Fala-se que não há mais críticos e, portanto, crítica especializada. Sim, claro. Mas creio que “a nova crítica” se levanta. E é feita mais pelos escritores e poetas que pelos críticos profissionais, exceto a crítica universitária, que quase sempre trata de assuntos já batidos, talvez porque tenha medo de enfrentar o novo que há na literatura nacional.
Saudemos, pois, com gosto e reconhecimento, um exemplar da “nova crítica”. Vem da experiência e da pena de Moura Lima, da linha regionalista, um novo regionalismo que contempla não somente a coleta de palavras, expressões, aforismo, mas também a sociologia e a psicologia primitiva desses personagens, uns orgulhosos de suas lutas e crueldades, outros nem tanto, cujo valor maior foi terem cooperado apoiando ou guerreando os coronéis da época.
Moura Lima (nome literário de Jorge Lima de Moura) soa alto a partir do Tocantins, inaugurando praticamente a literatura naquele novo Estado. Autor de obras de poesia e teatro, hoje escreve romances e contos, e é uma excelente vocação de crítico literário, viajado, culto e homem de muitas leituras. Advogado e fazendeiro, formado em Letras, realizou obra de excelente qualidade, tendo como tela o seu Estado, haja vista os romances “Serra dos Pilões” e “Chão das Carabinas” e os livros de contos “Veredão” e “Mucunã”. E é dentro desse contexto que apresenta ensaios publicados em jornais e revistas, e outros inéditos, tudo agora reunido sob o título de “ZÊNITE – A LINGUAGEM DOS TRÓPICOS”.
Como já disse noutros lugares, a crítica é uma atividade muito difícil. E se essa atividade é tão difícil, imagine-se fazer a crítica da crítica. Porém, estes ensaios de Moura Lima são tão importantes, nota-se à primeira vista, que não podemos deixar o evento em branco. Têm, assim, nossa palavra de incentivo, especialmente porque estão em acordo estilístico com o seu modo de ser, viver e reviver experiências, de sentir o mundo e transformar o que sente em arte literária. “Pelos Sertões do Piauí” e “Chapada Diamantina, um Paraíso perto do Céu” registram o modo de ser de viventes que guardam semelhanças com o seu povo de Goiás/Tocantins; em “Minha Terra, Minha Gente” a paisagem se casa perfeitamente com a linguagem ensaística, a forma se transforma numa espécie de ensaio/viagem-por-mundos-desconhecidos, mas tudo com elegância, nobreza, precisão. Não obstante haver destacado alguns, em todos os seus trabalhos encontraremos o que viu e sentiu em suas viagens dentro do estilo original e característico que vem criando. Há pelo menos três trabalhos que são estritamente literários: o que disserta sobre “Recordação da Casa dos Mortos”, de Dostoievski, de quem é leitor contumaz, e os dois que contemplam a obra dos escritores piauienses William Palha Dias e Francisco Miguel de Moura, pois Moura Lima é um grande amigo do Piauí. Já deveria ter o título de cidadão piauiense pelo que divulga de bom do nosso Estado.
Como acredito que nenhum prefácio deva ser longo, especialmente se se destina a um livro de crítica, para não cair na tentação de explicar demais o que somente a obra pode dizer, fecho aqui apoiado em palavras do filosofo alemão Hegel (1770-1831), que são quase uma máxima: “Quem exagera o argumento prejudica a causa”. E a causa em questão é útil, nobre e oportuna, não pode nem deve ser prejudicada. Os leitores hão de comprovar estas assertivas, com a própria leitura do livro mencionado e não com a minha leitura, por mais categorizada que seja.
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*Francisco Miguel de Moura é poeta, romancista, contista e crítico literário, mora em Teresina; e-mail: franciscomigueldemoura@superig.com.br