Cervantes, o cubano das missões especiais, despede-se de Lula e Dirceu, em março de 2003: de volta para Havana". (Foto da revista Veja)
Apesar disso, Dirceu jura de pés juntos que "não conhece" nem "nunca viu" o tal Cervantes... Uma foto vale mais que mil e trezentas palavras mentirosas.
Dois dias depois de ser apontado como o responsável pela entrega de US$ 3 milhões clandestinos para o PT, o diplomata cubano Sérgio Cervantes deixou ontem o Brasil sem comentar a suposta doação de seu país à campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A amigos parlamentares do Grupo de Amizade Brasil-Cuba, Cervantes teria dito que a denúncia seria risível. "Ele achou graça porque considerou a denúncia fantasiosa e não se pronunciou porque a embaixada de Cuba já negou que tenha feito qualquer doação", disse um deputado petista que esteve com o diplomata cubano e pediu para não ser identificado.
Já o embaixador brasileiro em Cuba, Tilden José Santiago, permanecerá em Brasília e hoje terá um almoço com o deputado José Dirceu (PT-SP), que à época da suposta doação era presidente nacional do PT.
Tilden disse que não poderia falar sobre o caso na condição de embaixador, mas afirmou que como militante político e ex-deputado não acredita na doação de Cuba para o PT. Segundo ele, Cervantes também não era o tipo que se prestaria a um trabalho desses. "Não há nenhuma possibilidade disso ter acontecido. Cervantes, que é um diplomata que conhece bem a realidade brasileira, não faria isso."
Dirceu negou conhecer Cervantes, embora tenha sido fotografado trocando um forte abraço com o diplomata. "Eu não conheço, nem nunca vi", garantiu. Assegurou não ter mantido nenhum contato com Cervantes, nem mesmo durante a temporada em que permaneceu em Cuba recebendo treinamento de guerrilheiro. "Quando cheguei, ele já não estava lá." Só que fonte qualificada da embaixada brasileira em Cuba assegurou que Dirceu e Cervantes são amigos e se conhecem há muito tempo.
Velho conhecido – Na verdade, Cervantes é um velho conhecido de petistas e comunistas brasileiros. Há duas semanas, ele tomou parte do 11º Congresso do PCdoB, na condição de delegado do Partido Comunista Cubano (PCC).
Negro, forte e simpático como um baiano de Salvador, Cervantes notabilizou-se como íntimo de deputados e senadores brasileiros. Entre os seus instrumentos de aproximação, estão dois produtos típicos de seu país. "Ele distribuía para deputados e senadores charutos e rum, mas sem dólar dentro", brinca um deputado do PT.
Excursões – Cervantes também preparou excursões de parlamentares para conhecerem a ilha de Fidel. "Fizeram essas viagens parlamentares de todos os partidos, embora Cervante fosse próximo do PT e do PCdoB", contou uma fonte da embaixada brasileira em Cuba.
No PCdoB, Aldo Rebelo seria um dos seus principais interlocutores. "Cervantes era consultor político de Cuba e tinha relação com todos os partidos. Não há possibilidade dessa doação ter acontecido", disse Sigmaringa Seixas (PT-DF). Mas todos admitem que o governo cubano tem muitos interesses no Brasil, principalmente, o de abrir linhas de crédito. "Esse é mais um motivo para eles não se meterem assuntos internos", argumentou o deputado. (AE)