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Artigos-->Santa MANOELINA DOS COQUEIROS -- 04/11/2005 - 10:17 () Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
(Uma pequena contribuição ao registro das crendices, da cultura e da nossa religiosidade popular)





No princípio da década de 1930, no povoado dos Coqueiros, situado a cerca de 12 km da atual cidade de Entre Rios de Minas(MG), uma moça começou a fazer milagres. Analfabeta, Manoelina Maria de Jesus (1911-1960) ficou conhecida como a “Santa Manoelina dos Coqueiros”. Era moça simples, pobre, honesta, fervorosa e que vivia a cantar benditos; dizem que se alimentava apenas de vinho e água. Atualmente o local onde está situado Coqueiros pertence ao município de Desterro de Entre Rios, emancipado de Entre Rios de Minas.

Naquela época Entre Rios ficou conhecida no País inteiro, por causa de reportagens veiculadas na revista "O Cruzeiro" e no Jornal "A Noite", onde o repórter Davi Nasser narrava os milagres acontecidos em Entre Rios de Minas. Consta que a “santinha” nunca recebeu dinheiro pelos milagres e que o lugarejo de Coqueiros estava sempre cheio de doentes e romeiros, já que a notícia dos prodígios que ela operava se espalhou por MG e diversas regiões do Brasil. O local tornou-se um centro de fé e curiosidade. Os poucos carros da época não davam conta de transportar os romeiros que vinham de toda parte, via Jeceaba. Chegavam cartas de todo o Brasil e até do exterior, as quais ela benzia e ateava fogo logo em seguida. Algumas pessoas afirmavam que as correspondências continham dinheiro, pois moedas de 1.000 réis e pesos eram vistas entre as cinzas dos papéis das cartas.

A historiadora de Crucilândia, Conceição Parreiras Abritta, registrou no seu livro História de Crucilândia (Belo Horizonte, Página Studio Gráfico, 1988, pp.100 e 102-103): "chegavam caminhões repletos de pessoas em sua casa, gente a pé, a cavalo, pessoas vindas de todos os lados. A família de Manoelina não tinha mais sossêgo nem para trabalhar. Chegavam sacos repletos até às bordas de correspondência, muitas das quais traziam dinheiro". Vestia-se de uma túnica azul comprida e um véu branco na cabeça. Dormia em um catre de madeira, sem colchão e roupa de cama”.

O prof. Saul Martins (in Folclore em Minas Gerais. 2a.Ed. Belo Horizonte, Ed.UFMG, 1991. p.68), assim opinou: "na área do espiritismo, sobretudo o de Alan Kardec, a primeira grande expressão revelada foi Manoelina ou Santa Manoelina dos Coqueiros, como se tornou conhecida e venerada na década de 30. Seguiram-se Chico Xavier (...), Zé Arigó...". Num cômodo de terra batida Manoelina rezava e recebia as pessoas, muitas das quais traziam ex-votos de cera e retratos. Ela benzia água que era distribuía para as pessoas. Rezava e pedia que rezassem... Normalmente não receitava remédios.

Carlos Drummond de Andrade, sob o pseudônimo de “Antônio Crispim”, publicou no “Minas Gerais”, em 25/02/1931, uma bela crônica a respeito de Manoelina. A crônica foi republicada na “Revista do Arquivo Público Mineiro”, ano XXXV, 1984, páginas 80-81. Drummond relatou que “...as pessoas que antigamente, no dia mais ocupado da semana, também chamado dia de descanso, seguiam para Santa Luzia, Morro Velho ou Acaba Mundo, vão hoje a Entre Rios, onde uma santa faz milagres no alto de um morro. (...) A maioria, porém, vai a Coqueiros porque Coqueiros é um lugar de bênçãos onde um diálogo se estabelece ardente e puro, entre os anjos do céu e uma cafusa da terra (...). A cafusa pede ao anjo que ponha ordem nas coisas do mundo, que retifique a perna dos paralíticos, que sare as feridas e conforte os comerciantes falidos. O anjo diz que vai providenciar e recolhe esses apelos da dor humana. Enquanto isso, no morro, distribui-se uma água que jorra da bica, e nessa água, que lava todas as misérias, os homens inquietos e as mulheres torturadas encontram a paz que inutilmente haviam perdido nos santuários, nas ruas e nos cinemas deste mundo. A santa, que é pobre, inspira mais confiança aos pobres que outras santas, e sendo trabalhadora humilde da fazenda, tudo a recomenda ao carinho dos humildes, dos pequeninos, que até agora não tinham uma representante direta na classe das taumaturgas (...). A lição de Manoelina aos aflitos e curiosos que a procuram é uma lição de humildade (...). Na sua casa de barro, entre coqueiros, diante do trenzinho da Central em que todos os doentes e infelizes de Minas e do Rio tomaram passagem, a santa rural fornece água, consolo, palpites de loteria, indicações para ser feliz em amor, e mil outras coisas importantes... ”.

A fama de virtuosa de Manoelina, como não poderia deixar de ser, chegou até a região de São João del-Rei - MG. Eu já ouvi dos pais, avós e amigos, relatos de que romarias eram organizadas com destino a Coqueiros. Muitos de meus ascendentes já participaram desta peregrinação... Ir a Coqueiros era, se assim posso dizer, o programa imperdível da época, quer seja pela curiosidade, pela fé ou pelo simples orgulho de ter o que dizer para os amigos. Em 1932, as presenças de José Vespasiano de Abreu (vulgo “Pinho”, então fazendeiro de Nossa Senhora de Nazaré, atual Nazareno-MG), Francisco Guimarães Mattar (o “Chico Turco”), José Lopes da Silva (“Nhonhô Lopes”) e Evandro Ávila (o “Vandico”, pai do advogado e ex-deputado estadual Wainer C. Ávila) foram registradas numa fotografia, onde o quarteto está postado defronte ao casebre onde Manoelina viveu, montado em vistosos cavalos...

Vítima de uma anemia profunda, aos 49 anos de idade, em 14 de março de 1960, faleceu em Crucilândia (MG), Manoelina Maria de Jesus. A chamada Santa dos Coqueiros foi enterrada no cemitério paroquial de Crucilândia, na sepultura número 284", onde os romeiros ainda a invocam e recebem muitas graças, deixando ali, como retribuição, muitas flores...

Acredito que, como já disseram frei Chico (Franciscus Henricus van der Poel) e Lélia Coelho Frota (que editou juntamente com frei Chico o ABECEDÁRIO da Religiosidade Popular – Vida e Religião dos Pobres), “a religiosidade popular tem uma dimensão histórica e é essencialmente manifestação de vida. É a fé católica dentro de uma realidade muito concreta. (...) No ano de 1992, os bispos da América Latina reafirmaram, em Santo Domingo, sua opção preferencial e bíblica pelos pobres e defenderam a inculturação do Evangelho nas mais diversas culturas. Achamos que, sem conhecer e valorizar o sistema das culturas, dos comportamentos e das formas de fé que constituem a religiosidade popular, não será possível imaginar esta inculturação”.
Comentarios

Mateus  - 26/08/2021

Coqueiros pertence a Entre Rios e não a Desterro de Entre Rios

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