João Dias foi pessoa de empolgante vertigem sobrevivente, ora de aúreas celestes, ora de abismos horripilantes. Em calão corrente, para que bem se entenda o género pessoal de um dos maiores poetas do fado clássico, era daqueles que "não chupava grupos nem os engolia". O seu fim de vida foi assaz dolorido e cruel.
O miserabilismo fadista - há-o para além de quanto Vitor Hugo abarcou - não lhe perdoava a irreverência e explorou-lhe a musa e a poética caveira até aos mais esconsos processos da predação humana: por 16 ou 18 versos, um copo de vinho.
O fadista Rodrigo, que é um espertalhão néscio que às vezes aparece na televisão armado em entendido eloquente - algo de sub reptício muito parecido com o "vómito João Braga" = "O Estraga-o-Fado-Nacional - foi dos que mais humilhou e martirizou o invulgar vate fadista. Com aquele seu peculiar sorrizinho pulhante, afirmou: "Oh... O João Dias, era um grande poeta, mas, ao mesmo tempo, era muito mauzinho". Eis pois evidenciamente neste pormenpr de somenos a consciência a desculpar-se pelas frinchas do esgoto. Quantas vezes ouviu o Leitor esta espécie de arremesso por trás das costas do morto? Que coragem!...
Tramou-lhe o fim da vida? Esmagou e submeteu o poeta com esmolas de "lana caprina", mas não tramou a ovelha negra, escorraçando-a do redil. Também não tramou a memória. Nem ele ou João Braga, nem ninguém, trama a memória! A prova disso ? Está nesta simples mas incisiva referência.
Pelos versos que já adiante tenho todo o gosto em inserir, imagine-se a dimensão intelectual de um homem que foi vítima dos necrófagos do Fado: |