Sempre defensor de um teatro popular, já pela sua origem, já pelos seus pendores poéticos e de recitador mais do popular que do clássico, Sombra do Norte conta as peripécias do I PRIMEIRO FESTIVAL NACIONAL DE TEATRO ESTUDANTIL, EM RECIFE, acontecido em julho de 1958.
A abertura oficial deu-se no “Teatro Santa Isabel”, com a apresentação de Júri Simulado, de Sheakespeare (Desdêmona e Otelo, “O Mouro de Veneza”), protagonizados por Paulo Autran. Vale registrar que os espetáculos realizados no citado Festival eram de acesso restrito aos participantes do evento, devidamente credenciados. Em face dessa elitização da cultura, o povo, data vênia, não conformado com tal medida, pôs abaixo as grades de proteção do “Teatro Santa Isabel” e invadiu o recinto, para assistir ao espetáculo de abertura, num tumulto anarquizante, atirando “chupas” de laranja e ameaçando rebolar para o alto outros objetos.
- “Em meio ao tumulto, por uma feliz sugestão minha”, diz Leão Sombra do Norte, “segredando a um dos participantes do evento que entoasse o Hino Nacional Brasileiro, e os ânimos se acalmaram.”
O povo engrossou o coro e logo toda a multidão imóvel, com a mão no peito, cantava: “se o penhor dessa igualdade / conseguimos conquistar com braço forte...”
Na premiação final do Festival, que recaiu sobre o Grupo de Teatro do Pará, agraciando a peça “Vida e Morte Severina”, de João Cabral de Melo Neto, sabem quem também estava participando desse grupo? – Santana e Silva e Sombra do Norte, do Grupo do Piauí.
Leão do Norte Fontes (o Sombra) conta como foi o encerramento do referido Festival: “Não foi em Recife, mas em Olinda, com uma festa oferecida por um casal (ele estadunidense, ela piauiense). Abriram-se as portas do seu centenário sobradão para abrigar o evento. Havia atores trajando como em cena, dois grupos musicais animavam o baile, que ocorria nos três pavimentos do prédio, enquanto freira dançava com cangaceiro, padre com dama da noite, e outras coisas que tais.”
No I ENCONTRO DE DIRETORES DE TEATRO DO NORTE/NORDESTE, REALIZADO EM NATAL, RIO GRANDE DO NORTE, em 28 abril de 1962, Leão Sombra do Norte teve participação destacada, quando questionou publicamente se o Piauí era filho ou apenas enteado da Nação, considerando a pouca importância que os órgãos federais da área cultural, inclusive o Ministério da Educação e Cultura, dispensavam ao Estado. Por causa dessa provocação de Sombra do Norte, o Ministro, então Oliveira Brito, deslocou-se do Rio a Natal para, entre outras coisas, dar satisfação ao reclamante piauiense. O Ministro travou, então, um diálogo com o teatrólogo Sombra do Norte e lhe disse, com a mão no ombro: “Olhe, moço, a culpa não é do Ministério da Educação e Cultura ou de algum outro órgão do Governo Federal; mas é dos políticos que representam o Piauí no Governo. Quando voltar ao seu Estado, cobre deles para que se interessem mais pelos destinos culturais do seu povo, e você verá se a situação não muda completamente.”
Com a palavra os leitores para dizer se mudou muito, ou se continuamos na mesma.
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*Francisco Miguel de Moura, escritor, mora em Teresina e tem e-mail: franciscomigueldemoura@superig.com.br