993300>À guisa de brevíssimo apanhado em súmula histórica, lançando um daqueles fechados olhares genéricos, que muito se abre para dentro - a meditação é uma grande angular - sobre a actualidade portuguesa e num âmplo ápice relacional, Lavoisier surge-me na memória inundando-me o cérebro.
Estou persuadido que o celebérrimo químico francês, que se formou em Direito, mas nunca o exerceu, será um dos afectos intelectuais do nosso primeiro-ministro, que é engenheiro, mas tendeu para a Política. A co-incineração, o TGV e a Ota, são claras emanações de engenharia em detrimento da instante e grave problemática com que o país se debate: há largos anos à deriva, a ponta da jangada está a ser comprimida em todo o seu espaço económico e terá de percorrer o futuro, para fazer jus aos "planos" de Bruxelas, co-incinerando-se a grande velocidade, quer por terra, quer pelo ar. Pelo mar, os submarinos de Paulo Portas complementarão o veloz desiderato.
Ora, "como nada se perde e tudo se transforma" - uma pedra, uma flor / o mais pequeno ser vivo / um pedacinho de amor / tudo-tudo é relativo - dadas as revolucionárias novidades que rasgam de lés a lés o nosso quotidiano, porque não extinguir morgues, cemitérios e serviços adjacentes, passando-se a enviar os mortos directamente para fabrico salcicheiro, sabão e outros úteis produtos para acudir à miséria que nos avassala quase a par do terceiro-mundo?...
Como ao sábio, porque não tenho a mínima classe para ser corrupto, por favor, não mandem cortar-me a cabeça. Triturado, sim, mas inteiro.
António Torre da Guia
Som = Rui Veloso em "Lado Lunar" |