Quem sentirá, como eu, que sobre a humanidade paira um indefinido desastre tácito, espécie de atmosfera enegrecida que mais e mais vai provocando a indiferença e a falta de sincera solidariedade humana e de efectiva caridade explícita?
Quem terá, como eu, a entediante impressão que advém do desânimo dos quotidianos e progressivamente desactiva os convívios colectivos que já foram espontâneos e faziam parte crucial da nossa existência: as descontraídas conversas de café, os encontros nos jardins e as interessantes tertúlias de cultura, recreio e amizade?
Quem lobrigará, como eu, que as gentes estão entrando massivamente em bola global, atraídas pela poderosa irresponsabilidade daqueles que, em lugar da pessoa sensível e delicada, vêem apenas um número e, daí, milhares e milhões de números que exploram sem quartel por toda a forma e feitio ?
Quem constatará, como eu, que os jovens hodiernos, fundamentalmente, se estão nas tintas para tudo e para todos, em transe sofismático, cegos pela promissora ilusão mediática com que a devassidão do prazer desmedido lhes acena?
Diacho, passo as mãos por mim, para me certificar que deveras estou aqui, sem sequer considerar-me beneficiário do que quer que seja, e interrogo gritando: SOU EU QUE ESTOU A VER MAL, A OUVIR MAL, A CHEIRAR MAL, A PROVAR MAL E A SENTIR MAL?!...
Em suma: a minoria que vai tomando tento na vida não estará tão só a avolumar a enorme decepção que sofrerá mais adiante, logo que veja gorados seus sonhos e esforços?
Até o meu computador, de vez enquando, me vai dando aviso: O QUE É ISTO?!...
António Torre da Guia |