Em regra, o que cheira mal faz mal. Por outro lado, as pessoas se adaptam facilmente a coisas repugnantes. Aí está o mal que pode derivar do convício social.
"Nojo é o sentimento de repugnância que todo mundo já deve ter experimentado por alguma coisa, em geral de aspecto ou cheiro que considera desagradável. Para a epidemiologista Valerie Curtis, da London School of Hygiene and Tropical Medicine, essa é uma emoção básica do homem, uma espécie de "instinto de higiene". No final dos anos 90, Valerie começou a investigar o que causa nojo em pessoas de diferentes países. Ela observou que, apesar de algumas peculiaridades em cada país (por exemplo, na Índica, muita gente se recusa a comer alimentos preparados por uma mulher que esteja em período de menstruação), existem algumas coisas que parecem causar asco praticamente em todo mundo – como fezes, vômito, cuspe, meleca, pus, larvas de insetos, comida podre, para citar algumas unanimidades. Em geral, as coisas que nos causam repulsa são fontes potenciais de risco à saúde. Por isso Valerie está convencida de que o nojo é um mecanismo de defesa desenvolvido pelo homem ao longo de sua evolução para se proteger de doenças infecciosas. O sentimento de nojo estaria gravado no nosso código genético. Já o psicólogo Paul Rozin, da Universidade de Pensilvânia, diz que o nojo não pode ser explicado somente do ponto de vista biológico. Para ele, existe também um forte componente sociocultural – o nojo não nasce com as pessoas, mas elas aprendem com o tempo a ter essa sensação. Uma evidência disso seria o fato de que um recém-nascido leva qualquer coisa à boca, pois ainda não teria desenvolvido a noção de repulsa". (Emoção e inteligência, ed. 8, março/2006, pág. 15).
A observação atenta nos diz que realmente a natureza nos dota do instinto de rejeitar o que é prejudicial. Um recém-nascido leva tudo à boca, porque, como até a sua visão ainda não é perfeita, os outros sentidos também ainda não estão funcionando muito bem. Por outro lado, o "forte componente sociocultural" existe mesmo. E, nesse aspecto, muitas vezes nos adaptamos àquilo que naturalmente recusamos, sempre com conseqüências danosas.
Para exemplo do nosso instinto de defesa, vale observar que qualquer bebê de um ano de idade, a não ser que conviva desde o nascimento com fumantes, se mostra irritado diante de fumaça de cigarro. Ninguém ensinou para ele que o tabaco é uma coisa extremamente danosa, mas a natureza o dotou do instinto de rejeição dessa coisa malcheirosa. Por outro lado, quando um menino vê propaganda de cigarro ou um adulto que admira fumando, ele se esforça por eliminar aquela repugnância ao cigarro e consegue com o tempo achar agradável aquilo que antes lhe era tão repulsivo. É aí que entra o tal "forte componente sociocultural", que, na maioria das vezes, prejudica.
Quando você vê uma pessoa suja e com mau cheiro, saiba que seu corpo está cheio de bactérias. E essas bactérias decompõem partículas de sua pele em substâncias nada benéficas. Se um pedaço de carne se torna malcheiroso e muda a cor em poucas horas de exposição ao ar livre em um dia de muito calor, comer aquela carne faz mal, porque ela está cheia de micróbios que a tornam tóxica. Isso é uma prova de que, quase sempre, quando o cheiro de alguma coisa não nos agrada, é sinal de que aquela coisa nos faria algum mal, e não seria bom nos esforçar por perder essa repulsa. Em regra, o que cheira mal não faz bem, e a perda dessa repugnância é nociva.