Assuntos com envolvência política, como é o caso do famigerado "mensalão-brasileiro", apaixonam-me e, ao mesmo tempo, causam-me uma enorme repugnância, tal como, por exemplo, um homem que vive com uma mulher, porque gosta muito dela, e sabe que a matrona também se deita com outro.
Eu, em princípio, presumia que Lula, um cidadão oriundo do povo que ascendeu à mais alta posição social do Brasil, dado o contexto em que foi eleito, seria um daqueles homens para quem a honra de ser honesto transcenderia qualquer ínvia situação de menor dignidade. Enganei-me. E enganei-me porque o presidente do Brasil, em face do trágico-ridículo "mensalão", não entregou o seu imediato julgamento nas mãos de quem o elegeu. Sabendo-se seriamente comprometido não poderia fazer a correcta e sábia jogada que desde logo lhe garantiria o próximo lustro em Brasília.
Assim, desde logo constatei, que Lula, embrulhado dos pés à cabeça no imbróglio, preferiria lengalengar a fim de permitir que o tempo se encarregasse de diluir as arestas do escândalo. E assim mesmo está a acontecer. De dia para dia, o vergonhoso processo, em lugar de apertar as malhas à rede, abre-as, e, no meio dos peixõezinhos que se abarbatanam entre si, até os tubarões ganham asas e se escapam como peixes-voadores. De facto, o "doa-a-quem-doer", pelo menos, aos que roubam forte e feio, não dói nada e dá até um gozo carnavalesco do caraças.
Analise-se a notícia sobre a mais recente evolução do efeito:
000099>"O presidente Luiz Inácio Lula da Silva bateu na tecla de que não foi provada a existência do chamado mensalão, embora ele já esteja marcado na mente da população, e disse nesta sexta-feira que existem setores da oposição que estão procurando "esticar a corda" de olho nas eleições do próximo ano.
"O que eu desejo é que apurem com rigor tudo que já falaram publicamente, porque se não apurarem o que vai acontecer? Vai redundar no que aconteceu na CPI do Mensalão, vão chegar à conclusão de que não teve mensalão", disse Lula em entrevista a rádios regionais, no Palácio do Planalto.
Na quinta-feira, o relator da CPI do Mensalão, deputado Ibrahim Abi-Ackel (PP-MG), leu seu relatório, no qual reconheceu que deputados receberam transferências indevidas, mas não foi categórico quanto à forma. "Chamem isso de mensalão, mensalinho, semanão ou quinzenão", diz o texto do deputado.
Lula reclamou o fato de que na "na cabeça do povo brasileiro" já existe a idéia do mensalão, "que criou uma confusão generalizada no país".
"É uma palavra fácil. Agora quero ver quem vai tirar da cabeça do povo que tem mensalão."
"Eu acredito piamente que estamos vivendo um momento em que as insinuações às vezes não têm respaldo no dia seguinte, mas vão ganhando corpo, vão ganhando corpo", repetiu.
O presidente condenou a oposição quando ela busca transformar tudo em questões eleitorais
"Tem muita gente tratando penas de tentar transformar toda e qualquer coisas numa questão eleitoral, coisa que não é saudável", disse Lula. "Obviamente que tem gente séria, que quer apurar, mas tem gente que quer estivar a corda (...) tem gente que não se contenta em ver o Brasil dar certo."
REELEIÇÃO
Depois de afirmar pelo menos cinco vezes, de formas diferentes, que ainda não se decidiu se tentará a reeleição no próximo ano, Lula acabou dizendo que irá "sim disputar as eleições", para, na sequência, repetir que não tem pressa sobre o assunto.
Um pouco depois, quando um jornalista chamou a atenção para a declaração de Lula dizendo que irá disputar a eleição, o presidente reiterou que ainda não tomou uma decisão.
"Eu poderia dizer ontem que eu sou candidato (...) eu não vou dizer porque ainda não decidi se sou candidato, apenas isso. Não decidi, não tenho pressa de decidir."
Ao ser questionado sobre ataques de parlamentares que disseram que dariam uma "surra" no presidente ou que o chamaram de "bandidão", Lula disse que seu cargo "não me permite fazer política rasteira".
Sobre as críticas do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que classificou os juros praticados pelo atual governo como "cavalares", Lula disse que não faria comentários.
"Contra ele tem os números", disse, citando vários indicadores, entre os quais os próprios juros. Segundo o presidente, a média dos juros no governo anterior foi o dobro da média na sua administração.
Lula reafirmou também que, como presidente, tem a responsabilidade tanto dos acertos como dos erros de seus assessores. Em nenhum momento, disse, vai transferir essa responsabilidade.
"Porque quem teve voto foi o presidente da República e que, portanto, essa responsabilidade é intransferível, nos erros e nos acertos."
Ora, quanto a mim - que, exceptuando a curiosidade natural, nada tenho a ver com isso - as declarações de Lula são um livro aberto de culpabilidade e as suas declarações, para quem bem penetra na revelação das entre-linhas, procedem dos convénios prévios que tendem a meter o "mensalão" de pernas para o ar na gaveta, tipo gato enterrado com o rabo de fora, mas cortado pela base.
Você, Leitora ou Leitor, nu e cru, sabe o que é que um cidadão comum,cá da minha querida terrinha, diria perante as grotescas cambalhotas de Lula?
- Ó Lula, vai-te fadar!...
António Torre da Guia |