Hoje, nas várias áreas do saber que se propõem a estudar o homem e suas relações com o mundo, discute-se sobre um novo modo do humano ser no mundo, sendo transformado, conforme as transformações deste.
No meio psicanalítico acredita-se que o sujeito não apresenta mais uma divisão nítida entre consciente e inconsciente.
O mercado atual, na preocupação de defender apenas seus próprios interesses, promoveu uma inversão de valores, que resulta para o sujeito no fim de sua angústia e de si mesmo. Sendo hoje o mercado que o impele a comprar, criando nele a necessidade de adquirir o que se oferta. Pondo-se, assim, a necessidade do mercado primordial à do sujeito.
Martin Heiddeger e Hannah Arent são autores que debatem a possibilidade de salvar o humano do avanço da técnica engendrada pelo capital.
Heiddeger, ao escrever “Serenidade” (1955), afirmou que as mudanças do mundo atual destruíam a maior marca do ser humano, o pensamento meditativo, deixando-lhe apenas o calculativo. Estando, assim, “o homem em fuga do pensamento”, do meditar.
Para ele esse meditar está ligado ao enraizamento do homem no solo de sua terra natal. Crê que o mundo atual afasta o indivíduo dessas suas raízes, afastando-o não só de sua terra, como também do planeta Terra. Como se entrando num espaço cósmico, sendo deslocado para uma outra realidade. Surgindo, assim, uma nova relação entre ele e o mundo, perdendo cada vez mais seu espaço o pensamento meditativo.
A linguagem, único meio pelo qual se dá o pensamento meditativo, estando cada vez mais simplificada e perdendo sua qualidade, revela estar presente uma transformação cada vez maior nas relações entre os homens.
A perda da qualidade da linguagem, do enraizamento e do pensamento meditativo limitam e lançam o homem às restrições do pensamento calculativo. O avanço tecnológico, essas transformações... para Heiddeger, há muito tempo ultrapassam a vontade e capacidade de decisão do indivíduo. Julga, por isso, ser necessário salvar o ser do homem, permitindo-lhe seguir como ser meditativo. Para isso é necessária a serenidade de que trata seu texto, que consiste em aceitar e negar simultaneamente, propondo também uma abertura aos mistérios que estariam guardados no avanço tecnológico.
Já Arent, em seu livro “A Condição Humana”, apresenta uma diferença entre conhecimento e pensamento, expondo sua preocupação com o futuro do humano se ele se deixar escravizar pelo conhecimento e abandonar sua capacidade de pensar.
Ele crê que a partir do momento em que o primeiro satélite foi lançado no espaço cósmico, o homem anseia por um desejo de desenraizamento, gerado pelo avanço científico. Desejando, também com o avançar da tecnologia, além de fugir da prisão terrena, fugir à condição humana, na esperança do prolongamento da vida.
Afirma que deveria o pensamento coordenar o uso de todo esse conhecimento científico, mas não é o que acontece, escravizando-se o homem ao próprio conhecimento. Assim, a questão do avanço da ciência e da tecnologia passa a ser política, por entrar em questão o discurso, sendo ele que faz do homem um ser político.
A maior proposta de seu livro é refletir sobre “o que estamos fazendo”.
Os autores citados acima possuem um ponto em comum: A preocupação com possíveis formas de fazer barreira a um avanço do discurso técnico-científico capaz de eliminar algo próprio do humano na era moderna.
A linguagem surge como ponto fundamental para as três linhas, é o meio que possibilita a sustentação do ponto-chave de cada uma delas. É ela quem abre caminho à discussão no campo político para Arendt, o saber meditativo para Heidegger e o real do inconsciente para a psicanálise.