“Fuzilamentos, sim, temos fuzilado, fuzilamos e continuaremos fuzilando enquanto seja necessário. Nossa luta é uma luta de morte” ((Che Guevara, na Assembléia Geral da ONU em 11 de dezembro de 1964).
Muito já foi escrito em todo o mundo sobre Ernesto Che Guevara e até um filme foi feito sobre suas andanças pela América Latina antes de se engajar na revolução cubana, bem como, depois, sua fracassada ida ao Congo e, no regresso a Cuba, sua passagem por Praga, onde o Partido Comunista Cubano possuía um apartamento facilitado pelo PC Checoslovaco e, finalmente, em meados dos anos 60 sua passagem pelo Brasil, rumo à Bolívia, onde pretendia criar o Vietnã latino-americano.
Todavia, até hoje, nada foi escrito sobre a documentação que ele utilizou nessa última viagem e para entrar na Bolívia.
Tudo foi arreglado por Rodney Arismendi, na época Secretário-Geral do Partido Comunista Uruguaio, apesar de suas discrepâncias com Fidel Castro.
Arismendi foi, assim, uma das poucas pessoas no mundo que sempre soube onde se encontrava Guevara, pois foi o homem que preparou a viagem de Che à Bolívia. Um militante comunista infiltrado no Ministério das Relações Exteriores uruguaio conseguiu dois passaportes, que foram os que se encontraram em poder de Che quando de sua prisão em Camiri.
Um dos passaportes foi preenchido em nome de Ramon Benitez Fernandez (dado como nascido em 25 de junho de 1921, natural de Montevidéu, casado, e como profissão comerciante) e figura como expedido em 2 de dezembro de 1965, e o outro em nome de Adolfo Mena Gonzalez. As fotos de ambos eram de Che Guevara, porém não como estamos acostumados a vê-lo através de cartazes, fotografias, camisetas – e agora nos rótulos da bebida El Che Cola, recentemente lançada em Marselha, França -, e sim de cabelos curtos com profundas entradas, e de óculos. As impressões digitais em ambos os documentos são autênticas, bem como os passaportes furtados.
Isso significa dizer que Che Guevara esteve em Montevidéu alguns dias apoiando-se na estrutura do Partido Comunista Uruguaio.
Em 1953, quando Che esteve na Bolívia trabalhando como médico, estabeleceu contatos com Paz Estensoro e com o líder sindical Juan Lechin, e esteve com eles quando da revolução de 6 de janeiro de 1953, inclusive fazendo guardas, fuzil ao ombro, no Palácio Quemado, sede da presidência.
Nessa época Guevara, na qualidade de médico, logrou estabelecer vínculos com o Ministério de Assuntos Campesinos, visitou as minas e se informou de todos os detalhes das revoluções bolivianas. Seu ânimo se inspirou quando viu desfilar milhares de homens e mulheres das milícias operárias, armados de fuzis, metralhadoras e bazucas. Ele imaginou fazer a sua revolução com essa gente e essas armas, porém esqueceu-se de que essas pessoas não eram comunistas e sim somente trabalhadores, imbuídos de um profundo sentimento nacionalista.
Embora tenha sido chamado a Montevidéu pelo Partido Comunista Uruguaio, Mario Monge, Secretário-Geral do Partido Comunista Boliviano, se opôs a dar a Che Guevara a chefia da revolução em seu país. Se houvesse uma revolução teria que ser ele, Mario Monge, o seu dirigente político e militar.
Nesse sentido, Che, órfão do apoio do PC e do povo bolivianos às suas concepções da instalação de um foco guerrilheiro, foi preso e morto em 8 de outubro de 1967.
Recorde-se que Fidel Castro, em seu prólogo ao diário de Che Guevara, fez algumas referências ao Secretário-Geral do Partido Comunista Uruguaio, que nessa operação era conhecido pelo codinome de “Simon”.
Em seu diário manuscrito, Guevara, em 14 de fevereiro de 1967 escreveu de próprio punho: “Se me informa, además, que Simon há manifestado su decisión de ayudarnos, independientemente de lo que resuelva el Partido”.
Por certo, ele foi ajudado e seria ainda mais, pois o PC Uruguaio já havia mandado 18 militantes receber instrução de guerrilha em Cuba para combaterem junto a Che Guevara.