Ao redor da Câmara Municipal da "mui mobre e invicta cidade" a poeira a sério dança, revolve-se sob os rodados dos milhares de viaturas que circulam, a maioria delas, inutilmente, com os respectivos condutores a vituperar sobre a calamidade que empalidece o brilho ao seu dilecto brinquedo. Até se esqueçem que o pó, em tais circunstâncias, dá um sinal prévio de trabalho santo.
Cerca de uma centena de estóicos e diligentes operários, distribuídos nas zonas fulcrais da obra, no decurso do mês de Abril, de noite e de dia, à chuva ou ao sol, suam às estopinhas, suor daquele que conforta a alma quando o pão nosso de cada dia cai farto e belo à mesa da mulher e dos filhos.
O centro da cidade lembra-me um gigantesco equino à desfilada, indiferente à bicharada miúda que insiste e persiste meter-se onde não é chamada, espécie de furacão laboral que tem imensa pressa de chegar e lograr algures.
Não uso chapéu, mas descubro-me e curvo-me reverentemente em face dos homens que me enchem de orgulho por ser portuense e português à borda de um rio que agora corre torrentoso, mas impecavelmente tranquílo.
Torre da Guia / Porto |