Ao completar o 30º número, em dezembro de 2005, a revista LITERATURA, editada inicialmente em Brasília e agora em Fortaleza, é realmente a revista do escritor brasileiro de hoje. No meu entendimento ela representa muito bem a “Geração 60”, batizada pela escritora e historiadora da literatura, professora da USP Nelly Novaes Coelho. Quem é o editor da referida revista? Nilto Maciel, um dos melhores ficcionistas brasileiros da atualidade, estreante talvez não em livro mas em jornais e revistas daquela década. Quem faz o conselho editorial da publicação? Batista Lima, Enéas Athanázio, Francisco Miguel de Moura, Jorge Tufic, Leontino Filho, Nelson Hoffmann e Soares Feitosa, do qual o mais novo seja talvez o poeta R. Leontino Filho e o mais velho, o amazonense Jorge Tufic, que provém das ressonâncias do movimento de 45 em Manaus, e em virtude da distância dos centros culturais sulinos só veio a publicar no meado da década de 50. Como bem defini na minha “Literatura do Piauí”, a “Geração 60”, da literatura brasileira, é esteticamente indefinida, em virtude das inúmeras ideologias e correntes literárias/artísticas que viveram seus escritores – sendo assim uma espécie de prenúncio do que seria o “boom literário” que aconteceria no meado dos anos 70. E a revista LITERATURA bem representa aquela geração, como talvez parte desta, pelas matérias divulgadas, pelas idéias de liberdade e justiça, pela luta entre o bem e o mal da política brasileira (e também pela mundial “guerra fria”), numa encruzilhada entre os movimentos sociais e os opostos reacionários da “revolução” de 64. Mas, para nós, escritores, pesquisadores e leitores, interessa mais o que é publicado e a credibilidade de quem o faz. Há uma meia dúzia permanente de colaboradores e há os que o fazem com menor freqüência. Mas a publicação é aberta a quem quiser, desde que tenha boa qualidade. LITERATURA circula dentro e fora do país, de acordo suas possibilidades. E vai para as melhores bibliotecas do mundo. Não é um revistinha apenas do Ceará e do Brasil. As notas sobre os autores, livros lançados, notícias literárias, acontecimentos sócio-culturais e artísticos, etc. e cartas recebidas (com opiniões) são redigidas pelo editor com todo carinho e respeito.
Portanto, não sabe quanto perde quem não lê LITERATURA. Nilto Maciel destaca trechos importantes da carta de um leitor da LITERATURA, de Itaocara (RJ): “Nem sequer uma livraria temos na cidade (...); dias atrás, uma pessoa amiga de nossa família e que residia na vizinha cidade de Cambuci nos deu para ler um excelente, primoroso e magnífico conto de autoria do senhor, intitulado Aqueles homens tristes; nunca tínhamos lido conto tão lindo como esse: ficaríamos imensamente agradecidos se o senhor pudesse nos prestar um grande favor, o que consideramos até uma caridade: (...) enviar para nós a sua antologia de contos e mais alguns livros de contos, crônicas e romances”.“Aqueles homens tristes”, explica Maciel, está no número 27 de LITERATURA, adquirida por seu leitor, quem sabe, em algum sebo – que é uma glória para qualquer publicação.
A arte literária e a revista de que estamos falando são, efetivamente, atos de amor, em busca da libertação do homem e da consciência e justiça na terra, para que a humanidade não morra sufocada na mídia. Temos muitos abnegados nessa tarefa. Nilto Maciel é um deles.
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*Francisco Miguel de Moura, escritor brasileiro, mora em Teresina. E-mail: franciscomigueldemoura@superig.com.br