A Revista SUPERINTERESSANTE de abril/2006 divulgou o resultado de uma enquete com pergunta: "Sonhos podem predizer o futuro?", onde, dos que responderam, 65% acham que sim e 35% acham que não. Essa crença de que os sonhos revelam o futuro é antiga, mas não vejo confirmação fática disso.
Em tempos em que analisava muito os próprios sonhos, constatei que uma pequena percentagem deles coincidem com fatos supervenientes, e a grande maioria não vão além de reflexos de nossas relações com o passado e o presente, derivando de nossas lembranças, desejos, preocupações, etc.
Outra constatação foi que a maior parte dos nossos sonhos são esquecidos; entretanto, um fato que coincida com algum deles, mesmo entres os que não lembramos, o traz imediatamente à lembrança. Assim é que alguns deles parecem ter sido previsões do estava para ocorrer.
Já ouvi pessoas que diziam ver em sonho acontecimentos futuros, muitas vezes, falarem coisas como: tive um sonho com tais e tais coisas, que indicam maus acontecimentos; ou sonhei que fulano morreu; ou sonhei que ocorreu um grave acidente com tal pessoa, ou em tal lugar; um tanto de coisas; e nada ocorria que tivesse qualquer ligação com os conteúdos de seus sonhos. Entretanto, uma vez ou outra, um fato se aproximava de algo que elas haviam sonhado; ou, o que mais ocorria, elas diziam ter-se lembrado de um sonho que seria previsão de algum acontecimento. Analisando-se, tudo indica que o que ocorria com essas pessoas não era diferente do que se dava comigo. Entre a multiplicidade de atos e fatos do dia-a-dia, alguns coincidiam com seus sonhos.
No dia 11/09/2001, ao ver pela TV as cenas das torres do World Trade Center se queimando e até pessoas se atirarem pelas janelas, me veio à lembrança que, em um dos meus sonhos, eu estava em um prédio, pelo lado de fora, e pedia ao meu pai, que passava próximo, para me ajudar a alcançar uma escada para descer. Se não tivesse ocorrido aquele grave atentado, eu poderia nunca me lembrar de tal sonho. Vários outras vezes me ocorreram lembranças de sonhos ao ver fatos que tinham alguma coisa parecida com o que eu sonhara.
Naquele ano eu até escrevi um artigo intitulado "PREMONIÇÃO OU SONHOS DEMAIS?", explicando por que algumas pessoas pensam ter previsto fatos.
Em março de 2003, sofri meningite e passei uns dois anos com um grave problema de memória, havendo período de quase total esquecimento, lembranças distorcidas e sonhos absurdos. Nesses dias, em todos os sonhos em era uma criança com idade entre oito e dez anos. Eu anotava de manhã o pouco que lembrasse dos sonhos e apresentava aos psiquiatras e psicólogos, os quais nada me diziam sobre o que poderia ser a origem desses sonhos. Hoje, acho que ser um menino refletia a minha sensação de incapacidade que tinha naqueles dias.
Recentemente, a Revista SUPERINTERESSANTE trouxe um artigo que confirma muito das minhas conclusões:
A psicóloga americana Mary Calkins, no artigo Estatística dos Sonhos, publicado em 1893, informa que "descobriu, entre outras coisas, que a maioria dos sonhos acontecia na segunda metade do período de sono e que 89% dos relatos tinham relação direta com os eventos do dia anterior" (SIPERINTERESSANTE, março/2006, pág. 57.
"Freud apontou os sonhos como uma "via régia" ou "estrada real" para o conteúdo oculto em nossas mentes. À noite, depois de fechar os olhos, deixamos aflorar os desejos que reprimimos quando estamos acordados. Mas isso não acontece de forma direta - quem deseja cometer um crime, por exemplo, não adota necessariamente um comportamento ilegal no sonho". Também explicou que "um marido infiel pode não sonhar com a amante, mas com as cortinas do quarto de hotel onde se encontram" (idem).
""Para Jung, o sonho é um mecanismo compensatório da psique, e a realização de desejos reprimidos é apenas um aspecto dessa compensação", diz a psicóloga Marion Gallbach, da Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica".
Maior prova de que o sonho reflete conteúdo das nossas lembranças e o que imaginamos é que:
"Quando uma pessoa nasce cega e não tem referências visuais, os sonhos são recheados pelos outros sentidos, como a audição. Mas ela pode formar imagens mentais relativas ao espaço, assim como consegue perceber os caminhos por onde anda durante o dia. Já quem nasce com a visão em ordem e fica cego mais tarde pode ter sonhos com imagens durante a vida toda" (idem). Deve ser muito comum eles sonharem que recuperaram a visão.
A minha conclusão é que, se dois ou três de uma centena de sonhos têm semelhança com alguns fatos posteriores a eles, isso não é suficiente para concluir que sonho seja presságio de futuros acontecimentos, mas sim que coincidem com os fatos assim como um jogo de loteria de uma ou outra pessoa pode coincidir com um resultado quando ele poderia sair de cinqüenta milhões de formas diferentes. Quanto mais se estuda o assunto, mais se aproxima da certeza de que os sonhos são produtos das nossas experiências, nossas preocupações, nossos desejos, nossos medos, nossas dúvidas, mas nunca têm a capacidade de dizer o povir.
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