Se tivermos em devida conta que, ao longo dos séculos e no que à humanidade concerne, a mesma coisa repete-se incessantemente como se fosse novidade, facilmente nos intimizamos e convencemos de que um objecto só se mexerá se deveras lhe tocarmos.
O que é que andiantava, no anterior regime político, falar ou escrever sobre o que estava mal? Sequer até se tinha a liberdade plena de fruir esse privilégio.
Hoje, em Portugal, pode-se falar e escrever livremente, só que, a mesma coisa continua e continuará, pior ainda, enquanto não se lhe mexer para mudá-la de sítio.
Para eliminar a cabeça ao antigo regime bastou tão-só colocar um canhão defronte a São Bento e invadir a Televisão, sacudindo os arregimentados papagaios que dominavam o painço.
E agora? Agora é um pedaço bem mais complicado. O regime que actualmente nos desgoverna transformou-se em meia dúzia de sofismáticas pirâmides onde os vértices hipocritamente se sustentam a xafurdar nos privilégios que sanguessugam do esforço daqueles que deveras trabalham.
Diariamente, dez milhões de portugueses vêem televisão e a maioria deles presume que está a ver alguma coisa... Todavia, como se constata, nada vêem e os poucos que vêem, para não vomitarem os miolos, fecham o televisor. Assustam-se com o abismo que se lhes depara...  |