Presumido, algo tolo / estava a léguas de pensar / que semelhante parolo / era um mestre sem par.
Segundo registos que por aí cada vez mais abundam, entre verdades e inverdades, nasci no Porto em 13 de Fevereiro de 1906, reinava então em Portugal D.Carlos, mas disso, claro, eu nada sabia. Não nasci sábio. Só 23 anos adiante é que reconhecidamente fui dado como sabedor de qualquer coisinha, em 1929, quando me doutorei em Filosofia Clássica na Faculdade de Letras da minha mui nobre e invicta cidade. Depois, bem, depois calcorreei o mundo para apreender com a pele o conhecimento que em teoria me sobrava. Quantas vezes ri e chorei sozinho ao experimentar deveras o tremendo choque das duas facetas. De regresso e em rápido balanço, concluo que acertei, errei, gozei, sofri e, um tanto farto de viver de mais, aos 88 anos - diacho de número - morri tranquilamente num Domingo de Páscoa, a 3 de Abril de 1994. Agora, que em breve prefará um século que nasci, estou admiradíssimo: afinal, apre, ainda não morri! Porventura, alguns vivos menos desatentos, estarão a relembrar algo do que eu disse ou deixei escrito.
"São meus discípulos, se a1guns tenho, os que estão contra mim; porque esses guardaram no fundo da alma a força que verdadeiramente me anima e que mais desejaria transmitir-lhes: a de se não conformarem. - Agostinho da Silva"
