Ex.mo Senhor Primeiro-Ministro:



Como tocar-lhe o conteúdo íntimo das convicções humanas, religiosas e políticas, sensibilizando-o - também de minha parte muito convictamente - no sentido de colocar o seu governo num rumo que empolgue todos os portugueses por forma a ultrapassar-se com uma perna às costas a estranha crise que cada vez mais nos avassala os quotidianos e acinzenta a vida?



Permita-me lembrar-lhe que o seu antecessor, o Durão, o tal que já foi de todas as cores, tinha como literatura de cabeceira preferida a Bíblia. Em consequência lógica, logo que constatou que a tanga abanava de mais e iria poluir-se até mostrar as partes, tratou de "biblializar-se": fez o pacto secreto com o Bush e o Blar, e, pronto, lá está, à cabeça da Europa, servindo fielmente o tirano burlesco Tio Sam, o que decerto desde já lhe garante um "patriótico" cadeirão no trono da história portuguesa, se entretanto os vindouros se esquecerem de investigar as peugadas do dinossauro sem patas.



V.Exa., tal como se "justificou", foi surpreendido pelo enorme buraco financeiro que, "sem conhecimento prévio", herdou dos sucessivos "salvadores da nação", desiderato que imediatamente o obrigou a exercer a proclamada "política-da-verdade", ou seja: concitando os votos dos otários portugueses à esquerda, logrou uma maioria política nunca dantes alcançada pelo PS, e logo numa espectacular cambalhota - eu penso que foi um salto mortal que ainda não está concluído - se voltou para a direita, que de resto é o sítio onde paira o maná dos políticos que se prezam de possuir alguma inteligência factual.



Mas, ó Senhor Engº. José Sócrates, V.Exa. está farto de consaber que essa das "esquerdas" e das "direitas" é uma desgastada cantiga que até o Moisés - também não sabia de nada previamente - usou para conduzir a sua gente à Terra Prometida. Como se constata, alguns milénios após, ainda hoje os seus descendentes andam à procura desse promissor lugar.



Para não saturá-lo com lengalengantes delongas, que até nem valem a pena e desmoralizam enormemente, vou num só relance ao assunto que equaciono sabiamente, presumo: contemple V.Exa., e sobretudo aprofunde, a ilustração animada que anexo a este texto. Se porventura bem aquilatar o efeito, creia Senhor Engº., conseguirá decerto arrancar a bananeira pela raiz e em seu lugar, quiçá, plantar uma excelente pé de marmeleiro. É evidente que vão chamar-lhe, em princípio, uma catadupa de nomes feios, principalmente aqueles que aí andam à sua volta mortinhos para substituí-lo em tão apetitoso lugar.



Terá porventura V.Exa. capacidade para igualar-se, nem que só seja um pouquinho, a um dos mais ilustres e honestos vultos da história portuguesa?... Não custa muito, Senhor Primeiro-Ministro: é só tê-los ou pô-los no sítio como ele os tinha!...