Nós brasileiros conhecemos uma lei antiga que tomou outro nome, marcando de forma degradante um jogador de futebol. A lei antiga é o princípio de que “os fins justificam os meios”; o outro nome dela, no Brasil, é “lei de Gerson”. A “lei de Gerson” lembra a “sabedoria”, com aspas. A palavra sabedoria tomou uma conotação diferente do seu valor semântico e ético conhecido, em nosso país. O fazer tudo em benefício próprio, para ganhar, para ser vitorioso, não importando quem vai derrubar, quem vai deixar pelo caminho, é condenado moralmente. Ainda bem que para o adjetivo concernente há um termo da mesma raiz, em português do Brasil, que clarifica mais ou menos a confusão entre “sabido” e sábio.
Segundo Sócrates, filósofo que veio antes de Jesus, “sábio é aquele que sabe que não sabe”.É humildade, mansidão, bondade.
A Bíblia é um livro de sabedoria. Pois no Evangelho de São Mateus, está dito como parábola, palavras de Jesus:
“Todo aquele, pois, que ouve as minhas palavras, e as observa, será semelhante ao homem sábio que edificou a sua casa sobre rocha; e caiu a chuva e transbordaram os rios, e sopraram os ventos, e investiram contra aquela casa, e ela não caiu, porque estava fundada sobre rocha. E todo o que ouve estas minhas palavras e não as pratica, será semelhante ao homem louco, que edificou a sua casa sobre areia; e caiu a chuva, e transbordaram os rios, e sopraram os ventos, e investiram contra aquela casa, e ela caiu, e foi grande a sua ruína.”
De outra feita, Jesus declarou: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”.
Mas quantas interpretações não seriam dadas a esta frase? Faz pouco tempo, segundo o catecismo católico, “o temor de Deus é o princípio da sabedoria”.
Einstein, o descobridor da relatividade, declarou que não há relação nenhuma entre o religioso e o ateu. Nenhum homem é mais sábio por ser crente ou não acreditar em Deus.
Michel de Montaigne, filósofo e escritor francês, precursor do iluminismo, acredita que “o sinal mais seguro da sabedoria é a constante serenidade”.
Porém, o homem é muito mais complexo do que freqüentemente julgamos, os cientistas a cada dia descobrem novos mistérios, enquanto outros vão sendo investigados. Temos corpo, mente e espírito. Quando estas três forças que nos compõem, nos ajustam, nos unem o ser, a felicidade, a sabedoria apontam. Mesmo que não tenhamos muita cultura. Para ter cultura basta acumular dados, conhecimentos, e isto pode ser feito num certo número de anos, por qualquer pessoa razoavelmente normal. Mas para adquirir sabedoria precisamos da vida inteira.
E de muita meditação.
Triste do jovem teimoso e egoísta que não se aproveita da experiência alheia, para realizar seus intentos e seus atos. Irá sofrer muito e talvez não chegue a lugar nenhum.
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*Francisco Miguel de Moura é escritor e mora em Teresina. Seu e-mail: franciscomigueldemoura@superig.com.br