Copiei abaixo uma matéria, que publiquei no jornal “Comércio do Jahu” no dia 06 de dezembro de 1992, um domingo. A intenção era alertar a população para os desmandos e a irresponsabilidade de um prefeito que saía e deixava máquinas, obras, funcionários, tudo em petição de miséria, em razão do abandono total a que se propôs o tal prefeito, quando percebeu que o seu candidato, (naquele tempo não havia a reeleição), estava prestes a ser derrotado.
Bom, o artigo não era lá essas coisas. Apenas fiz uma analogia com a retirada dos russos, quando da invasão pelos alemães em 1941, talvez colocando pra fora um pouco de meu gosto pela História, assim como uma vocação de historiador. Uma matéria simples, sem nenhuma pretensão maior do que a de alertar a população para essas ocorrências que iam se tornando comuns. O novo prefeito ao assumir não podia fazer nada de início, apesar da vontade de trabalhar e mostrar serviço à população, que o elegeu. Não fui induzido a publicar esse texto, mesmo porque nunca tive nenhum relacionamento com o tal prefeito eleito. Apenas senti o drama como quase todos os meus conhecidos na época para a situação deprimente que o prefeito eleito encontrou de cara.
Mas, a matéria teve um sentido maior ou digamos assim, uma espécie de raiva minha, quando anos depois, em 28 de outubro de 2000, um sábado, foi publicada se não me engano na “Folha de São Paulo” e também no jornal “Comércio do Jahu” um artigo com o mesmo título “Terra Arrasada”. E quem assinava sem a menor cerimônia a tal matéria? Ora, vejam só, quem assinou a tal matéria copiada da minha, pelo menos na parte em que damos a introdução do artigo, quando preparamos o leitor para uma comparação do assunto a que nos propomos; quem assinou o artigo que também levou o mesmo título “coincidentemente” (e bota coincidência nisto, posto que o plagiador nem teve a dignidade de mudar o título) e que por acaso está sempre por aqui na região de Jaú, porque viveu muito tempo em Dois Córregos aqui perto; quem assinou a matéria foi nada mais, nada menos que o conhecido jornalista CARLOS NASCIMENTO. Roubar um texto introdutório, para falar ou escrever o mesmo tratamento quanto à analogia, que EU me propus escrever ineditamente em 1992? Não parece com a tal falta de capacidade? Não se parece com a tal falta de consideração por outro que, se não era jornalista na época, tinha e sempre teve a alma do próprio? Talvez pelo tempo decorrido (oito anos depois) o Sr. CARLOS NASCIMENTO imaginou que o autor ou estivesse morto, ou continua lá embaixo sem as oportunidades que o Brasil não dá a quem realmente tem capacidade e jamais redige um texto baseado em texto alheio. E se o faz, cita com destaque o nome do autor e o nome do lugar (livro, jornal, etc) onde foi localizado. O Brasil tem culpa no cartório porque tais oportunidades, citadas acima, somente acontecem para quem é assim como o Sr. CARLOS NASCIMENTO, que pouco está se lixando para autores desconhecidos. Podendo neste caso, apoderar-se do pensamento deles, uma vez que ninguém ficará sabendo. Mas, ele esqueceu-se de uma coisa: hoje existe a WEB. A rede internacional de computadores. Espaço para nós, relegados a planos inferiores pelos maiorais da comunicação e que, no entanto se agiganta pelos lares, não apenas do Brasil, mas do mundo inteiro. E é considerado território livre.
Gente, e esse cara dá uma de grande figurão aqui na região! Tenta salvar o Tietê! Fala de nossas casas históricas! E vive fazendo discursos que não dizem nada. Não têm conteúdo. Não significam nada para a população, sofrida, é claro! Por que o Sr. CARLOS NASCIMENTO só se preocupa com as tais elites da região.
Não me importaria dele ter publicado a matéria, contendo em seu âmago uma estratégia do meu pensamento, caso tivesse me dado uma satisfação. Assim, por exemplo:
-Ô seu trouxa, posso editar uma matéria com o título da sua e contendo o pensamento da sua? Assim como recebo e-mails de pessoas que me pedem autorização para publicar uma poesia minha, um artigo meu, qualquer coisa minha em um jornal, em um blogger, etc. E estas são pessoas simples, comuns, sem nenhuma pinta de jornalistas. Mas, são pessoas honestas, sinceras. Não têm a pretensão de roubar o que é dos outros.
Agora o Sr. CARLOS NASCIMENTO, o todo poderoso da Band resolve simplesmente publicar a alma do meu texto, simplesmente porque eu sou uma figura inexpressiva para ele.
É gente. Moramos mesmo num país cheios de cópias carbono como é esse tal CARLOS NASCIMENTO. Cópias xerox que obtêm sucessos porque simplesmente costumam roubar o pensamento alheio.
Mas, para entender o caso, vamos ler minha matéria, publicada em 1992; e posteriormente a matéria do tal jornalista, publicada em 2000:
TERRA ARRASADA
Na madrugada de 21 de junho de 1941, as forças armadas alemãs, compostas de milhares de aviões, tanques, caminhões e três milhões de homens atravessaram a fronteira da então União Soviética e adentraram pelo interior da Rússia, numa invasão que se tornou polemica, da maior e mais moderna maquina de guerra já presenciada pela humanidade.
Durante quase um ano o exército alemão não recuou, nem mesmo estrategicamente. Só houve avanço. Os russos por sua vez aprenderam logo uma tática de guerra denominada de “terra arrasada”. Consistia esta tática em destruir aldeias, fazendas coletivas e até cidades inteiras, no intuito de deixar os alemães “na mão”. Isto é, sem alimentos, sem munição, sem água e sem combustíveis. Queimavam tudo. Deixavam apenas o solo batido. Nem mesmo as casas podiam ser aproveitadas pelos nazistas para fugirem do rigoroso inverno russo. A coisa acabou ficando “ruça” para os alemães.
Bem o fato é que no Brasil os diversos governantes, estadistas e políticos de espírito radical e prepotente além de impatrióticos costumam aplicar o mesmo estratagema russo, o de “terra arrasada”, para prejudicar a boa vontade do rival vitorioso nas eleições. Com isto, eles freiam o impulso inicial e a capacidade de trabalho do candidato eleito, muitas vezes de boas intenções e anseios de mudanças.
Esses maus governantes depenam totalmente os recursos públicos em obras desnecessárias, quando não usufruem desses recursos de maneira sutil em excessos de inaugurações e festas. Parece que, em assim sendo, não temos apenas o Collor em Brasília, temos, outrossim, milhares de pequenos “collors” espalhado pelo país, o que caberia outras milhares de CPIs.
As diversas prefeituras ficam solapadas de recursos e quando o rival vitorioso assume, acaba sem poder fazer nada, pelo menos no primeiro ano de governo. O que poderia um prefeito eleito realizar num município, cuja prefeitura esteja depauperada? Como governar uma máquina emperrada e quase que destruída? Por que esta falta de bom senso do derrotado para com o próprio torrão natal?
Ao saber do comportamento do presidente Bush, cumprimentando o vitorioso Bill Clinton, esses nossos políticos de cada dia deveriam ter um pouquinho de sensibilidade ou vergonha na cara de pelo menos tentar imitar os homens de grande caráter da América do Norte, e, fazê-lo pelo menos para agradarem seus eleitores, já que não o fazem por dignidade e educação.
Enfim, essas coisas acontecem em nosso país como um todo. Não é à-toa que somos terceiro-mundistas atravessando a porta de entrada para o quarto mundo e já vislumbrando o quinto.
Não é a primeira vez que assisto essa estratégia feia, deselegante e o pior de tudo antipatriótico do “terra arrasada”. Afinal, os políticos aqui levam a concorrência tão a sério que metamorfoseiam a luta pelo poder em uma guerra real, desde que as vítimas sejam os cidadãos comuns.
Jeovah de Moura Nunes
(publicada no jornal “Comércio do Jahu” de seis de dezembro de 1992)
Coloco a seguir a matéria com sua segunda versão, mas que tem o título e a estratégia da introdução com a mesma produzida por mim, em 1992, copiada, é claro, pelo Sr. CARLOS NASCIMENTO, que nasceu aqui na região e fez jornalismo (radialismo) em Jaú. Também se não me engano na região. Depois da publicação desta matéria “TERRA ARRASADA” foi que o Sr. CARLOS NASCIMENTO teve um impulso, que o destacou, principalmente na Rede Globo como um “grande” jornalista.
---------------------------
TERRA ARRASADA
(Carlos Nascimento)
Era a expressão usada pelos russos quando recuavam diante dos alemães na Segunda Guerra. Não deixar nada que o inimigo pudesse aproveitar. Queimar plantações, envenenar poços, destruir pontes e estradas. Sem comparar as situações, mas recorrendo às palavras, é o que o novo prefeito de São Paulo terá pela frente.
Uma tarde destas me encontrava no Centro e devia ir a Pinheiros. A rua da Consolação, a Rebouças, o Pacaembu e a Cardoso de Almeida estavam intransitáveis. Resolvi escapar pelas bordas. Passei pela praça Marechal Deodoro, avenida Francisco Matarazzo e atravessei parte da Lapa. Debaixo do Minhocão, moradores de rua dividem a calçada com sujeira, restos de móveis, fogareiros e colchões. No antigo quarteirão das firmas de refrigeração, tudo fechado. Nem a veterana Casa Conde resistiu. No trecho da antiga fábrica Matarazzo surgiu um conjunto de prédios envidraçados muito bonito. Contraste com o charmoso edifício da União Operaria, no começo da rua Guaicurus. Com as janelas substituídas por plásticos e as paredes pichadas, está se acabando. Pichação é o que mais se vê. Desde as casas abandonadas até nas fachadas novinhas. Nem as paredes do prédio da Administração Regional a Prefeitura se dá ao trabalho de limpar.
O asfalto das ruas é vergonhoso para uma cidade que pretende ser a capital do Mercosul. Só ondulações e buracos. A sinalização de solo está gasta e o trânsito é caótico. Veículos maiores, como os ônibus, lotações e camionetes de bacanas, investem contra carros comuns. Motoqueiros transformam as ruas em sua pista particular. Costuram, esbarram, buzinam e passam sobre as calçadas. Não há polícia de trânsito. Uns poucos funcionários da CET se limitam a sinalizar quando há acidentes. Levei quase uma hora para ir da avenida São Luís à praça Panamericana. Lá, o nó no trânsito era tamanho que estacionei o carro para decidir o que fazer.
Isso é o que se vê numa viagem por alguns bairros tradicionais. Imaginem o que estão passando os moradores da periferia. Os que dependem de transporte coletivo, de escola e saúde públicas e se acham muito expostos à violência urbana.
E o pior não é isso, mas a inexistência de qualquer planejamento para o futuro. Ao mesmo tempo em que está mergulhada no caos administrativo, a cidade não sabe o que fazer ano que vem ou daqui a cinco anos. A Prefeitura deixou de pensar em São Paulo. O que, certamente, não acontece com as grandes empresas que pautam seus negócios também pela qualidade de vida. Será que continuarão investindo por muito tempo numa cidade suja, mal conservada, insegura e de trânsito caótico? Aí estão algumas questões levantadas por um paulistano para o novo prefeito que começa nessa segunda feira a planejar o seu mandato.
Carlos Nascimento
(jornalista)
(publicado no jornal “Comércio do Jahu”, entre outros jornais, em 28 de outubro de 2000, se não me engano num sábado).