 200 kms horários, entre o trânsito que flui profuso e indiferente.
O que estou eu deveras a ver entre o estendal dos demais enfermos casos? Vejo os processos da "Casa Pia" - ímpio caso - e do "Apito Dourado" - caso piadético - dois imbróglios judiciais que, por estranha relação, bem demonstram a actual vidinha dos portugueses. O juiz deixa correr, porque de antemão sabe que, quando chegar, os doentes já terão expirado.
Abrindo os olhos, acabo por ver um octagenário que promete pôr-nos todos a rir, enquanto um jovem indeciso e estúpido, choramingando, a seu lado pede boleia para as calendas da história. Estarei a ver mal?
António Torre da Guia |