O "destino" de José Dirceu, a rigor, não diz muito, nem pouco, nem nada, sobre os problemas políticos mais prementes de solução em nosso eterno "berço esplêndido, país do futuro".
Continuaremos sendo o píncaro da desigualdade social e concentração de renda. Continuaremos levando de goleada na disputa por competitividade. Nossas instituições continuarão desacreditadas e chufurdando na inoperância, com nosso aval de omissão cidadã. Nossa esfera pública continuará a ser privatizada. Nossos cidadãos continuarão a protestar contra a corrupção, ao passo que sonegam impostos e dão um "jeitinho" de driblar ou corromper os agentes do poder público. Nosso poder público continuará arrecadando muito, gastando pouco e mal, numa dinâmica entrópica, mas em fina sintonia com nossa omissão cidadã. Nossos partidos políticos continuarão com suas fontes paralelas de renda, internas e internacionais (não, não é exceção, velhos, novos e novos-velhos partidos). Continuaremos encarcerados, inseguros em nossos pseudo-castelos enquanto lá fora, a pólis cai aos pedaços e recorremos à segurança privada.
Diante do acima exposto, é claro: o resultado da votação sobre o processo do deputado José Dirceu é esmagadoramente desimportante para a resolução dos problemas e contradições disso que chamamos Brasil.
Deixemo-lo ao (dis)sabor daquelas viúvas de 1964, que precisam dele como espantalho eleitoral. Como mártir ou caso exemplar. A pantomima em que o objetivo é matar hoje o velhote que morreu ontem (seja a guerrilha, seja a ditadura militar) acaba por adquirir feições de um "teatro de operações" filo-bélico. Torturadores e torturados de outrora: a eles pertence o "destino" de Dirceu.