Quando, entre 1969 e 1972, estive e trabalhei em Cabora Bassa, plena serra do Songo, a norte da então designada província portuguesa de Moçambique, visitei a morte por três vezes: de Land Rover, de Volkswagen 1200 e de Peugeot 404.
Ao cabo de três graves acidentes, dos quais escapei com uns insignificantes arranhões, olhei o céu e disse massajando os botões da minha camisa: não será decerto a correr muito que irei desta para melhor.
A partir dessa altura, ao volante, já dei uma boa dúzia de cambalhotas dentro de um automóvel. Logo que enfim me apalpava incrédulo, para me certificar da minha existência, veio-me sempre à ideia o infortunado James Dean, sorrindo-me com aquele peculiar trejeito cínico e irónico.
Ora, na tarde de hoje, assim que o sol avisar que vem deitar seu habitual beijo sobre a terra, perfará exactamente meio século que James Dean espatifou a sua vida, conduzindo a alta velocidade um Porsche Spider.
Presumo que James Dean, se mais tivesse vivido, não desdenharia visitar a minha querida cidade, o Porto. Como o inequecível actor constitui para mim uma espécie de seguro e tranquílizador talismã, sempre que o 30 de Setembro surge de caras no calendário, também logo a sua imponente imagem me surge no cérebro.
Por consequência, desta feita, decidi trazer James Dean a passear pela Sé. De facto, prezados L&L, a vida da gente, entre todos os cálculos possíveis, pode continuar para além da morte...
António Torre da Guia
Som = Celine Dion em "A new day has come" |