O poeta, que quiçá pela eloquente expressão está em panteónica paz, lado a lado com o lusitano "fingidor mor", concebeu o destino pátrio além do solo: "A minha pátria é a minha língua". Naturalmente, só a um poeta ocorreria a existência física no espaço sonoro.
Estou deveras surpreendido com a azáfama política do nosso actual governo. Num ápice, decretou a obrigatoriedade do inglês escolar, impôs um empurrão suplementar aos alunos cábulas e, enfim, abrindo uma porta exclusiva aos lusofalantes, parece interessado no desenvolvimento de facto da Comunidade de Países de Língua Portuguesa, queiram ou não queiram Bush, a rainha inglesa e seus sucessores.
No Brasil, Lula, entre a escandaleira do "mensalão", não consegue nada de real sobre a "Fome Zero". Em África, após 30 anos de independência, a mais escabrosa das misérias alastra ao sabor do apetitoso linguarejo lusofalante.
O que em breve resumo descrevo é rigorosa verdade hodierna: a minha pátria é a minha língua, inglês obrigatório, empurrão à aprendizagem, venham daí meus irmãos, vamos todos à vida em português. Todavia, não será mais poético do que o poeta? Pessoa, no seu tempo, dominava muitíssimo bem o inglês na África do Sul...
Já agora, obrigue-se agradavelmente os miúdos todos, a partir dos cinco anos, a aprenderem a tocar guitarra. Os ingleses adoram o fado e ficam de olhos em bico em face da "bruxa de pinho".
António Torre da Guia |