Escandalosamente destronados de suas propaladas democracias, os americanos fazem hoje a limpeza do lixo autoritário de Sadam Hussein. Despejaram bombas e mais bombas sobre Bagdá, cidade muito mais antiga do que Nova Yorque, sem se preocuparem com as cabeças dos inocentes, “eventualmente atingidas”, segundo critérios dos senhores da guerra e do mal. Porém, após quase dois anos, a guerra não acabou, embora os americanos imaginem satisfeitos que sim. Para os árabes contrários aos Estados Unidos a guerra continua. As mortes se perpetuam dia após dia, numa guerrilha urbana das mais violentas que a humanidade já viu. Isto porque o árabe não se importa de viver ou morrer. Muito diferente da filosofia ocidental que valoriza a vida na Terra de maneira apegada e fantasiosa. Mesmo que a guerra termine, o que não vai findar é a nossa surpresa ao enxergar doravante uns novos Estados Unidos: um país imperialista, com noções equivocadas de outros povos e com reais ambições de conquistar o mundo. Ou seja: a mesma intenção de Adolph Hitler e de Joseph Stalin.
Mas, a partir do momento em que os americanos deliberaram invadir o Iraque, começaram também a sofrer uma derrocada moral. Isto porque o homem hodierno está mais em sintonia com a sua paz e a paz de outros povos. Isto em qualquer filosofia, ou em qualquer religião que se preze. Para existir paz é necessário existir justiça, além da aceitação de um pouco de humildade. Sempre fazendo amigos e não inimigos. O mundo hoje não aceita mais as barbáries, as tomadas de posições unilaterais, alheias ao pensamento de um mundo mais pacificado. Nosso país, o Brasil, é essencialmente assim, pacífico e amigo de todos os povos, embora vivamos internamente uma violenta guerra social, onde se morre mais gente do que no Iraque, diariamente. Isto acontece em razão das diferenças sociais gritantes e de um exagero que somente os ricos e abastados não enxergam. Mas, acabam enxergando no dias em que acontecem seus dias de cães.
A indústria bélica americana, sedenta de sangue e de dólares, havia caído num pequeno ostracismo depois da derrota no Vietnã. Com a destruição das torres gêmeas reacenderam-se as cobiças desenfreadas daquele passado maravilhoso, cheio de guerras e de dólares. A “tempestade no deserto” no inicio dos anos noventa foi apenas um pequeno aperitivo nos experimentos de novas armas. A desculpa das torres destruídas é um prato cheio para se fazer mais guerras. A diferença está na desmoralização do ataque ao Iraque. Os Estados Unidos da América nunca mais serão o mesmo país de nossos sonhos, que edificaram em Hollywood. Passaram a ser os invasores e destruidores de pequenas nações, além do desacato ao mundo quando não respeitou a resolução da ONU contra o desfecho da guerra. Incluso estão a Inglaterra, a Espanha, a Itália e até a França. A vitória sobre o Iraque certamente que teve um gosto amargo de uma derrota, através da visão agora refeita de que a guerra não acabou para os revoltosos do Iraque, que eles os americanos chamam pomposamente de terroristas. Ora, de que forma se faz terror: através de uma guerra sanguinária, ou de homens isolados destruindo grandes estruturas? Se os americanos amavam tanto as torres gêmeas que procurassem sempre a paz e a concórdia entre os povos, e não o ataque, o policiamento do mundo e outras formas de provocarem a ira de pessoas que não são como a gente aqui do ocidente. São guerreiros milenares de corpo e alma e dão muito valor à morte e não à vida na Terra. E eles certamente têm direito à filosofia que os norteiam ao tipo de vida que levam, sem que americanos e europeus venham interferir.
As indústrias bélicas e as que exploram o petróleo nos EUA têm as mesmas características do parasitismo, mutualismo e comensalismo. Ambas vivem juntas e são como que um mesmo organismo. Para elas a vida humana não vale nada, nem é necessária quando pertence à outra cultura. Só que a arábica cultura não é reciclável quanto à cultura do povo latino americanos. Aqui os americanos deitam e rolam. No oriente dos árabes o enfrentamento e a morte é tão certo quanto o dia e a noite.
Tudo isso leva nosso espírito às lembranças de Karl Marx, Che Guevara e outros guerreiros pensadores do bem, os quais diziam com palavras desencontradas, que o capitalismo só é selvagem quando não se defronta com outro regime à altura de suas forças. Isto explica e muito porque os americanos nunca atacaram a União Soviética em seus áureos dias e hoje, além da cobiça, eles têm muito medo da China. E também não a atacam.
Segundo Galbraith, pensador e defensor da economia capitalista americana “a paz é indesejável. Somente a guerra pode gerar o progresso da civilização”. Anteriormente, Keines, o economista que reestruturou a economia americana no tempo de Roosevelt, dissera de boca cheia: “a guerra é inevitável de tempos em tempos, sendo um dos mecanismos de recomposição e suporte da economia, e que só através de potências beligerantes é que se mantêm as riquezas dos ricos”.
Depois de tanta grandiosidade do pensamento filosófico americano, prefiro ficar com a máxima do Restaurante e Bar Liban – Comida Árabe de nossa cidade, quando colocou uma faixa em frente ao dito estabelecimento, onde se lia: “quanto mais conheço os homens, mais admiro os animais”.
A verdade é que o espírito humano ainda é o mesmo da idade da pedra lascada, em meio à parafernália da globalização. Mata-se hoje como se matava há milênios. E diferentemente dos animais que matam para sobreviver, o homem mata por prazer. Por isso apesar dos milênios não há nada de novo no velho espírito macambúzio e sedento de sangue dos homens, que se dizem novos neste início de terceiro milênio da era cristã. Talvez o esforço de Jesus, de Maomé e de Buda, os grandes mestres do espírito humano tenham sido em vão. Nós continuamos a amar a morte ao invés de amar a vida. E quando digo isto, faço-o com referências à eternidade, porque amar a morte nesta vida é amar a morte eterna. Há uma nítida afeição do homem à morte eterna, e uma nítida rejeição à vida eterna. Porque na verdade tudo isso tem principio aqui neste planeta, dentro de uma roupa espacial que chamamos de “corpo”.