Padre Vladimir Barbosa Hergert
Quando saí da casa de meus pais para ir ao seminário eu tinha um grande sonho: queria ser padre. Naquela ocasião era uma grande aventura colocar-me nas mãos de Deus e levar Seu Amor a tantos sofredores, desesperançados, entristecidos da vida. Uma força superior me movia, nada era empecilho, nada era impossível... eu sabia que haveria problemas, mas eles nunca me pareciam intransponíveis.
Passaram-se os anos, já padre, vim para Araras. O sonho sempre foi grande: queria ser bom. No começo, queria muito implantar minhas idéias. Tinha pressa com os resultados. Acho que projetei muitos planos, empreendi muitos esforços. O tempo encarregou-se de “podar-me”. Percebi que as pessoas apreciam novidades, gostam de atenção, de ser acolhidas, mas também querem tomar conta, apossar-se, controlar.
Conscientizei-me que as pessoas precisam de padre, nem sempre de mim. Aprendi que não consigo, nem preciso, agradar todo mundo. Que, às vezes, não sou tão bom quanto gostaria. Que perco a paciência, que chateio, fujo, sofro, me entristeço...
“Deus sempre me
surpreende... Ele me
leva a ver as coisas de
um outro ângulo...
me inquieta.”
Hoje quero muito continuar sendo padre, não aquele do meu sonho, nem o dos primeiros anos de sacerdócio. Quero ser o padre que eu consigo ser. Este que Deus, Nosso Senhor, tem me feito. Cheio de boa vontade, mas também limitado. Capaz de servir e de frustrar. Preocupo-me ainda com o fazer. Padres mais velhos dizem-me que isto passa. O que mais poderia ser feito pelas crianças? Pelos jovens? Pelos casais? Pelos pobres? Pela família?
Confesso, quero ser mais missionário. O missionário sai de si, vai em direção aos outros. Quero encontrar mais gente. Quero partilhar de suas vidas. Quero ver Deus nelas e ajudá-las a vê-Lo. Quero ser mais livre, menos acomodado, mais paciente... Quero ser mais instrumento, menos visível. Quero aprofundar mais e espalhar menos. Frutificar mais. Servir mais. Rezar.
Eu ainda tenho sonhos. Comunidades mais unidas. Povo missionário. Gente alegre. Festa. Partilha. Talvez sejam muitos, mas eles me encantam e dançam na minha vida, empurrando-me para frente.
Deus sempre me surpreende, quando penso que estou entendendo, “controlando”, me acomodando, Ele me leva a ver as coisas de um outro ângulo, me mostra algo novo, me inquieta. Isto me seduz e eu me rendo.
Padre Vladimir Barbosa Hergert,
diretor do jornal “Nossa Igreja Católica”,
é Pároco da “Igreja Matriz Nossa Senhora do Patrocínio”.