Na semana passada eu dizia que no último concurso literário promovido pelo Governo do Estado houve falhas quanto à programação, realização e editoração das obras.
Na verdade, o Conselho Estadual de Cultural tomou conhecimento desse evento pela imprensa. Assim, não houve nenhum parecer ou opinião do Colegiado. O certo seria ter havido consultas pelos órgãos executivos da cultura. Nenhum, sequer, se manifestou. Nem sobre a programação nem sobre os nomes que deveriam compor as comissões julgadoras. E isto é muito sério. Tal como se se fizesse uma eleição política sem a Justiça Eleitoral. Isto concorreu para um resultado canhestro, que não representa o nível cultural dos escritores do Piauí, no momento. Pelas edições, que deixaram muito a desejar, vê-se o desnível entre os primeiros e últimos colocados, entre os poetas e os contistas e romancistas. É certo que houve rigorismo formal. Mas este não foi acompanhado pelo substancial. A edição em dois volumes apenas, dos três romances premiados em cada concurso realizado no governo atual, é tudo o que há de menos aconselhável no terreno da editoração e da indústria do livro, quando se sabe que a despesa para publicá-los individualmente seria praticamente nula. Edições assim são intransferíveis para pessoas e entidades fora do Estado, pois sabem todos que lutam com o produto quanto se gasta em porte do Correio. Os autores ficam impedidos de cumprir as exigências legais das quais os editores se furtam, e muito mais o Estado, como sejam mandar um volume para a Biblioteca Nacional e outro para o Registro dos Direitos Autorais. Dessa maneira, daqui a dez anos essas obras são praticamente inexistentes.
Que terá sido feito nas outras áreas: teatro, dança, música, artes plásticas? Onde as feiras de arte, de ciência, os festivais de música, os prêmios de dança? E a criação de museus e bibliotecas? E a manutenção de casas de cultura? E os sítios, monumentos, prédios do patrimônio público quando vão ser tombados?
Do cinema, nem falemos: – é uma arte muito cara, muito mais para o grande público. Só que o público das artes jamais se sujeita a votos marcados. São independes e conscientes. Esse público não serve aos interesses da política, dos mandantes do momento, dos capitães de indústria, e estes não se tornarão mecenas sem os incentivos fiscais. A cultura passa também pela gestão desses incentivos e sua fiscalização.
O intercâmbio cultural estreito entre escolas e universidades é necessário, assim como com as áreas de ciência e pesquisa, através de seus órgãos competentes. Com a educação, de modo geral, tem sido feito pelo Conselho através dos seus quarenta anos de existência. E não raro transforma o espaço e o tempo de suas seções em fóruns de debates com entidades e professores sobre os mais diversificados problemas. Porque, quem pensa melhor, sabe que a educação tem ligação mais que estreita com a cultura, gêmeas que são. Como haverá gente culta sem que essa mesma gente seja educada?
______________________________
*Francisco Miguel de Moura, escritor brasileiro, mora em Teresina. E-mail: franciscomigueldemoura@superig.com.br